Saio de casa de carro.
Dirijo do Recreio até Del Castilho, passando pela Barra, Linha Amarela e alguns bairros do subúrbio carioca.
Um caminho que eu já fazia nos tempos de Engenhão. Só que naquele caso, eu parava no Engenho de Dentro, estacionava em uma rua próxima ao estádio e pronto.
Hoje, entro no shopping Nova América, olho as promoções de camisas do Fluminense na loja outlet da Adidas, pego o metrô, passo por 3 estações até chegar ao Maracanã e lá me deparo com o estádio. Neste momento sinto um frio na barriga. Sem brincadeira.
Depois de 20 anos frequentando o estádio, ainda tenho aquela emoção ao ver o Maracanã, os outros torcedores com suas camisas e bandeiras, os ambulantes, as filas para compra de ingresso, os bares lotados, os adversários, tudo que envolve o clima pré-jogo.
Faço esse ritual de ida ao jogo geralmente sozinho. É uma escolha minha. Como se este momento fosse só meu. Gosto de observar aquele “balé” da torcida. Sem interrupções.
Quando faltam 20 minutos para o início da partida é que costumo subir as rampas. Lá dentro sei que encontrarei os velhos companheiros de batalha. E isso é muito bom. Me transformo, viro uma pessoa completamente diferente. O afável fica em casa. No Maracanã quem vem é o exaltado. Mesmo que com o tempo eu tenha aprendido a controlar melhor o ímpeto, ainda assim prossigo nervoso, soturno, supersticioso e muito, muito eufórico.
Ao encontrar os amigos sinto de volta aquela sensação de pertencimento. Não há nada parecido com o prazer de ter tantas pessoas vibrando pelo mesmo objetivo. Mesmo que em tantos momentos os torcedores tenham divergências. Há quem goste do Bruno, há quem sinta saudade do Euzébio, há quem xingue o Fred até quando ele faz gol, há quem queira a volta do Magno Alves, há de tudo quando se trata do torcedor tricolor. No entanto estão todos lá. Aquele grupo de fanáticos que não perde um jogo. Que vai nem que seja só para ficar puto. Que só arreda o pé da arquibancada quando as torcidas organizadas já recolheram bandeiras e faixas.
Ganhando ou não, bato um papo com os amigos (Panoramas, é claro) para saber que jogo eles viram. Não entenderam? Simples. O jogo era o mesmo, mas o “jogo” de cada um é diferente. Futebol, apesar da massa, é algo muito particular. Essa é a graça. Caldeira fala de como fomos aguerridos naquele dia. Andel, qual Nelson Rodrigues, vê a beleza de olhos privilegiados com a magia dos poetas, Rods não está muito satisfeito, mas o resultado foi o que valeu, eu detono a zaga e lamento a contusão do Gum… Cada um ao seu modo ama. Em meio a tantos, é na privacidade que amamos mais.
Volto para casa satisfeito com tudo o que aconteceu. Subindo a rampa da UERJ lamento a bola que bateu na trave, o pênalti não marcado, tento montar a tabela do campeonato na cabeça e vislumbrar o crescimento com a sequência de jogos que teremos. No metrô vou ouvindo as “resenhas” de desconhecidos. Ouvindo o “jogo” de cada um. Isso supera qualquer mesa redonda da CBN, Band News, Bradesco Esportes… Gosto de ouvir a voz das ruas.
Em casa está meu pai sentado no sofá. Nem preciso dizer algo. Ele vem com a sentença: “Aqueles caras não treinam, não? Não é possível que errem tanto. Passe de 5 metros?” Papai sabe das coisas. Concordo com ele e me preparo para o retorno do trabalho no dia seguinte. Vejo os melhores momentos na internet e percebo que pela TV o “jogo” foi outro. Era realmente o mesmo que eu acabara de assistir no estádio? Talvez não. São tantas histórias dentro de uma só.
Ai, futebol… Quantas histórias ainda me dará o prazer de contar
Panorama Tricolor
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Imagem: srzd