Ao voltar para o comando do Fluminense, Abel prometeu novidades e surpresas. De início, recebeu uma base que tinha nos garotos seu alicerce técnico e tático. O time do ano passado era voluntarioso, mas tinha uma dificuldade enorme em criar jogadas e, sobretudo, fazer os gols. Para complementar essa base, Abel solicitou nomes e corroborou com a contratação de outros, todos cravejados com o status de medalhão. O lateral Cris Silva, por exemplo, agradou o técnico por ser um ala ofensivo. Desde o início flertou com Felipe Melo na zaga e com o sistema de três zagueiros. A grande dúvida era como ele faria a mescla entre garotos e medalhões para obter um time equilibrado taticamente. De quem seria o privilégio? Ou o mérito seria o fiel dessa balança?
A torcida Tricolor, desde o início, não queria abrir mão de André e Luiz Henrique. Destaques da temporada passada, um representou o equilíbrio do meio de campo e o outro o diferencial técnico, o drible, a velocidade, a arte. Com relação a André, o esquema com três zagueiros, em tese, resolveria seu embate com Felipe Melo. Os dois ocupam a mesma faixa da meiuca e o garoto não foi bem quando Marcão o escalou como segundo volante. Com três na zaga, Felipe seria recuado e André continuaria como primeiro homem de meio. Mas, com relação a Luiz Henrique, o temor era grande, afinal chegaram duas medalhas para a posição: Bigode e Cano. Muitos torcedores não acreditavam que Luiz seria sacado, mas, esse colunista que vos escreve, tinha a convicção do 3-5-2 e da predileção de Abel por um ataque experiente, ou seja, literalmente de peso.
Na estreia contra o Bangu, não tivemos novidades e muito menos surpresas. Muito pelo contrário. O conservadorismo de Abel Braga continua intacto. Como esperado e temido por muitos tricolores, Luiz Henrique perdeu sua posição para Bigode. O 3-5-2 foi escalado com um losango defensivo, uma linha de quatro e dois atacantes. Em campo, o Fluminense se mostrou um time pesado, espaçado, sem criação e sem qualquer propósito tático. Em meio ao deserto de ideias, nem o sistema de coberturas funcionou. O time não tinha poder de fogo e fornecia espaços pelo meio e pelos lados com fartura. O Flu passou aquela impressão inequívoca de time mal treinado. Perdendo e jogando mal, Abel se viu obrigado a mudar o time para a etapa final.
Para o segundo tempo contra o Bangu, o comandante tricolor sacou o amarelado e pouco inspirado Felipe Melo e colocou Luiz Henrique. A equipe saiu do 3-5-2 e passou a jogar no 4-2-3-1 com André e Yago de volantes, Nathan na criação e um trio com Bigode (esquerda), Fred (centro) e Luiz (direita). Mais tarde entrou Cano no lugar de Fred, Caio Paulista virou lateral esquerdo no lugar de Cris Silva e Pineida ocupou a lateral direita no lugar de Samuel Xavier. Martinelli também foi testado como volante. Infelizmente, as modificações não surtiram efeito. A equipe até melhorou e criou algumas chances, mas nada muito diferente do desempenho terrível da etapa inicial. Faltou organização, assustou o torcedor. Vinte dias e tanta expectativa para isso? Mais uma vez, Abel sabia que iria precisar mudar o time e a forma de jogar.
O péssimo resultado fatalmente traria Luiz Henrique de volta, até pelo clamor popular. O que ninguém contava era que o sacado seria Nathan. Logo o camisa 10, logo o reforço tão esperado pela torcida. Tudo isso pelo fato que citei no início do texto: temos há tempos um time reativo que não habita o corredor central de forma técnica, dominante e objetiva. Não adianta você ter flechas e não possuir um arco. Para o jogo contra o Madureira, Abel tirou Nathan e escalou Luiz Henrique. O Flu derivou o esquema de três zagueiros e passou a jogar no 3-4-3. Mas, para o sofrimento do tricolor, o esquema não funcionou. Samuel, Yago e Fred novamente não estavam bem, sobretudo Yago. Com a saída de Nathan, ele ficou responsável por habitar o espaço entre as linhas do adversário, função que requer uma técnica que o jogador não possui.
