Depois de semanas de especulação, idas e vindas, confirmou-se o nome de Vanderlei Luxemburgo como o novo treinador do Fluminense. Ou talvez até mais do que isso, dado que o referido profissional não costuma limitar-se ao trabalho técnico-tático das equipes por onde passa.

Inês morta, convém lembrar alguns fatos importantes para o bem e o mal.

Primeiro, VL sempre respeitou o Fluminense em suas inúmeras declarações na vida profissional – e lá se vão 25 anos. Sempre!

Conhece o terreno: trabalhou em nossa base antes da fama. E nos profissionais, efemeramente. Tanto sabia que depois montou o time do Bragantino que seria campeão paulista e vice brasileiro (aí, com Parreira) em cima dos nossos jogadores mal-aproveitados: Gama, Franklin, Sílvio, João Santos.

Conhece bem o terreno: pelo menos em duas oportunidades viu a força do Fluminense a metros em campo. Em 2010, treinava o Atlético Mineiro, fizemos 5 x 1, ele caiu e decolamos para o título. De 1995, todo mundo já sabe.

Apesar de nenhuma grande conquista nos últimos nove anos afora estaduais – também importantes a meu ver, claro, mas pouco relevantes para parte de uma torcida que tem a obsessão da Libertadores -, é um treinador de ponta e tem uma carreira mais do que vitoriosa. Capaz de mudar o andamento do jogo com uma única substituição. Ainda o é.

Mas também é o mesmo VL de inúmeros imbroglios jurídico-criminais e confusões tributárias mil – da manicure ao Leão (não o treinador). Ou a barreira do inferno para juniores promovidos ao time profissional. Ou o caos na lida com estrelas dos elencos.

Em suma, muito do que o Fluminense parecia querer longe das Laranjeiras.

Aqui cabe o genial artista plástico Enrico Bianco, recém-falecido: “A única coisa importante no homem é a sua contradição”.

Onde VL chega, o mercado da bola se aquece em termos estratosféricos.

Mas não num primeiro momento por ora: topou um salário baixo em relação ao seu histórico, um contrato curto (até o fim do ano) e provavelmente fará de tudo por uma vaga na Libertadores – com tal respaldo, ai sim os reforços para o grande projeto podem chegar em massa.

De toda forma, não é surpresa que surjam nomes de imediato para o time. Mais tarde, dando tudo certo, o pacote.

Era preciso uma mudança e ela veio. Abel merece tudo, sabemos. Agora virou outra história.

Para muitos, VL está longe de ser o nome ideal. E, num mercado escasso, qual nome seria mesmo o ideal dentre os disponíveis? Nenhum, talvez.

Hora de ver o que o “professor” tem a dizer e mexer para o Fluminense reconquistar seu lugar subitamente abalado.

Independentemente de minhas restrições pessoais, que nada importam aqui, quem vem para o Fluminense sempre tem a minha torcida pelo melhor. E assim farei.

Que o time vai melhorar em campo, disso não tenho a menor dúvida. O profissional de futebol como treinador é inquestionável; já a pessoa que vem junto é outro negócio (sem trocadilhos – com trocadilhos).

Uma preocupação? Duas?

Sim. Na verdade, muitas.

Mas também será engraçado ver Vanderlei com seu linguajar carregado de concessões hilariantes fazendo alguns narizes torcidos pelos corredores o tempo todo. A empáfia que, às vezes, beira o melhor humor é uma de suas marcas, mesmo involuntariamente.

Reitero: Vanderlei respeita o Fluminense, sempre respeitou (mesmo sendo um rubro-negro notório) e sabe do que irá enfrentar.

Ora oposição de parte da torcida e dos sócios, tudo o que de alguma forma sempre impediu que trabalhasse em Laranjeiras depois de consagrado, tudo com os devidos motivos, toda a razão. É um desafio – e não custa nada ser justo: VL nunca fugiu de desafios.

O pacote pode ser pesado adiante. Bem pesado.

Mas Vanderlei não é Muricy.

Sabe muito bem o que somos e representamos. Sempre soube. E talvez por isso tenha aceitado.

O Fluminense pode ser tanto seu canto do cisne quanto fênix. Que o melhor suceda.

Estão rolando os dados.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri