Sem firulas, por favor (por Paulo-Roberto Andel)

atenção escada

I

Depois desse verdadeiro 11 de setembro na quarta-feira passada, o mínimo que se pode esperar do time do Fluminense em campo neste jogo contra o Botafogo é hombridade na acepção da palavra.

Respeito para com os tricolores de todo o Brasil e principalmente os de Brasília, tão apaixonados e com raras oportunidades de ver um jogo em seu estádio local – desta vez, ainda pagando ingressos caríssimos em mais um show de genialidade administrativa.

Compromisso em campo.

Não é hora de alarmismos, longe disso, mas é inaceitável andar em campo e ter jogado a classificação na Copa do Brasil fora da maneira como aconteceu, ainda mais tendo em vista uma equipe que vinha fazendo excelentes exibições no campeonato brasileiro, a ponto de até seus desafetos tradicionais curvarem-se (leia-se FlaPress).

A macabra derrota frente ao América de Natal não polui a campanha tricolor no Brasileirão, ao menos por ora; entretanto, óbvio que traz desconfianças em função da anormalidade dos fatos. O que constrói a duração de um time está no seu desempenho jogo a jogo, sendo que uma partida não tem “memória” em relação às anteriores. Isso deixa bem claro as reações ruidosas – e justíssimas – contra os 5 x 2, menos pelo resultado em si do que pela maneira que ele foi erguido. A torcida sabe o time que tem, o potencial que tem, daí a grande repercussão negativa.

Perder é do jogo; ser eliminado, até goleado, são coisas que podem eventualmente acontecer numa partida de futebol; entretanto, a única coisa que não pode faltar nas quatro linhas é dedicação. E isso vitimou o Fluminense no jogo do meio de semana: com o rei na barriga, parecendo um intelectualóide de meia tigela que não sobrevive sem um ghostwriter, voltou do intervalo na quarta-feira achando que tudo estava resolvido, empinou o nariz adunco e tomou um merecido nocaute.

Construir é sempre muito difícil. Para destruir, alguns segundos bastam. A campanha no Brasileirão é ótima, mas ainda há meses à frente, não ganhamos uma bitoca sequer e a soberba, aliada à mesquinharia, é capaz de provocar tsunamis.

Brincamos, fazemos piadas, nos divertimos, mas a verdade é que um adversário da grandeza do Botafogo merece respeito triplicado, pouco importando que passe uma grave crise ou tenha desfalques importantes. É simplesmente o clássico mais antigo da história do futebol brasileiro e isso já diz tudo.

Depois do vexame transmitido em rede nacional contra o América de Natal e alimentando a tradicional trincheira de manchetes contra nós – que sempre acontecem, mas desta vez com pleno merecimento -, o Fluminense chega aos momentos finais do turno com a obrigação de desfazer a péssima impressão.

Qualquer um prefere que seu time vença os jogos, tenha maravilhosas atuações e chegue perto da utopia do imbatível – e, por ser utopia, ela jamais será plena mas deve ser perseguida. Eu espero dignidade. Onze jogadores em campo honrando a camisa imortal. Ninguém virou perna de pau por causa de um jogo só. Agora, se alguém pensa que deve andar em campo ou fazer firula para usar como chantagem econômica, um abraço: se Preguinho, Castilho, Telê, Assis e Deco saíram, entre tantos outros, ninguém é insubstituível.

Diante de seu adversário mais tradicional, o Tricolor precisa mostrar que vai mesmo brigar pelo topo no fim do ano ou se, até aqui, todos pecamos pela ingenuidade. Todos sem exceção, inclusive os de fora; basta reler as manchetes.

Não existe conquista sem dedicação, seja ela qual for.  E não nos cabe o ar sonso de pré-campeões de coisa alguma.

Nada pode ser mais ridículo e, todos sabemos, o endereço da empáfia é outro.

II

A coincidência dos estranhos maus resultados de Fluminense, Internacional e São Paulo, todos eliminados e agora classificados para a Copa Sulamericana, faz pensar e muito.

