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[Era a certeza de que havia honra nas arquibancadas, independentemente do resultado do jogo.
Fôrça Flu era algo como um escudo moral de suporte ao time e à torcida nas arquibancadas, com astúcia, ritmo, e coragem.
As festas não eram lindas por si somente, mas um símbolo do suor e da paixão daquela rapaziada. Isso em total sintonia com a redemocratização.
Era tão ou mais importante pra ser Fluminense, quando comecei a ver futebol, do que o próprio desempenho do time.
Aqueles caras jovens com camisa verde escura e o escudão bordado, na camisa escrito FÔRÇA, era uma turma da pesada. Não tinha história de gol sofrido, não.
[Parece que o Zezé, sei lá por quais motivos, exerceu uma jornada de autopunição, flagelação, à sua paixão pelo Fluminense.
Mas as paixões nunca morrem.
Podem ficar na penumbra, esquecidas meio sem querer, mas terão seu lugar no inconsciente.
E ele é matreiro: quando menos se espera, os sentimentos afloram sem controle.
[A torcida marcou uma greve, não era para ninguém entrar no jogo. Cheguei tão cedo que o piquete ainda não estava formado.
Comprei meu ingresso e embarquei na geral.
Era um túnel grande escuro, que de repente descia e caía em frente ao palco do futebol.
Fui para trás do gol. Havia uns cinco ou seis em todo o anel.
De repente o Seu Zezé entra, vira à esquerda e me encontra. Fala comigo, pergunta meu nome, eu tinha doze para treze anos. Então explica que vai ter uma greve e pede a adesão na próxima partida, mas diz pra mim que eu sou tricolor de verdade, porque só um tricolor estaria sozinho atrás do gol na geral diante do que o Fluminense vivia – era um tempo brabo.
Ele agradeceu, foi embora, achei o máximo um líder da torcida dizer que eu era tricolor de verdade. Não tenho uma foto, nada, apenas uma imagem de 38 anos que me vem perfeita à vista neste quarto escuro e cheio de problemas. O Seu Zezé estava sempre na TV, tinha o Seu Antonio e também o Seu Armando, que já era um senhor. Eles debatiam com o Niltinho e o Luís Carlos, o Russão e o César Amâncio.
A vida é feita de encontros. Entrevistei e conversei com Seu Armando várias vezes. Amâncio acabou sendo um de meus melhores professores na UERJ. Antonio virou meu amigo. O Luiz, que era Luizinho, já era.
Faltou o Zezé, mas em algum lugar do Brasil, talvez, ele possa saber que a sua conversa com um garoto de doze anos ajudou de alguma forma o Fluminense a ter um livro de quinze mil páginas.
O livro dos dias.
[Onde foram parar aqueles caras da pesada com as camisas verdes grossas e o escudão do Fluminense no peito?
O TRIO é uma livre adaptação literária de conversas eletrônicas entre Antonio Gonzalez, Luiz Alberto Couceiro e Paulo-Roberto Andel. Gonzalez dispensa apresentações. Luiz é professor e coautor de “Pagar o quê?”, considerada a maior defesa institucional literária da história do Fluminense. Paulo edita este PANORAMA e é autor/coautor de 16 livros sobre o Tricolor.
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