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A CORNUCÓPIA MÁGICA
No (aparentemente) longínquo ano de 2016, publiquei no site do extinto MR-21 um texto exatamente com este título, onde tentava entender, me valendo de um inicial comparativo mitológico, as desgraças que estavam se abatendo sobre o nosso amado Fluminense, principalmente a má gestão de seus recursos financeiros e a desídia de alguns jogadores e muitos dirigentes para com o trabalho.
Além dos relatos sobre a Cornucópia Mágica (e o Velo de Ouro, também associado à mesma cabra Amalthea, protetora de Zeus), me lembrei de outros relatos de paraísos onde haveria vida sem esforço e abundante de fartura e riquezas. Citei o Jardim do Éden, Canaã (“a terra de onde brotam o leite e o mel”), Shangri-lá, Eldorado (“A Cidade de Ouro”), e os paraísos tropicais do achamento, como o nosso (nosso?) Brasil. Em todos, a transformação do trabalho em algo desnecessário, ou até mesmo vil. Qualquer semelhança com a escravidão associada ao colonialismo é e não é coincidência. Pois é de TRABALHO que quero falar, e é a partir daqui que praticamente repito meu antigo texto, com as atualizações necessárias e retirando passagens que, hoje, me parecem pouco necessárias.
Os primitivos agrupamentos humanos já possuíam algum tipo de partição de tarefas. Os mais fortes caçavam, os menos fortes coletavam, os fracos eram, até, abandonados à própria sorte, principalmente nas sociedades nômades. Mas já havia a ideia básica de que a sobrevivência dependia de algum tipo de esforço, de alguma colaboração para com o coletivo.
Com o aumento da complexidade dos agrupamentos humanos, a partilha das tarefas não era mais algo instintivo. Era fundamental para a sobrevivência da coletividade. A agricultura passou a fazer parte das atividades, para que não se dependesse da coleta, muitas vezes incerta. Surgiram as relações comerciais. Cada agrupamento que produzia em quantidade maior do que necessitava passou a dispor de algo para trocar com outros agrupamentos, muitas vezes com vantagens que se transformavam em riqueza, mesmo que incipiente. Com isso, o contato comercial abriu portas, mas que também serviram para constatar semelhanças e divergências, que geraram simpatias e ódios, que geraram fusões e guerras, que… Paro por aqui.
Volto à ideia básica do trabalho e da riqueza. Não vivemos mais no planeta demograficamente vazio onde poderíamos, com sorte, tropeçar em uma pepita de ouro, em um diamante ou na tal cornucópia mágica. Precisamos trabalhar, e não viver da exploração do trabalho alheio. É a partir do trabalho que geraremos as riquezas e dela desfrutaremos uma parcela, de preferência justa para recompensar o nosso esforço. É algo simples, uma equação que, a meu ver, pode ser facilmente compreendida por qualquer criança (substitua trabalho por estudo, riqueza por bom aproveitamento, etc.). Mas, pelo visto, uma parte do “nosso” plantel e, principalmente, dos “nossos” dirigentes parecem não entender isto.
Colocando estes dois grupos restritos no mesmo balaio, pergunto-me por que será que não passa pela cabeça deles que:
1. Eles são trabalhadores assalariados, mesmo os que nem podem (devem) receber salários formais;
2. É o resultado do trabalho deles que se traduzirá em bens e/ou serviços “comercializáveis”, ou seja, os que são levados ao “mercado”, para a troca mercantil;
3. A aceitação, pelo “mercado”, da produção ofertada, é que gerará a transferência de renda do comprador para a instituição ofertante. Ou seja, faturamento;
4. É do faturamento que a instituição retirará uma parcela para o pagamento de suas obrigações e a seus trabalhadores.
É até possível alongar mais, mas creio que basta. É simples: você é assalariado, trabalha, produz, comercializa sua produção, recebe recursos em troca e, deles, tira sua parcela de sustento.
Não entendem os membros desse balaio que sem esforço, dedicação e treinamento, ou seja, trabalho, não conseguirão produzir coisa alguma que preste? Não entendem que, agindo desta forma covarde (mas que bem poderia usar termos mais agressivos), estão matando dia após dia a instituição onde estão instalados? Sabemos que todos os membros desse balaio se julgam possuidores de grandes talentos, de grandes capacidades técnicas, de tantas outras coisas ditas “boas” ou “excelentes”, alguns até com exageros retóricos surpreendentes. Mas qual é o mistério para não conseguirem produzir nada que preste, na prática? Apenas a vaidade não justifica. Será que a preguiça, o desinteresse, a falsa certeza de que o deles “está garantido” pelos laços infames que possuem é a verdadeira razão?