Seria terrível para o futebol brasileiro se um dia as suspeitas de facilitação na Copa do Brasil 2014, hoje apenas suposições sem fundamento concreto, se confirmassem.

Em paralelo, a obsessão sem limites da televisão em aumentar, valorizar e esticar a CB, um torneio que era excelente e emocionante, além de permitir que times de menor porte participassem do cenário do futebol – copiamos o futebol europeu, colocamos 20 clubes na primeira divisão do Brasileiro, mas não levamos em conta que a Itália é do tamanho do Rio de Janeiro (guardadas as óbvias proporções).

Acredite se quiser: já houve campeonatos no Brasil em que um time, para avançar de fase, precisava perder um jogo. Ou um jogo que valesse ao mesmo tempo por dois campeonatos. Ou um time jogando duas competições em partidas diferentes no mesmo dia.

Contudo, uma coisa é certa: nada do que aconteceu nesta quarta-feira passada pode ter chegado à unha do nojo do dia 08/12/2013, quando manchetes foram suprimidas, jornalistas foram silenciados (alguns voluntariamente) e aí aconteceu a “maior coincidência de todos os tempos”, André Santos-Heverton.

Mais ridículo ainda é rever estelionatários da informação como o afetado Sormani e outros tentando equiparar o caso Flamenguesa ao recente julgamento do Criciúma por infração no Brasileiro, em situações completamente diferentes. É como se a intensidade do crime do ladrão de balas Juquinha das Lojas Americanas fosse a mesma de um bandido que entra numa casa, estupra as mulheres, mata o pai e, ao ser preso, fica rindo da polícia.

A respeito da Flamenguesa, já li e ouvi as mais “felomenais” sentenças, todas sem capacidade de resistência da tabuada por vinte segundos. Uma delas trata de uma grande armação para “melar” o Brasileiro 2013, num conluio entre… Vasco (!?), Fluminense e… Gávea. Ponho até a tabuada de lado: só falta dizerem que o Tricolor é o Rei das Papeletas Amarelas e que em São Januário há um tricampeonato em dois anos ou uma Copa União que não leva à Libertadores. Deixe entender: estivesse numa trapaça, então o Fluminense passou o domingo e a segunda-feira na hipotética segunda divisão, com a imagem do clube e do patrocinador manchadas nacional e internacionalmente para camuflar alguma coisa? E o Vasco aceitou voltar a campo na selvageria de Joinville e ser goleado para ratificar uma trapaça que não o beneficiou em nada? Então o caso André Santos-Heverton foi “apenas uma sucessão encadeada de incompetências”? Sempre lembro de meu amigo Bruno Saraceni: “É muita vontade de acreditar”.

Como é sabido pelos amigos desta coluna, em janeiro passado lancei “Pagar o quê? – Respostas à maior bravata do futebol brasileiro” ao lado de Marcelo Janot, Cezar Santa Ana, Valterson Botelho, Luiz Alberto Couceiro e João Marcelo Garcez. Um trabalho árduo, envolvendo pesquisa, história e literatura, abrangendo um período de três décadas e meia do futebol brasileiro. Para alguns não leitores tratou-se de achismo, o que rebato com um argumento singelo: quem resenha os livros que não leu tem a credibilidade do tamanho de uma azeitona. Por outro lado, tive a oportunidade de receber elogios inclusive de torcedores de times rivais citados no livro, o que só me orgulha.

Em “Pagar”, lá estão todos os grandes clubes do futebol brasileiro e seus causos que a gran imprensa abafa ou finge esquecer – datas, situações, manchetes. Há apenas duas exceções: os mineiros Cruzeiro e Atlético. Porém, uma ressalva é inevitável: não pesquisamos a fundo as Eras Perrela e Kalil, marcadas pela “filantropia”, por absoluta falta de tempo e foco em outras prioridades.

Nessa história toda o Clube dos 13 não teve ausências. O resumo é de cada um.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: google

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