É uma pena que ainda vivamos os tempos sem torcida: quando o garoto deu o corte e disparou no ângulo esquerdo, merecia um Maracanã de antigamente urrando pelo gol. Um monte de gente humilde pulando e se abraçando na comemoração.

Podia ser num clássico ou mesmo num jogo qualquer, desde que tivesse muito pó de arroz para celebrar.

Nestes tempos em que o pragmatismo impera, mais uma longa estiagem do futebol tricolor na Era Roger, o golão do Luiz Henrique foi muito mais do que um golão. Na verdade, a celebração da verdadeira vocação do Fluminense: a beleza do jogo, a excelência, o talento.

Não quero fazer previsões que eventualmente possam dar com os burros n’água. Quantas vezes já vimos jogadores até brilhantes que, por diversos motivos, acabaram não tendo grandes carreiras? Acontece e muito. Contudo, uma coisa é certa: garotos que viram esse gol no domingo passado vão carregá-lo para sempre, pouco importando se a temporada será virtuosa ou não. Eu estava lá em outubro de 1979 quando Cristóvão deixou Manguito no chão e acertou o ângulo de Cantarele.

Não é que o golaço baste. Imenso que é, o Fluminense não pode se limitar à condição de figurante nas competições. Tem que lutar para ser campeão. Entretanto, depois de tantas jornadas infelizes e partidas medíocres, a atuação de Luiz Henrique diante do Bragantino foi, no mínimo, a chance de ver a luzinha no fim do túnel.

A gente precisa lembrar que, por mais que se fale em assistência, intensidade, beiradas, transição, é preciso ter talento. Foi assim que um dia o Brasil se consagrou como o dono do melhor futebol do mundo – e o Fluminense teve grande participação neste processo. O papel que nos cabe não é o da mediocridade acomodada, mas sim o da liderança.

Que em 2022 seja tudo diferente para melhor.

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