A sórdida perseguição ao Fluminense (por Edgard FC)

Mais uma vez e outra mais, a tentativa sórdida de lançar o Fluminense FC e sua imensa torcida aos leões decorre de modo que parece mesmo orquestrado, de tão ensaiado, tão deslavado, com caricaturas já famosas por espalhar ódio gratuito e ode à canalhice e ignorância, que inundaram as redes de ataque vil e nojento.

É mais do que sabido, por qualquer um que consiga diferenciar habeas corpus de Corpus Christi, que a sociedade brasileira é declarada e enrustida, ao mesmo tempo, histórica e culturalmente racista; bem como já nos apontara o professor Sílvio de Almeida em seu livro “Racismo Estrutural”, reverberando o que Kwame Turu e Charles Hamilton, no livro “Black Power”, apresentaram como conceito.

Não vou aqui entrar na seara acadêmica, pois se faz desnecessário como argumentação algo que vivenciamos o tempo inteiro passando por nossas janelas, todo dia, toda hora.

Usando dessas premissas básicas e óbvias, dizer que no início do século XX, bem como nos dias atuais, aconteciam práticas racistas e excludentes raciais como o Apartheid, será chover no molhado ululante.

Agora, tentar levantar bandeira, usufruir de um tema tão sério para atacar instituições, por puro ódio e, quem sabe rancor, versa uma patacoada e pilantragem sem igual.

O que fazem alguns, ditos historiadores, jornalistas, comunicadores, influencers e torcedores travestidos de guardiões de moral e bom costume, atacando de forma mentirosa, grotesca e desonesta a instituição Fluminense FC, é de total desalinho com o que os fatos nos trazem, mesmo o bom senso e senso de ridículo.

Quem em sã consciência e com as faculdades mentais em dia, continua a cair no conto do vigarista, de que o Fluminense obrigava jogadores negros a usarem pó-de-arroz (ou talco, pankake etc.) no rosto para fingir serem homens brancos?

Quem, mesmo tendo a possibilidade de se encontrar com a verdade e relação histórica, continua a se utilizar dessa abordagem idiota para criar uma narrativa estúpida, mas com ares de homofobia?

Pois é, essas pessoas existem e são muitas. Vide nosso recente colapso moral e institucional, com a maioria da população emulando as mesmas práticas para tomar partido nos rumos da política, por exemplo.

Sobre o caso do jogador Carlos Alberto Fonseca Neto, que havia saído do América FC e se transferido ao Fluminense no ano de 1914, o episódio que marcou a epopeia do pó-de-arroz se deu na partida entre as duas equipes; revoltados pelo atleta, que era muito bom de bola, ter trocado a equipe rubra pela tricolor, os torcedores americanos toda vez que Carlos Alberto tocava na bola, começavam a vaiar e berrar palavras de repúdio, dentre as quais: pó-de-arroz (talco inodoro utilizado como maquiagem e pós-banho, até os dias atuais), pelo fato de o atleta, bem como parte enorme dos homens à época, usar o produto após se barbear. A torcida do Fluminense então, resolveu utilizar o pó-de-arroz (ou talco) como um símbolo nas arquibancadas.

Para quem tem dúvidas sobre este expediente, basta consultar o que outras tantas torcidas, mundo afora fazem. Só aqui no Brasil temos outro exemplo, a do Palmeiras e o uso do porco como símbolo, por conta de votar contra uma exceção à regra em 1969, após o Corinthians pleitear junto à Federação Paulista de Futebol a inscrição de dois atletas extras para substituir outros dois que haviam morrido em acidente de carro, vetando assim a possibilidade de o Corinthians inscrever os atletas substitutos na competição.

O que fez o Alvinegro? Revoltado com a conduta do clube rival, a torcida corinthiana, antes da partida entres as equipes, soltou um porco no gramado para provocar o clube alviverde, para delírio dos torcedores que debochavam dos palmeirenses, os comparando ao animal suíno que corria à solta no gramado.

Retomando o caso do Fluminense, o maniqueísmo acerca do pó-de-arroz revela uma outra face, igualmente estúpida; durante décadas e até este presente momento, os torcedores rivais se utilizam da alcunha ‘pó-de-arroz’ para destilar homofobia, no que a torcida do Fluminense, mais uma vez, em novo contexto, voltou (e precisou entrar na Justiça para isso, pois havia sido proibido) a utilizar o pó-de-arroz nas arquibancadas, em um movimento de abraço a todos.

Um certo clube que tenta a todo custo, com bravatas e narrativas, associar o episódio do pó-de-arroz a racismo exclusivo do Fluminense, enquanto ao mesmo tempo, tenta associar o episódio que foi fruto de cisão e posteriormente de associação dos clubes cariocas em uma mesma liga organizadora. O Vasco que, antes do profissionalismo ser referendado por outros clubes – vale ressaltar que o futebol durante três décadas no Rio de Janeiro, era obrigatoriamente amador – já se utilizava de pagamentos aos atletas travestidos de funcionários de comércios e outras empresas dos sócios proprietários do clube. É verdade também que outros clubes escondiam tais práticas.

Tal situação, décadas depois, fez com que alguns casuístas associassem a história como racismo, por querer fazer crer que o veto ao profissionalismo pelas entidades, se dava para conter atletas negros de jogar futebol, o que é uma afronta aos fatos e à realidade.

O imbróglio, desatado logo depois, se deu para coibir as vantagens competitivas de atletas remunerados sobre jogadores amadores.
Sobre isso, posso falar com certa propriedade e tranquilidade. Sendo presidente de uma federação esportiva, a de Rugby do Rio de janeiro, a FFRU (Federação Fluminense de Rugby Union), convivo com esse fato histórico à olhos nus. Alguns clubes e instituições conseguem, de vez em quando, assalariar pessoas, enquanto a abrupta maioria é essencialmente amadora, com os atletas inclusive, pagando para treinar e jogar. Saindo do RJ e olhando para o Brasil, temos um clube em que, suas jogadoras e comissão técnica, são declaradamente profissionalizados. E adivinhem? Essa equipe vem ganhando todas as competições que disputa, pois com a força da grana, contrata atletas, as remunera, investe em suas formações, dispõe de estrutura ímpar, quais as demais equipes estão longe de alcançar.

Por conta de tudo exposto e transcrito, devemos apelar à razão e ao raciocínio lógico das pessoas, sem cair em gritarias e alaridos enxovalhados de ódio gratuito direcionado, repito o que disse no caput, de forma orquestrada com a finalidade de aniquilar uma instituição que sempre incomoda, porque brilha no sol da manhã ou na luz do refletor.

“Companheiros de luta e de glória, na peleja incruenta e de paz, disputamos no campo a vitória, do mais forte, mais destro e sagaz”!
Com esse trecho do segundo hino do Fluminense FC, encerro aqui essa contribuição e convite ao pensar. Não quis aqui levantar fatos históricos a fim de versar sobre ser menos ou mais racista, nem ergui uma tese em cima de coisas horríveis que nossos rivais já entoaram e tiveram como símbolos nas arquibancadas, pois acredito em uma sociedade em evolução, acertando a mão no debate, não quero aprofundar aqui, mas veja os casos recentes do jogador Robinho ou mesmo do treinador Alexi Stival.

Importante que saibamos lutar o bom combate.