O final de ano do Fluminense não parece trazer a paz e o perdão, típicos da época natalina. Pelo contrário, os ânimos estão acirrados por conta da formação do elenco de 2015 e do balanço da temporada 2014. O debate passa pelas declarações de Fred e as reações de ódio ou de amor irrestritas oferecidas ao jogador.
O debate está repleto de agressividade. Oposições e discordâncias são atacadas com argumentos ad homines (aqueles que atacam a pessoa, não o que é dito), em especial a acusação “você não é tricolor de verdade”.
De onde saiu essa mania de querer postular quem é mais torcedor que o outro? Que conjunto de ações podem ser consideradas como atestado de veracidade clubística? Ir aos jogos nos “cafundós do judas”? Ir a todos os jogos da temporada? Ter o material esportivo do ano? Sair no tapa com os torcedores adversários? Responder às acusações da imprensa? Protestar na sede do clube? Ser sócio do clube? Consumir os produtos licenciados? Ter o plano de saúde da patrocinadora? Fazer tatuagens em louvor ao Flu? Postar fotos no Maracanã com a camisa do Fluminense?
Será que esses critérios aplicam-se a quem ama mais a sua própria mãe? Quem não a visita semanalmente, não liga todos os dias, não lhe dá presentes caros, entre outros, não ama a genitora? Você só é fã de uma banda de rock se vai a todos os shows e faz loucuras por ela?
Cisões na torcida não servem para nada além de diminuir o valor do maior patrimônio do clube. Vestir a camisa na derrota ou na vitória, declarar seu amor pelo Fluminense podem servir aos propósitos de ser tricolor. Como uma religião, há os que professam de maneira individual e mais reservada. Será que amam menos o clube?
O sujeito que vai ao estádio para brigar com o torcedor adversário está dando uma prova de amor ao clube? Ou será que está ferindo nossa fidalguia? Valores. Que valores? Fanatismo é diferente de amor, mas simpatia – como se diz em Ipanema – está quase lá. Como repreender milhões de torcedores de sofá? Ainda que queiram ver o Flu no estádio, sofrem com ingressos caros, com serviços mais caros ainda e são atormentados pelo fantasma da violência. Além disso, as redes de tevê jogam para que esse torcedor fique no comando apenas do controle remoto.
Entretanto, porque vou a estádios, porque já viajei com o clube, porque sou sócio, porque compro produtos licenciados, porque tenho o plano de saúde da patrocinadora por causa do patrocínio, porque mais um monte de coisas, não posso dizer que sou mais tricolor que ninguém. O que faço pelo Flu, faço por minha paixão, nunca para demonstrar para todos que sou mais que qualquer outro.
Será que Celso Barros é mais tricolor que eu ou você, leitor? Ele, por exemplo, expôs à empresa que administra um patrocínio arriscado, com injeção de volumosas somas na compra e venda de ativos que não fazem parte do negócio da cooperativa. Por outro lado, foi o torcedor que quis decidir sozinho sobre os destinos do Flu em várias ocasiões. Hoje trava outros patrocinadores por cobrar 50% do arrecadado para sua empresa. Estaria certo? Errado? Qualquer das ações faz dele mais ou menos tricolor?
Não julgo o sujeito que se tatua o escudo do clube no rosto. Também não julgo aquele que só vai ao estádio quando lhe é conveniente. Futebol é lazer para o torcedor. É amor, paixão. Não é obrigação burocrática ou cabide profissional. Viver o clube e identificar-se com sua história, agir pensando em seus preceitos é escolha de cada um. No meu caso, define-me a identidade, sem dúvida.
Não há de confundir-se, contudo, com o tricoleba. Já apontei isso em 2013, quando estreei neste querido Panorama (http://www.panoramatricolor.com/tricolebario-por-walace-cestari/). A questão é o comportamento e o caráter. O que define o tricolor de verdade é querer o bem do clube, mais do que demonstrar individualmente sua vaidade.
Por fim, para entrar no tópico que causou as acusações: Fred é bom jogador, foi importante em nossa história, mas não é maior que o clube. Acho que estaremos melhores sem ele. Compreendo que outros achem que não. Pelo que fez em campo, é discutível. Pelo comportamento fora dele, indefensável. Mesmo sabendo que a carência de idolatria que paira sobre nossa torcida não faça de qualquer torcedor menos irmão nas três cores.
Que vença o Fluminense.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @wcestari
Foto: calango74.blogspot.com.br
Tudo bem, Fred vai embira, mas quem vem? Se depender da Flu-sócio, vem Pimpão, Marcelinho das Arábias, Toninho El Biblico, ou quem sabe Marcelinho Paraiba q ainda insiste em ñ abandonar o futebol q já o abandonou. O Fred é titular absoluto nos 20 clubes da primeira e da segunda divisões do Brasileiro, vamis mansar o Fred embora ( me incluam fora dessa) ]mas antes vamos arrumar um substituto, para ñ sofrer-mos no ano q vem, ñse esqueçam, esse time sem Cobca e Fred, quase fou rebaixado ano passado
José,
Discordo de você quanto ao Fred.
O ponto que defendo é: isso não faz de você menos tricolor que eu.
Vamos em frente. E com o Flu.
ST****
A melhor análise que li até agora sobre a dificuldade que se encontra na torcida tricolor de aceitação das opiniões contrárias e a disputa infantil de quem é mais e quem é menos.
Num cômputo mais vasto, o da sociedade brasileira, o que se vê é uma tendência cultural para fundamentações rasas (quando as há), e argumentacão ad homines, sendo o Congresso Nacional seu maior exemplo.
A violência urbana, a diminuição ou inversão de valores tradicionais, também alimentam a reação…
Muito obrigado, Mauro.
Juntos somos fortes e sempre pelo Flu. Ainda que tenhamos todas as diferenças, há um escudo em três cores que nos une.
Mesmo assim, o que seria fácil torna-se difícil… Quem dirá nos outros aspectos de nossa vida em sociedade…
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Amplexos