Começou o campeonato brasileiro e prossegue a Copa do Brasil neste 2014. Eventuais tropeços podem acontecer – e são normais -, mas o fato é que o Fluminense de hoje em campo é bem mais animador do que o de semanas atrás. Futebol é um sopro: do caos à liderança, às vezes a distância é de meio metro.
Vivemos um momento de reconstrução neste fim de abril. Com a chegada de Cristóvão, em campo o time tomou outra forma, mostrou novo conjunto, jogadas, inteligência. Ninguém deve se iludir com o fato de que não precisaremos de reforços: primeiro, a janela de transferência pode subtrair nomes importantes; segundo, para manter o ritmo e a pegada será preciso ter outros jogadores além dos que já dispomos – e nem precisam ser caros, basta saber trabalhar e pesquisar: o exemplo do Ituano está aí vivo para todos. De toda forma, o Fluminense está em seu melhor momento desde o pavoroso segundo semestre de 2013 – ou melhor, se pensarmos bem, podemos recuar até novembro de 2012.
Historicamente ofendidos pelos meios de comunicação, o Fluminense e sua torcida precisam usar a inteligência para que não sejamos todos juntos os maiores prejudicados. Sem discursos otimistas do estilo Pollyanna, o que quero dizer é que penso ser mais inteligente deixarmos de vez rusgas de lado em prol daquilo que é a nossa paixão, o objetivo destas linhas, deste site e de tudo o que cerca o Tricolor. Temos inimigos demais para alimentarmos discussões inúteis dentro de nossa própria torcida. Precisamos estar juntos e fortalecidos.
A imprensa esportiva marrom (IEM) espera que o Fluminense erre numa vírgula, num parágrafo, o suficiente para que venha com todas as suas forças malignas em cima das nossas cabeças. Ela é persistente, vem de décadas e está muito preocupada com a possibilidade de eventualmente conquistarmos o pentacampeonato brasileiro (em cinco edições, o que nem todos podem comemorar) ou a Copa do Brasil novamente. Para isso, ela mente, subverte, estimula rixas, brigas, entraves.
Em menos de cinco meses, a IEM já nos rebaixou, insinuou criminosamente que subornamos a Portuguesa (um ato de completa imbecilidade matemática), articulou a debacle política do clube, nos agrediu estupidamente em redações, estúdios e manchetes, garantiu Fred fora da Copa do Mundo por contusão, garantiu Fred no exterior largando o time, insuflou as classes econômicas da arquibancada em disputas entre si (quando o Flu baixou os preços dos ingressos, buscando trazer mais torcida para o Maracanã), estimulou o péssimo conceito de marginalidade na estampa de uma torcida que tem 99,99999% de pessoas pacíficas e de bem, tirou a patrocinadora do clube a fórceps e luta dia após dia até conseguir seu sonho: ver o Fluminense desabado, derrotado e sem esperanças.
Não há a menor sombra de dúvidas de que existem problemas. Contudo, resta saber como devemos lidar com eles.
Oposição não é destruição. Ninguém cura uma simples tendinite nos membros com amputação sumária.
A arquibancada deve banir por completo atos de violência, mas nem por isso deve servir para deslumbradas arrogâncias elitistas. Polícia para quem comete crimes e liberdade para quem respeita a lei, pouco importando se o caso é de um membro de torcida organizada, de movimento, avulso, amorfo, qualquer coisa. Não me venham com histórias de bonzinhos x malvados. Não cheguei agora no ônibus. Há muito mais em jogo do que uma simples dicotomia. Relações de dinheiro, poder e política. Não é hora de passar a mão na cabeça de quem estiver do lado do crime e nem de atender clientelismos caboclos.
O Fluminense é de todos: do gordo (como eu), do preto (como eu), do favelado, do rico, do bem nascido, do brega, do sofisticado, do peão, do empresário. Somos grandes demais para cabermos na ilusão de que viveremos no planeta Lollypop, onde tudo é perfeito e belo e de que haverá uma verdade única, suprema, determinada por um pequeno comitê seja ela – ou ele – qual for. Quem diz conhecer a receita disso, queira me desculpar, prima pela ingenuidade. Se a meta é ter quarenta ou cinquenta mil tricolores nas arquibancadas, trata-se de um jogo de futebol com torcida e não uma missa.
Com inteligência, saberemos lidar com respeito entre as diversas partes. Já que temos divergências pessoais – o que é normal -, é preciso entender que elas ficam muito pequenas debaixo do eterno bandeirão das três cores que sempre enxergamos de alguma forma acima das nossas cabeças num jogo com casa cheia.
Dentro do campo, jogadores que mal caminhavam hoje voam. Um time que mal conseguia trocar dois passes agora toca a bola e bate recordes de posse de bola. Quem sempre errava está sendo aplaudido pelo esforço e por boas jogadas. É tudo coincidência? Não. Chegou um novo treinador, o ambiente mudou e, ainda que seja cedo para comemorar as vitórias sobre Horizonte, Figueirense e Tupi, é bom que se diga: no Brasileiro 2013 e no Carioca 2014, havíamos enfrentado adversários do mesmo teor e não tivemos sucesso. Dentro de campo, há indícios de que temos um grupo homogêneo formado. Hora de fazer o mesmo do outro lado do alambrado – ou seria mureta?
Que tal refazer os tempos da velha nuvem de pó de arroz? Todo mundo junto, gritando “Nense!”, pouco importando a bandeira mais bonita ou quem é “mais tricolor” (ridículo por si somente). Somos uma só torcida. Somos o Fluminense jogando junto nas arquibancadas. Que cada um tenha seu jogador preferido, seu treinador preferido, sua camisa preferida e que saibamos respeitar a vocação centenária do público unido e abraçado em prol do Fluminense. É uma lição que veio dos tempos de Álvaro Chaves. Fora da nossa arquibancada e do nosso clube, já tem gente demais trabalhando para nos sabotar, até que cheguemos às ruínas.
A inteligência é uma espécie de bandeira do Fluminense que carregamos na alma. Saibamos desfraldá-la. Empáfia e arrogância não levam a nada – o cemitério está cheio de seus portadores. Juntos, podemos ajudar este time a ir muito mais longe do que pensávamos até cinco ou seis postagens atrás.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: taringa.net
Prezado: Paulo Roberto Andel
Voce é simplesmente o conca das palavras, o nosso ” conquinha “, carinhosamente e admiravelmente respeitado e muito querido por nós Tricolores.
Voce coloca as palavras de forma inteligente , sempre leio os seus textos e sempre paro para refletir, Vc é o nosso camisa ” 10 “, das palavras.
“A inteligência é uma espécie de bandeira do Fluminense que carregamos na alma. Saibamos desfraldá-la. Empáfia e arrogância não levam a nada,leiam Peter, Barros…
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