Torcer pelo Fluminense não é fazer papel de idiota (por Paulo-Roberto Andel)

Historicamente, a torcida do Fluminense sempre foi de vanguarda. Não à toa, é do Flu a invenção da torcida e do chefe de torcida (viva Chico Guanabara!). E em muitas vezes na história do clube ela foi decisiva. Relembro rapidamente três oportunidades: criticando muito em 1983, contribuindo decisivamente para a formação do time tricampeão; em 1999, mostrando sua força e dando ao Flu o quinto maior público do futebol brasileiro no pior ano de sua história; finalmente em 2009, empurrando muito o time para se salvar de uma situação tão grave que, doze anos depois, nenhum outro time conseguiu algo parecido no mundo.

Com as arenas, a gourmetização e o distanciamento do público tradicional, alguns setores tentam na marra criar um novo jeito de torcer, principalmente por interesse político – um time vaiado pode atrapalhar os planos eleitorais de dirigentes. Mas marra somente, porque falta número para isso. Um modelo de torcida dócil, resiliente, que deve aceitar tudo oferecendo palmas e vibrando com a farsa da ‘maior gestão de todos os tempos’. O problema é não ter combinado isso com os torcedores.

Dias antes de Fluminense x Sport, correm rumores de que o presidente do clube reclamou a presença de torcida nas arquibancadas numa reunião com lideranças de torcidas organizadas. Seria mais fácil se o Flu não tivesse virado um figurante de competições: neste 2021, foi humilhado na final do Carioca, tratado como insignificante na Copa do Brasil, saiu da Libertadores sem um único jogo brilhante e no Brasileirão sonha com a vaga na Libertadores, porque desconsidera qualquer expectativa de briga pelo título. É uma temporada medíocre, queiram ou não. Hoje em dia, qualquer campanha mediana leva à Libertadores (quase metade dos times da série A). Por tudo isso, entende-se que o Fluminense tenha colocado até aqui pouca gente na volta das arquibancadas.

Ironicamente, foi num jogo vazio que o time do Fluminense ofereceu seu piti, ignorando a torcida presente no sábado passado, provavelmente porque os jogadores, que parecem viver no mundo da Lua, consideraram um grande feito a vitória sobre um time (respeitável) na zona de rebaixamento no último lance da partida, assim ficando a mais de VINTE pontos do líder da competição. Diante de tal façanha, não podem ser criticados ou vaiados pacificamente.

O time que ofereceu esse piti é composto por jogadores que nunca ganharam nada pelo Fluminense, com exceção de um que não ganha há quase dez anos.

Torcer pelo Fluminense não é fazer papel de idiota. As provocações feitas por jogadores durante a partida contra a própria torcida, culminando com a saída desprezível ao término do jogo, são fruto de uma mentalidade perturbada que, se não for debelada, vai levar o clube de vez à ruína.

Foi algo tão grave que, se alguém tem dúvidas a respeito, basta se perguntar: e se acontecesse a mesma coisa no time do Corinthians em Itaquera, do Palmeiras no Allianz Park ou do Inter no Beira-Rio? Uma coisa é certa: em nenhum desses clubes haveria passada de pano para tal situação.

O Fluminense é um dos maiores clubes do futebol mundial. Forjou a Seleção Brasileira, os estádios de futebol, a doutrina esportiva. Tem uma coleção centenária de histórias e sua torcida é soberana.

Ninguém vaia time que está bem ou que joga com garra total. Ninguém vaia time que está disputando títulos de verdade, em vez de fazer figuração e correr para não chegar.

O Fluminense é grande demais para ser tragado por essa mentalidade estúpida de Fluham. Quem ganha com o fato do Flu deixar de ser protagonista para ser figurante?

Torço sinceramente para que inúmeros setores tricolores se organizem para, de forma ordeira e pacífica, protestar contra toda essa mediocridade que tem assolado o Tricolor. Estão abusando da paciência de milhões de pessoas, desprezando crianças tricolores que, com dez ou doze anos de idade, só sabem o que é uma conquista por fotos, vídeos e raríssimas lembranças.

Todos os que participaram dessa palhaçada no fim da partida contra o Sport merecem uma sonora vaia, por uma semana inteira. Atitude de moleques mimados intocáveis, para um bando de marmanjos que ocupam um lugar sonhado por milhares de jogadores, mas estão insatisfeitos com suas condições de trabalho e seus salários milionários, muitas vezes bancados por torcedores que sacrificam um salário mínimo para comprar uma caríssima camisa oficial, um ingresso ou uma mensalidade de associação.

A vaia só dói na alma de quem é ingrato e mau caráter.

1 Comments

  1. Concordo plenamente com tudo esses caras nao merecem o que tem.
    Sao mercenários

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