De vez em quando, ouvimos um tricolor soltar algo como o seguinte: “eu estava entre aqueles que estiveram debaixo de um dilúvio na geral no jogo contra o Náutico na série C”. É possível que eu já tenha escrito algo assim, entre outras razões porque estava lá com minha patota de sempre e vibrei muito com a vitória que abriu o caminho para a nossa conquista. Título é título e aquele, para mim ao menos, vale tanto quanto o mundial que conquistaremos em 2016, cuja taça que deve ser arrumada, em nossa linda sala de troféus, ao lado daquela do título mundial de 1952.
O fiel leitor deve estar se perguntando: por que diabos escrever sobre a série C agora que o Flu monta um time de respeito para disputar de fato a série A? A questão é simples: normalmente, a reafirmação da presença entre as quase 12 mil almas que se encharcaram na geral para ver o jogo contra o Náutico tem o propósito de atestar um maior nível de tricoloridade. Tricolor de verdade estava lá e ponto final.
Naturalmente, não é o caso de todos os tricolores que relataram sua experiência. Mas, cá entre nós, já faz algum tempo que parte de nossa torcida foi acometida pelo que podemos chamar de síndrome da demonstração da tricolaridade. É uma coisa esquisita, mas bem presente: se não foi ao jogo contra o Náutico, é menos tricolor; se não grita no estádio, é menos tricolor; se não tem o hábito de ver jogos em todos os lugares, é menos tricolor; se não se é sócio-torcedor, é menos tricolor. Tem gente que chega a xingar a própria torcida, a soberana, dona do clube, por compará-la a um ideal de torcida abstrato e irrealizável.
Conheço muitos tricolores fidelíssimos que não vão a estádios, por razões diversas, desde grana até um inexplicável medo, passando pelo simples comodismo. Conheço muitos tricolores que, indo ao estádio, ficam calados. Eu mesmo nunca fui de viajar com o time e, nos jogos fora, marco assento no Bar do Meio em Niterói, onde sou gentilmente recepcionado pelo gerente Daniel, torcedor do Náutico, e pelo melhor garçom do país, Zé, torcedor do Ceará. Lá encontro uma turba de malucos de idades diversas que não perdem um jogo do Flu… no bar.
É preciso lembrar que, felizmente, passou o tempo da série C. Já se fazem mais de 15 anos. Considerando que pais com juízo não permitiriam filhos com menos de 10 anos aparecerem num jogo numa noite de chuva, uma parte muito expressiva da torcida tricolor sequer poderia ter estado naquele Fluminense e Náutico. Ou seja, ter estado lá é atestado de coisa alguma. Ter viajado com o time também não. Ter se envolvido em brigas de torcida, muito menos. Ter feito loucuras pelo Flu idem. O que vale é o sentimento e ele sempre se apresenta, nem que seja no chaveiro com o escudo que orgulhosamente pende no bolso da calça e na silenciosa audiência dos jogos.
Ademais, com o caráter elitista do futebol brasileiro atual, cada vez menos gente vai ao estádio, em todos os lugares, em todas as torcidas. Se, antes, estádio cheio tinha 100 mil, hoje comemoramos um público de 25 mil. Continuando a tendência, em breve os jogos vão poder ser realizados nos próprios centros de treinamentos dos clubes, a portas fechadas, pois parece que as donas da bola, a TV e a CBF, não estão nem aí para manter a capacidade do esporte de penetrar na cultura das classes populares. Se ir a estádio vier a ser critério de amor ao tricolor, realmente atestaremos que o amor vai diminuir. Aliás, também vai diminuir o amor ao Vasco, ao Flamengo, ao Botafogo, ao Corinthians, ao Náutico e a todos os clubes.
É esse o propósito da coluna: incentivar uma campanha de união da alma tricolor. Que se dane a forma de expressar o sentimento pelo clube, se feroz ou calma, presente ou à distância, poética ou silenciosa. Toda forma de amor vale a pena e há milhares de caminhos para cultivar o sentimento. Se há algo bem dito pelo controverso Bono Vox é que love is all you can’t leave behind, ou seja, amor é tudo aquilo que não se consegue deixar para trás. Essa definição do amor pela negativa tem justamente o mérito de não dar-lhe forma definida: amor é não deixar a mãe desamparada, ainda que a relação com ela seja insuportável; é estar presente no cotidiano do filho, ainda que o trato com a mãe (ou pai) da criança seja péssimo; é continuar o namoro com a pessoa que sofreu um acidente e desfigurou-se fisicamente. Amor é Frida Kahlo diante da infidelidade de Diego Rivera, e Diego Rivera ao lado do corpo moribundo de Frida Kahlo.
Nós viramos uma página importante de nossa história recentemente. Findou-se um patrocínio que aprisionava o clube e retomamos o controle sobre nossa vida. De imediato, isso abriu a perspectiva de glórias, nos engrandeceu, principalmente porque anunciaram que nos apequenaríamos. Agora, o Fluminense precisa de nosso amor, como quer que ele se expresse. Deixemos de lado as diferenças, respeitemos a forma como cada um expressa sua tricoloridade e mantenhamos a fé. Eu tenho certeza de que vem coisa grande por aí. Estejamos prontos para testemunhá-la, juntos, como sempre deveríamos ter estado. Tricolores de todo mundo: uni-vos.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: globoesporte
Ótimo texto.
ST!
Rumo ao Penta!!!
Eu quero acreditar!!!
ST
Excelente texto! O gran finale Marxiano, sensacional!!! Avalio que se fazem necessárias a participação do torcedor no estádio e a ampliação do número de sócio-torcedor. Sou de Fortaleza/CE, não posso frequentar o maracanã. Vou me associar juntamente com o meu filho com o objetivo único de ajudar o clube, já que não terei nenhum benefício direto. Quem sabe um Flu x Ceará na Copa do Brasil e um Tricolor em toda terra para celebrar o ato? Abraço tricolor!!!