Violência! (por Paulo-Roberto Andel)

VIOLÊNCIA

Dona fifa mandou, os estádios estão uma beleza, nada que uns bilhõezinhos não funcionem, aí estão as fantásticas arenas sem touradas onde torcedores podem deliciar-se no meio de campo a duzentos reais por ingresso. O Brasil é o país do futuro, do presente e de um passado pesado pacas. Business is business.

No entanto, um fardo também pesado continua nos arredores dos campos oficiais de futebol do Brasil, necessitando da presença do Estado – claro – mas também da pressão dos clubes e de quem mais tenha a ver com o mundo da bola.

A violência.

Quarta-feira passada, um jogo que tinha tudo para ser tranquilo, sete e meia da noite, pouco público, um quarto de campeonato, o Fluminense enfrentando o Vitória no Barradão. Dentro de campo, paz e briga pela bola. Fora dele…

Bandidos que se travestem de integrantes de torcidas organizadas – favor não confundir as bolas! As torcidas organizadas são fundamentais ao futebol –, provenientes do Vitória, atacaram diversos torcedores do Fluminense, tudo bem noticiado abaixo na coluna do nosso companheiro Marcelo Vivone.

Um caso foi mais grave: um jovem de 20 anos, filho do presidente de uma das torcidas mais queridas do Fluminense no Nordeste – a Axé-Flu -, roubado, agredido e o pior: tudo aconteceu com a completa anuência da polícia baiana a testemunhar o evento criminoso. Tudo pode piorar: “torcida de fora tem mais é que tomar porrada!”. Eis o Estado dando uma porrada em sua própria cabeça oca.  Onde está ACM mesmo? Que o inferno lhe seja apraz.

Em tempos onde filhos matam pais e vice-versa, os ausentes da realidade podem achar isso tudo natural. Mas não é. Não ao menos para as pessoas normais e minimamente ponderadas.

O negócio futebol está uma beleza. Lucro, TV, marketing etc. Mas é bom que as classes empresariais não se esqueçam de mísero detalhe: tudo isso está dentro do Estado. Que bom: lindas praças de futebol, modernidade, mas se não houver segurança dentro e fora delas o futebol brasileiro será um palco de “elefantões brancos” – no caso do Rio, há anos não temos mais de 45 mil torcedores presentes a campo; o novo Maracanã aí está, mas é preciso recobrar o público perdido nos anos de seu fechamento. Torcida faz parte do espetáculo, mesmo que alguns homens de televisão detestem isso. E para a torcida se empolgar a vir em massa, como o nosso futebol pode e merece, é preciso haver conforto, estrutura, mas também segurança.

Ah, a segurança não é obrigação da organização…

NÃO?

COMO NÃO?

Pressionar o Estado. Garantir as condições ideais para o ir e vir das pessoas. Quem organiza o espetáculo tem obrigação de interagir com as autoridades constituídas a respeito.

Domingo tem Fla-Flu. E sinceramente eu espero que o Rio não repita as abomináveis cenas de quarta-feira passada em Salvador.

Hora de dar um basta nessa violência estúpida, imbecil, quadrúpede e que nada tem a ver com estádios de futebol. Mera imposição de meia-dúzia de bandidos que ainda malversam os nomes de diversas torcidas organizadas em todo o Brasil. Bastava a polícia fazer sua parte e tudo estaria resolvido. Mas não faz como deveria.

Hora de deixarmos de lado a ineficiência tupiniquim. Antigamente, o torcedor era tratado que nem gado nos estádios: governantes fascistas entendiam que não precisava de nada porque “era tudo pobre” (terrível imaginar um país tão atrasado mentalmente décadas atrás). E agora?

Muitos “pobres” continuam nos estádios. Domingo vai ser assim. Quem é sócio do Flu comprou seu ingresso por vinte pratas. Do outro lado, a mesma coisa. O mundão dos ingressos a duzentos reais é que vai ficar ao léu – ou com convidados 0800, ávidos por serem vistos e verem. E mais: pobre ou rico não importa, a segurança deve ser para todos.

Oxalá o primeiro Fla-Flu no novo Maracanã não repita os detestáveis crimes de Salvador.

A violência é uma merda.

Exatamente o mesmo composto químico dentro da caixa craniana de quem a pratica.

E de quem a tolera com sarcasmo ou deboche.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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