Já foram realizados aqui diversos estudos aprofundados sobre uma das figuras mais emblemáticas do Fluminense: o tricoleba. Sim, eu mesmo já fiz, o Caldeira é doutor no assunto e já nos apresentou inúmeros raios-x desse ser esquisito de nosso folclore. Ora, então por que voltar no assunto? Não estamos todos agora preocupados com a parte de baixo da tabela? Vamos falar de futebol! Não, hoje não. É que novos estudos apontam para alguns comportamentos tricolebais que não eram percebidos há muito.
Não vou perder tempo em definições, vou direto aos resultados das novas pesquisas e estudos científicos que mostram ou uma mudança comportamental ou mesmo uma mutação genética na população de tricolebas existente. O tricoleba é um paradoxo. Se antes o problema era que não valorizava o time e que não comparecia ao estádio, agora é outro. O tricoleba é o ausente mais presente de todos.
A partir do momento em que o tricoleba percebe a má fase do clube, é tomado por uma compulsão de dizer a todos e em todos os momentos: “eu sabia, eu avisei”. É o único ser futebolístico que faz previsão no futuro do pretérito: ele sabia o que aconteceria, mas só fala depois que acontece. Prever o passado é especialidade tricolébica.
O mais interessante é que isso parece proporcionar prazer ao indivíduo. Sim, caro tricolor, nós ficamos eufóricos nas vitórias, ufanistas nos títulos e depressivos nas derrotas e eliminações. Não os tricolebas. Esses são aves de rapina. Veem a carniça moribunda com o prazer da fome. Encontram na dificuldade o palco perfeito para vaticinar os erros. Para demonstrar sua elevação e competência. Ou, no mínimo, sua capacidade de ler à frente de seu tempo e de entender mais que os outros.
Sim, o tricoleba está de volta às arquibancadas. Você que pensava ser a ausência a principal característica do tricoleba, esqueça! Ele vai aos estádios em dois momentos: nos jogos de muito apelo – para reclamar do que está indo bem – ou na dificuldade extrema – para vociferar das arquibancadas e apontar os óbvios erros que só ele conhecia. Ele frequenta o estádio para xingar o Diguinho. Ainda que o Diguinho só esteja no banco. Ele estaria errado antes de entrar. Antes de pegar na bola. Culpa sempre do burro treinador. Culpa maior de toda a direção que precisa ir embora. O tricoleba sonha com o poder.
Diguinho aqui é só um exemplo. Poderia ser o Gum ou o Edinho. Não morro de amores por nenhum dos três, acho que todos são fraquíssimos e que devem agradecer todos os dias pela existência do futebol em suas vidas. Mas, dentro de campo, são eles que envergam as Três Cores. Quem estiver lá dentro, nos noventa minutos de cada capítulo épico de nossa jornada, de cada batalha heroica que travamos, merecerá o meu apoio. Confesso que não grito o nome dos três a plenos pulmões (já seria pedir muito), mas hostilizar, jamais.
Sim, os estádios estão cheios dos que se organizam em torno dos apupos. E o fazem com os objetivos mais sórdidos, para aproveitar a má situação e emplacar sua oposição. O tricoleba gosta de voto. E diz gostar de mudanças. Por isso nunca aparece nas vitórias. A mudança que apregoa é o retorno, o retrocesso. O tricoleba é aquele que tem saudades da ditadura, que elogia o Eurico como dirigente e que acha a culpa de tudo é dos malditos intelectuais.
Sim, são nossos Reinaldos Azevedos, nossos Jabores. Quantos horrores. E estão entre nós. A cada ponto perdido, a cada falha de um jogador eles aparecem com o discurso fácil da insatisfação. Nada querem construir, para nada têm solução. Olho vivo, que, como zumbis, tentam passar sua morbidade em cada mordida, em cada reclamação, em cada vaia. Tem o cheiro do passado morto que quase nos enterrou nos fins da década de noventa e que tenta se reinventar para usar o Fluminense como trampolim de seus projetos unicamente pessoais.
Olho vivo. E canja de galinha, que não faz mal a ninguém.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Rods comenta:
Sir Walace afiado como sempre.
#VoltaEurico Hahahahahaha!
ST!
Fico agradecido com os elogios.
E mais aliviado com os três pontos do domingo!
Amplexos
Adorei, parabéns dei boas risadas agora !
Domingo precisamos dos Tricolebas e modinhas no Maraca !
Andel: Texto obrigatório em qualquer antologia que venha a ser publicada sobre o PANORAMA.
Parabéns de sempre.
Muito bom! (Risos)
Lembrou bem esta faceta dos lebas!