Wendell, Miranda, Moisés, Edinho e Carlinhos. Ou Wendell, Miranda, Ademilton, Edinho e Rubens. Teve o Ricardo Longhi também. Marinho Chagas. Tadeu na defesa. Pode ter sido qualquer uma destas formações ou não.
Quando comecei a entender o que era ser um torcedor, meu primeiro goleiro era Wendell. Não só no Fluminense, mas no meu time de botão. O time andava mal, coitado: só ganhava a Teresa Herrera em três anos, mas imaginem vocês que a torcida reclamava muito tendo em campo aquela turma lá de cima e mais Pintinho, Doval, Mário, Fumanchu, Nunes, Zezé, Cléber. Não era Wellington, era Pintinho, compreendam por favor.
Veio do Botafogo. Por pouco não foi o titular na Copa de 1974. Ele era a elegância, a categoria. Às vezes jogava com uma bela camisa verde, às vezes de branco, às vezes com a camisa chumbo que, tempos depois, ele passou para Paulo Goulart.
Então a gente não ganhava. Três anos sem título. Gozação no recreio da escola. Aí o Fábio, ou o João Bruno disparou: “A gente tem o Wendell”. Os gozadores se encolhiam. Sabiam que o gol tricolor tinha um titular à altura da velha escola tricolor, que fundou a Seleção Brasileira com Marcos Carneiro de Mendonça. E pra não perder o costume, foi também campeão do mundo pela Seleção, como preparador de goleiros em 1994, ao lado de outros símbolos do Fluminense como Carlos Alberto Parreira e Branco.
Uma vez teve um Fla x Flu, 1979. Wendell era uma barreira, o inimigo a ser vencido. Agarrava demais. Ele se machucou e teve que entrar o Renato, às pressas, sem aquecimento. No primeiro lance, tomou o gol por entre as pernas e a torcida saiu ensandecida do Maracanã. O que doeu foi sentir que não perderíamos com Wendell em campo, era uma sensação permanente. Ele era que nem o Lessa na letra de Gilberto Gil: um goleiro, uma garantia. Roberto o respeitava, Zico e Mendonça também.
Coloquei Wendell no gol do meu Estrelão muitas vezes, mesmo quando ele já não estava no Flu. Colecionei seu cartão de Futebol Cards. Eu o imitei em defesas de duplas de praia em Copacabana, vazia e escura, ainda sem iluminação.
Por três anos, eu o vi em partidas desertas de gente ou com mais de 100 mil pessoas.
Tinha o Wendell, o Renato e o Paulinho Goulart. Meu pai o adorava.
Tem um silêncio tão forte aqui agora que praticamente vejo no teto os domingos de 1978, a elegância, a segurança. Wendell era uma garantia. Chegou a hora da despedida, mas a história já estava eternizada. Quem foi garoto do meu tempo sabe o que o Fluminense está nos falando, ou quem se lembra de Jorge Curi narrando “AGARRRRA WENDELLLLL MO-NU-MEN-TAL-MEN-TEEEE!”. Havia o velho Maracanã e a felicidade.
estava nesse fra-FLU, achei que naquele momento perdemos o jogo
Eu era bem garoto, mas vi Wendel jogar. Um grande goleiro. Muito melhor que o Renato, que ficou paradão no gol de bicicleta do Russo, do Corinthians, naquela semifinal fatídica de 1976. Merecíamos disputar o título com o Internacional.
Siga em paz, Wendel!