Só no Brasil… (por Walace Cestari)

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Tive a sorte de poder passar alguns dias na belíssima cidade de Roma. Claro que aproveitei a oportunidade para ir assistir a uma partida de calcio. O jogo, válido pela Liga Europa, envolvia a Roma contra a equipe holandesa do Feyenoord. Era a hora de experimentar todo aquele alto padrão de espetáculos que a Europa desenvolvida tem a oferecer. Só que não.

Minha experiência não foi completamente igual a dos torcedores locais, já que não fiz a compra do ingresso no estádio ou em outro ponto. Com poucos dias disponíveis – Roma é uma cidade que não cabe em uma só existência – pedi ao hotel que providenciasse as entradas enquanto eu conhecia as belezas da Cidade Eterna.

O ingresso para a partida custou a bagatela € 35,00 (mais o concierge do hotel, mas isso não entra na conta comparativa, é claro). Como comparação, um táxi do aeroporto ao centro de Roma cobra € 48,00 a corrida; restaurantes populares a preços promocionais oferecem menus prontos ao custo de € 15,00 e uma entrada para conhecer o Coliseu custa € 12,00.

O ingresso é, comparativamente, mais caro que o nosso, mesmo que a conversão direta (R$ 115,00 aproximadamente) não seja a melhor maneira de comparar. O não tão sério índice “Big Mac” pode nos dar uma ideia do custo relativo dos ingressos: lá o sanduíche custa € 4,95 e aqui R$ 13,50. Um ingresso de arquibancada lá vale sete Big Macs enquanto aqui menos de quatro. Claro que há pouco de ciência econômica nisso, mas serve para dar uma noção do valor.

Enquanto isso, o clima esquentava nas piazzas romanas com a chegada dos violentos torcedores do Feyenoord. Por duas noites seguidas, os arruaceiros holandeses promoveram um verdadeiro terror na cidade. Garrafas atiradas, vidro por toda a parte, vandalismo (chegaram a danificar uma fonte do artista Bernini), confusão com a polícia e todas aquelas imagens que achamos só existirem no Brasil.

A Piazza di Spagna, tradicional ponto turístico de Roma, transformou-se em praça de guerra na tarde da partida, onde garrafas eram arremessadas contra a polícia, que respondia usando a mesma truculência da sua congênere brasileira. Feridos aos montes, presos e danos ao patrimônio público e privado foi o saldo da estupidez de alguns marginais que se utilizam do esporte para praticar a barbárie.

Mesmo com tudo isso, em lugar de tomar um táxi até o estádio, resolvi testar o transporte público italiano. Com o contingente reforçadíssimo, a força policial era onipresente nas imediações do estádio e locais de concentração de pessoas. Tomei o “tram”, uma espécie de bonde, até o estádio. É o momento que você espera que a Europa lhe impressione e você sinta vergonha do Brasil. Ledo engano.

Ok, o bondezinho não está caindo aos pedaços nem é sujo. Mas lotou. Lotou como qualquer ônibus de uma grande cidade brasileira na hora do rush. E sem ar condicionado. Não imaginei que seria possível suar no inverno europeu. Estava errado. Depois de abrir as portas, nada de o bonde partir. Lento, atrasado, encontrando vias bloqueadas por motoristas que desrespeitavam os cruzamentos, lotado e com a torcida romanesca batucando na lataria e cantando canções que hostilizavam a Lazio, percebi que não somos tão diferentes assim.

Entretanto, a diferença se deu na hora de entrar no estádio. Com total certeza, afirmo: entrar no Maracanã ou no Engenhão é tarefa muito mais simples e civilizada que no Estádio Olímpico de Roma. Duas portinholas. Era isso que fora oferecido para a entrada de milhares de torcedores do setor distinti sud. Empurra-empurra, gritos de “abre aí”, xingamentos e tudo o que podemos imaginar que já houve de pior aqui em filas de estádio acontece normalmente.

E mostra-se o bilhete. E o documento. E novamente o bilhete e o documento… Revista, olhada na bolsa, mochila e tudo o mais. Enfim, as arquibancadas. Apesar de haver o lugar marcado, percebi que – ao contrário do que imaginamos – não é uma regra sentar-se no assento indicado. Muitos trocam de lugar e não há o menor controle sobre isso.

A visão do estádio é boa, mas o campo é tão – ou mais – afastado que o Maracanã. As cadeiras são similares às antigas cadeiras amarelas do Maracanã, razoavelmente confortáveis, invariavelmente imundas.

Com uma torcida relativamente fria, a equipe da Roma fez uma partida ruim, com Gervinho perdendo gols que Fred faria e Totti em noite apagada. 1 x 1 foi um placar justo que deu mais sorrisos aos holandeses que aos italianos. De minha parte saí feliz, com um programa bem interessante para uma noite fria em Roma. Bom saber que há problemas em todo o lugar, que os nossos são semelhantes aos enfrentados pelos outros. Podemos olhar adiante do complexo de vira-latas e aposentar o mantra: “só no Brasil…”

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Foto: lancenet.com.br

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