Treinadores sofrem… (por Erica Matos)

“A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero.”

Guimarães Rosa

cristóvoa treinador ffc

O futebol é um meio que nos encanta, mas por vezes me espanta.

Se existem personagens no mundo da bola muitas vezes injustiçados são os treinadores.

Eles pegam o time do jeito que está e têm que fazer milagre na maioria dos casos.

A diretoria impõe e a torcida exige do novo técnico uma espécie de salvador da pátria e do caos instaurado no clube.

Tenho observado muitas especulações acerca de uma possível troca de técnico no Fluminense há semanas. Nessa, especificamente, recebi algumas enquetes por parte de grupos na rede social, onde perguntavam quem seria o melhor substituto de Cristóvão Borges.

Uma das coisas mais engraçadas de se observar nas arquibancadas é o mar de técnicos que se torna o estádio numa partida. Na visão dos torcedores com os nervos à flor do besteirol, são eles quem sabem de tudo e o técnico em campo, na maioria das vezes, nada sabe.

O Cristóvão é um técnico perfeito? Está longe de ser, assim como os outros que passaram e passarão não foram e nem serão. Mas a paciência não passa nem a quilômetros do torcedor e, quando me coloco no lugar de um técnico, me vejo como um objeto que ter a obrigação de acertar sempre – se é derrotado, vira o vilão. São lembrados algumas vezes nas vitorias. Penso que esses caras devem dormir e acordar com a questão da instabilidade na carreira rondando suas vidas.

Acho desleal tratarmos os treinadores com tanta falta compaixão e, ao mesmo tempo, termos que engolir jogadores que levam rios de dinheiro do clube, mas que podem fazer corpo mole, ficando meses sem jogar, lesionados ou não, produzindo em campo ou não. O jogador é tratado a pão de ló, enquanto o treinador é obrigado a comer o pão que o diabo amassou.

O querido amigo João Garcez me fez lembrar em um texto seu que, daqui a um mês, completam-se cinco anos da demissão de Cuca.

Somos acostumados a ver treinadores sendo trocados porque não transformaram o time de várzea numa seleção. Mas o que aconteceu com Cuca em 2010 foi uma enorme falta de gratidão por parte da diretoria do FFC.

Cuca foi técnico do maior feito que presenciei na história do Flusão. O Time de Guerreiros nasceu do pai Cuca.

Confesso que fiquei um pouco eufórica com a chegada do Ratão no clube. À época, eu tinha o sonho de ver Muricy no comendo do meu time, mas nunca deixei de reconhecer que estávamos fazendo uma troca desnecessária, que cheirou a arrogância vinda da parte de cima.

No jogo contra o Guarani, onde fomos tricampeões brasileiros, lembro do meu irmão com uma cartolina escrita por ele que dizia: “Cuca, esse título também é seu!”. Foi até engraçado, pois na hora em que olhei para o cartaz na mão do Rodrigo, o jogo em Minas ainda não tinha acabado e tudo poderia mudar – e Cuca, de fato, poderia ter o título com o Cruzeiro. Brinquei com meu mano e disse: “Levante isso só quando os dois jogos acabarem”.

De lá para cá sofremos com trocas de técnicos impostos pelo “dono” da ex-patrocinadora master.

Como não lembrar do Abel Braga? O cara foi técnico no ano em que “estivemos duas vezes no céu”, não é, Paulo-Roberto Andel? E depois de tudo aquilo, ele deu uns moles na Libertadores de 2013 e foi mandado embora sem dó nem piedade.

Vou concordar com uma das teses do presidente Peter Siemsen, quando fala que o técnico tem que ter tempo para arrumar o time, e não é um erro aqui, outro acolá, que vai desmerecer um trabalho já começado. Difícil é ouvir isso e, na prática, ver que ele faz só um discurso que depois vira sopa de letrinhas, onde percebe-se que a sua autoridade é quase nula (infelizmente).

O que eu desejo em relação ao Cristóvão? Que ele continue a trabalhar, pois é um funcionário que tem dignidade. Longe de ser perfeito, mas também não é o culpado pelos desarranjos que o time andou tendo. Tem mostrado que quer acertar a receita do bolo.

Tenhamos compaixão, paciência e façamos nossa parte, que é torcer e apoiar.

Quem de nós é plenamente perfeito na profissão? Já pensou se acertássemos algumas vezes e um tropeço nos fizesse ser demitidos?

Vamos, Flusão!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @erica_matos

Imagem: ffc

#SejaSócioDoFlu

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