4-3-2-1, Roger, ainda é tempo (por Marcelo Savioli)

Então, Roger? Eu vou voltar a bater na mesma tecla. Por que não experimentar o 4-3-2-1 no jogo contra o Inter?

Vamos analisar essa questão friamente? André, Yago e Martinelli estão entre os jogadores mais produtivos do time. São capazes de dar consistência à marcação, à saída de bola, à transição e à fase ofensiva.

Por que não usar os três? A título de reposição, você tem para essa linha de três volantes o Wellington, o Nonato e o Ganso. Então, é uma ideia que tem sustentabilidade, você concorda?

À frente dessa linha, temos dois meias-atacantes, que, com três volantes, não ficarão sobrecarregados na marcação aos laterais. Eles podem flutuar verticalmente de acordo com o lado pelo qual o adversário vai atacar, sempre sobrando um homem mais à frente, formando o 4-4-2 e dando a válvula de escape nas ocasiões em que pudermos contragolpear.

Teremos um sistema defensivo mais sólido, um meio de campo mais construtor e a possibilidade de atuar em contra-ataques ou numa transição mais cadenciada, em que os três homens de frente se posicionem em cima da última linha adversária, dando mais espaço para os três volantes e os dois laterais construírem as jogadas.

Não lhe parece boa essa ideia? Então vamos a esses dois homens que jogam por trás do atacante. Temo-los em profusão: Nenê, Casares, Caio Paulista, Luis Henrique, Kayky, Gabriel Teixeira e o gringo que acaba de chegar da Colômbia.

No comando do ataque temos: Fred, John Kennedy, Abel Hernández e Bobadilla.

Repare que não estou sugerindo uma escalação nas três posições mais avançadas. Fica ao seu critério. O que nós não podemos é continuar com um 4-2-3-1 em que temos uma posição nula, que é o centro da linha média ofensiva. Você já escalou Nenê, Casares e Ganso. Se algum deles houvesse correspondido, você não estaria até hoje buscando uma solução num time que sempre forma um vazio no meio, sobrecarrega nossos volantes na marcação e que quase nunca tem construção de jogadas por dentro.

Por que você não experimenta isso contra o Inter? O meu time é Marcos Felipe; Calegari, Nino, Lucas Claro e Egídio; André, Martinelli e Yago; Luis Henrique e Gabriel Teixeira; Abel Hernández. Pelo menos para o jogo contra o Inter. Depois a gente vai avaliando se há coerência em trocar peças, mas você pode vir com quem quiser. Eu só quero a mudança do esquema.

Eu sei que tem essa coisa de nunca ter dado dois treinos, mas eu tenho lá meus argumentos para ser ouvido, e o Mário sabe disso. Em 2014, quando ele assumiu a vice-presidência de futebol, e o Cristóvão assumiu o comando técnico, com duas semanas para trabalhar, o Fluminense tinha um timaço e não produzia nada de útil.

Na ocasião, Renato Gaúcho escalava o time num 4-3-1-2. A escalação era: Cavalieri; Bruno, Gum, Leandro Euzébio e Carlinhos; Valencia, Jean e Diguinho; Conca; Walter e Fred.

Eu defendia que se abrisse mão de um dos volantes e de um dos atacantes, escalando dois meias-atacantes pelos lados, fazendo as asas do 4-2-3-1. Foi exatamente o que fez Cristóvão, tendo ainda duas semanas para treinar o novo esquema. Voltou com: Cavalieri; Bruno, Gum, Euzébio e Carlinhos; Jean e Diguinho; Dario Conca, Wagner e Rafael Sobis; Fred.

O que veio depois foi o Fluminense sendo batizado pela imprensa de Alemanha Brasileira, tal era a capacidade de ficar com a bola e envolver os adversários, pressionar em todas as fases do campo e compactar as linhas.

É claro que Cristóvão não seguiu minha dica, apenas viu a mesma coisa que eu. Pegou um time que jogava com as linhas distantes, compactou o time e passou a valorizar a posse de bola, dando lindos espetáculos. Nada ganhamos naquele ano e a minha tese é que a Alemanha Brasileira perdeu as asas em pleno voo por questões políticas e não técnicas ou táticas.

Pode parecer contraditório que agora eu me volte contra o seu 4-2-3-1, mas não é, e eu explico. É que a minha visão de futebol consiste em analisar o elenco, identificar as melhores peças e montar um esquema em que elas possam ser escaladas de forma consistente, produtiva e sustentável.

Aliás, o 4-3-2-1 que lhe peço para considerar era o verdadeiro esquema da Alemanha, você sabe. De tal modo que chegava-se a escalar quatro zagueiros na última linha de defesa. E, por saber, talvez isso lhe inspire olhando o nosso elenco.

É claro que podemos dar outra dinâmica, prendendo um volante entre os zagueiros e soltando os laterais para explorar os corredores laterais quando a dupla de meias-atacantes se aproximar do ataque por dentro, ou mesmo fazer o facão quando esses homens abrem pelos flancos.

E é por isso que eu vou de Calegari no lugar de Samuel Xavier. Não está em questão a qualidade técnica, mas o potencial de entrega tática. Calegari é um jogador mais versátil, que tem qualidade para construir jogadas por dentro e pelos flancos e consegue bagunçar as defesas adversárias, além de dar mais intensidade ao time.

A ideia é essa. Eu poderia recorrer a outros fatos pregressos meritórios para sustentar a minha tese e isso não é por vaidade, porque isso não cabe quando o que está em jogo é o futuro do Fluminense. Eu apenas quero dar sustentação e força à minha tese, porque acredito muito que seja a melhor solução para esse atual Fluminense que você comanda.

Porque eu quero ser campeão da Copa do Brasil e da Libertadores e, se der tempo, ainda correr atrás do título brasileiro. Não repare, isso é coisa de tricolor.

A gente precisa tentar alguma coisa diferente, mas, claro, com coerência e fundamento. E eu falo a gente porque sei que estamos do mesmo lado e não o vejo como o Judas desse Sábado de Aleluia. Você sabe que no Brasil sempre sobra para o técnico. No Fluminense sobra para o técnico e meio. Mas nós sabemos que esse elenco pode entregar mais e só você tem autoridade para promover as mudanças que nos levarão, se não à glória, pelo menos a jogar um futebol digno de ser admirado, que é melhor que cair chafurdando abaixo da linha da mediocridade, que é o que vai acontecer se não mudarmos, você sabe disso também.

Eu estava lá em Florianópolis na arquibancada atrás do gol. Lá eu comemorei o seu gol, lá eu comemorei o título daquela Copa do Brasil. Eu acho que você não se esquece daquela noite tanto quanto eu. Você, apesar de tudo que conquistou em sua carreira. Eu, apesar da quantidade enorme de títulos que vi o Fluminense conquistar da arquibancada.

Eu não posso estar na arquibancada, porque a Covid não deixa, mas você pode fazer acontecer.

Eu tento ajudar por aqui, que é o campo de batalha que eu tenho.

Saudações Tricolores!