Além dos dois tempos ruins contra o Bangu, novamente o Flu decepcionou na etapa inicial contra o Madureira. Luiz Henrique tinha liberdade de circulação, mas o time não tinha passagem pelo meio. Era nítida a falta de talento na intermediária ofensiva. Sem habitação no corredor central, com alas pouco inspirados e com Fred se movimentando com lentidão, Bigode não teve espaço para jogar e não conseguiu auxiliar efetivamente a recomposição. A equipe continuava pesada, espaçada e sem fluidez. O bloco de marcação estava baixo e a postura ficou longe de ser a ideal pela diferença técnica dos elencos. Mais uma vez Abelão teve que mudar. No segundo tempo, Nathan foi colocado na vaga de Yago e o Flu passou novamente do esquema de três zagueiros para o 4-2-3-1. Desta vez, Felipe Melo e André ficaram de volantes, Nathan de meia central e o trio de ataque com Bigode, Fred e Luiz.
Porém, o time só mostrou sua melhor versão quando Abel tirou André e Fred e colocou em suas respectivas vagas Árias e Cano. Agora no 4-3-3, o Tricolor passou a habitar o espaço entre as linhas do Madureira e isso permitiu a esperada fluidez de um jogo mais técnico e objetivo. Com Cano e Luiz mais adiantados, a pressão na saída aumentou, as linhas subiram e o time passou a criar a partir das retomadas do meio para frente. Com espaço, Bigode passou a fazer seu famoso facão para finalizar. O gol da vitória, marcado por Árias, que entrou muito bem ao lado de Nathan como terceiro homem de meio, saiu de uma retomada, toques rápidos e uma diagonal de Bigode. Percebam que em apenas duas partidas o Fluminense jogou no 3-5-2, no 4-2-3-1 (duas vezes), no 3-4-3 e no 4-3-3. Quatro esquemas, trocas equivocadas e muitas dúvidas marcaram as duas primeiras partidas do Tricolor.
Agora, o receio da torcida tem outro nome. André pode ser a vítima da vez do conhecido conservadorismo de Abel Braga. Contra o Madureira ele foi sacado do time para a entrada de Árias que jogou bem e marcou o gol da vitória. Felipe Melo, por sua vez, jogou muito bem de primeiro volante. Caso queira manter o 433, melhor versão de seu esboço de time até agora, Abel corre o risco de cometer mais um erro crasso e dessa vez tirar André do time. Definitivamente existem três jogadores que só podem sair dos onze iniciais em caso de lesão ou de queda técnica significativa: André, Nathan e Luiz Henrique. Dois já foram, de forma equivocada, alvos da falta de audácia de um treinador que prometeu novidades mas, até agora, mostrou mais do mesmo. Resta esperar o jogo contra o Audax, o último antes do Fla-Flu, para tentar entender os propósitos ainda não vistos de Abel Braga.
Acho que você deveria usar os termos reacionário ou revolucionário para o esquema do Abel porque conservador significa preservar o que é bom, enquanto reacionário possa ser a preferência por jogadores veteranos e revolucionário pegar o esquema que bem ou mal nos levou a uma classificação à Libertadores e começar do zero com esse 3-4-3.
Já vimos que Felipe Melo, Bigode, Duarte e Pineida não estão prontos para ser titulares. Dos contratados vale a pena insistir com Cris, Cano, Fábio e Natan. Marlon e Ganso deveriam ter uma oportunidade.
Contra o Flamengo iria de:
Fábio(porque deve ter…
Show Vitor .
Muito bom, amigo.
Esse parece ser mais um ano que sofreremos na mão de técnicos limitados.
Ótima análise vitao. ST
Excelente texto, Victor!!! Infelizmente o Fluminense não quis investir em um técnico com ideias mais modernas sobre o futebol! Agora, sofre a torcida tricolor! Oremos!!! Abraços!