De nada adianta fazer grandes jogos, de pretensa superação, e protagonizar espetáculos lamentáveis, jogando por terra, inclusive, a obrigação de ajudarem na melhoria de nossa capacidade financeira. Os adversários entram em campo sabedores do que precisam fazer para nos enfrentar. E fazem. E os membros desse balaio se comportam como se a natureza, sozinha, fosse chegar e colocar as coisas nos pretensos devidos lugares, sem que precisem sequer suar um pouquinho. Pois é: a natureza “resolveu” castigar.
Só que, neste caso, os verdadeiros castigados são o torcedor do Fluminense e a instituição Fluminense.
O primeiro, por vários fatores, dos quais destaco a dor de ver que aqueles que deveriam honrar sua sagrada camisa não fazem o devido esforço para tanto. A paixão e o amor pelo Fluminense que tanto exaltamos e exalamos, são vilipendiados pelos membros desse balaio, que não passam de um bando de “conformados” com seus vínculos e suas pobres atitudes, além de não entenderem que precisam é trabalhar pelo Fluminense.
O segundo, também por várias razões, das quais destaco a desvalorização da marca que, impregnada pela derrota, pela omissão, pelo descaso, não atrai parceiros (leia-se riqueza) para associarem-se à empreitada rumo à eternidade.
Parece que os jogadores que fazem parte do balaio estão muito tranquilos com o poder oferecido por seus empresários. Não deveriam, pois os exemplos do passado recente mostram que poucos foram os que saíram para situações melhores do que as que encontravam aqui, e às quais não deram valor. Seus empresários, que vivem como jogadores de damas, colocando suas peças ora aqui, ora acolá, no tabuleiro do futebol, não estão conseguindo lhes arranjar coisa melhor do ficar por aqui. Então, por que não trabalhar? Por que não levar para os gramados a pretensa superioridade que seus egos, no papel, lhes confiam? Por que não produzir, para que o Fluminense tenha receitas e recursos suficientes para lhes pagar seus faustosos salários? Vocês perderam todas as oportunidades de dizer ao que vieram. Repito: todas! Fomos eliminados da Libertadores (ainda na fase preliminar e por um time que caiu na fase seguinte, por incapacidade técnica), da Sul-americana (em um grupo onde o time que nos superou também caiu na fase seguinte, de tão fraco que era), ainda agora da Copa do Brasil, com uma das mais horrendas apresentações que sequer poderíamos imaginar. E ainda temos que disputar, na sequência, um clássico perigoso.
O que falar dos dirigentes? Ainda se acham “entendedores” de futebol? Como, se não conseguem montar um elenco equilibrado para disputar as competições nacionais e internacionais que já sabíamos que disputaríamos? Como, se contratam jogadores (a peso de ouro) que não chamaram a atenção de nenhum dos observadores dos times europeus de primeira ou segunda linha? Isso, mesmo jogando na Europa, não nos esqueçamos. E a “gestão”? Como se planeja um plantel que vai custar muito mais do que os recursos efetivamente disponíveis para tanto? Vendendo jogadores por qualquer ninharia (Alguém acha mesmo que o Real Bétis vai ser bicampeão da Champions League, para poder repassar os valores da cláusula de desempenho?)? Fomos tripudiados até na negociação de um jogador que nós transformamos em ativo de valor. Ninguém previu um bom percentual de vitrine? Ninguém está vendo o prejuízo técnico que tais transações causaram?
Como é que o Fluminense vai pagar esses prejuízos, sabendo de antemão que os “gestores” e os “Edificantes e Ungidos” parceiros não vão coçar seus ricos bolsos para nos ressarcir?
Então, membros do balaio, saiam! De preferência sem deixar rastros, e sem onerar mais ainda os já combalidos cofres das Laranjeiras.
A cornucópia mágica que suspostamente existia nas Laranjeiras está mais do que exaurida. E não há mais nada parecido à disposição. Os recursos do clube não são raros e ralos, são é muito mal geridos. Não temos como sair desta situação sem que haja trabalho duro da parte daqueles que o representam em campo e nos gabinetes.
Estamos mais do que fartos dessa equação que não fecha nunca. Basta! Queremos homens dignos em campo e no corpo dirigente. Queremos que cada centavo de salário pago aos jogadores e aos dirigentes remunerados volte ao clube, na forma de partidas memoráveis, conquistas, títulos, respeito à instituição. Enfim, que o sagrado nome de nosso Fluminense seja engrandecido sempre!