Em 1968, recém chegado ao Fluminense, o goleiro Félix tinha sido convocado por Aimoré Moreira para amistosos da Seleção Brasileira na Europa. Numa partida contra a então Tchecoslováquia, em jogada absolutamente simples, aconteceu que Félix falhou e tomou um frangaço no segundo gol tcheco, algo absolutamente incomum em sua carreira mas que é passível de acontecer com qualquer goleiro.
Em resposta imediata, tal como fazem os grandes jogadores, a partir da falha Félix fechou o gol do Brasil e fez uma série de defesas espetaculares, tornando-se o destaque em campo. Contudo, mesmo com sua grande atuação, não foi possível evitar a derrota do Brasil no amistoso. Dois anos depois do fracasso na Copa da Inglaterra, a Seleção tentava se reerguer mas nem tinha começado o processo que levaria a João Saldanha e, a seguir, Zagallo para a conquista do sonhado tricampeonato mundial.
Um personagem foi fundamental para que Félix não caísse em descrédito depois da falha: Cláudio, então goleiro do Santos de Pelé e seu reserva na Seleção, começou a incentivá-lo veementemente do banco e insistiu muito com Aimoré Moreira para que o titular se mantivesse em campo. Félix, que percebeu a atitude de Cláudio, ficou profundamente grato ao colega de equipe por sua lealdade, que no fim não somente decidiu sua manutenção no escrete brasileiro, mas também a convocação para as eliminatórias da Copa e a fase final no México.
A pequena história que muito contribuiu para a Seleção Brasileira é banhada pelas três cores imortais. Félix, experiente aos 30 anos, tinha acabado de chegar ao Fluminense, onde se consagraria como um dos melhores goleiros da história do clube, além de titular absoluto e merecido daquela que é considerada a maior representação do Brasil em campo, em todos os tempos. Cláudio começou sua carreira no Fluminense e foi suplente do imortal Castilho no começo dos anos 1960. Apesar de ótimo goleiro, embora considerado de baixa estatura para a posição, sabia ser impossível barrar a legenda tricolor. Foi então emprestado para o Olaria e a seguir para o Bonsucesso, onde se destacou e então foi contratado pelo Santos, que se preparava para a aposentadoria de Gylmar. Curiosamente também, Félix era um sucessor do goleiro santista, só que na Seleção.
Desde o começo, Cláudio já se distinguia no meio do futebol, não somente por suas qualidades em campo, mas por ser frequentemente flagrado com livros (até hoje raros entre os atletas) e por ser poliglota. Tinha um problema que lhe custaria caro: era um fumante inveterado. Foi um grande sucessor de Gylmar no Santos, tendo jogado mais de 200 partidas pelo esquadrão santista, e só não ficou mais tempo por conta das agruras provocadas por contusões nos joelhos que, infelizmente, o tiraram de campo por quase dois anos – e, consequentemente do México. Já Félix, como se sabe acabou se tornando uma legenda da Seleção Brasileira.
Essa história foi relembrada pelo arqueiro tricolor numa entrevista publicada no Jornal dos Sports em um dia muito importante para o Fluminense, quando a inesquecível Máquina Tricolor conquistou seu primeiro troféu: a Taça Guanabara de 1975, em 27 de abril daquele ano. Depois de uma longa e vitoriosa carreira nas Laranjeiras, Félix encaminhava sua última temporada como titular do gol tricolor. Cláudio não teve a mesma sorte: já com a carreira encerrada por conta das contusões, vivia nos Estados Unidos e lá faleceria ainda jovem, devido a complicações de um câncer. Contudo, seu gesto de dignidade ficou para sempre na memória de Félix. Um exemplo muito raro quando se trata dos tempos atuais.
Sensacional. Tenho 63 anos e, desde 1969, acompanhei a carreira de Félix, tendo-o como grande ídolo. Forte abraço e parabéns pela matéria.
Grande história. Poucas vezes se vê dentro do futebol, um profissional que tenha a postura de Cláudio.
Aliás, não só no futebol…