Hoje, no horário de “cadeira vazia”, vem o Fluminense para mais um compromisso. É o destruído Carioca, mas um compromisso e a expectativa de um bom começo de 2016 de vez – o ano novo começou ontem depois das notas da Sapucaí, sem diminuir as trapalhadas de janeiro.
Antigamente é claro que havia jogos deficitários, mas o conceito era outro. Qualquer partida na rua Bariri, na Conselheiro Galvão ou no querido estádio de Moça Bonita, a casa enchia. Não se trata de saudosismo; a população aumentou bastante em trinta ou quarenta anos e, se houvesse um mínimo de promoção, organização e atrativos, o público nas arquibancadas seria ao menos um pouco melhor, mesmo com a TV e as novas tecnologias – estas, muito mal aproveitadas. Falando em transmissão, o sistema atual equivale ao petróleo: tem importância, vem sendo depreciado, ainda tem muito poder mas um dia acabará. Ficando (desvalorizado) na Globo ou tendo o novo parceiro EI no futuro, o Flu não pode tratar o seu futebol como uma monocultura desvalorizada pelo comprador. Inovar será preciso.
Até a saudável rivalidade em “secar” os rivais foi sendo desestimulada e substituída por uma verborragia oca e ofensiva. A audiência de qualquer jogo não está apenas na dependência de uma torcida, e é isso que a Globo não aprendeu: as espanholizações da vida só danificam o produto futebol, espantando e esfriando boa parte do público alvo.
Escrevendo essas linhas, espiei os jogos da televisão desta quarta às sete e meia. As arquibancadas estavam cheias de ninguém (o Vasco ainda tinha uns cinco mil). Frio, desinteressante, dando para ouvir os gritos individuais dos torcedores mais exaltados. Quem ganha com isso? Qual é a grande vantagem de ser campeão de um torneio falido? Nenhuma, exceto pela alimentação da própria vaidade e o sentimento – justo – de que o Fluminense deve jogar tudo para ganhar.
O que fazer logo mais então? Sair mais cedo do trabalho, ligar a TV em casa e viver mais um capítulo do exílio tricolor, torcendo por uma boa partida, acreditando (mas não muito) na reparação de velhos erros, sonhando que tenha finalmente chegado a libertação daquele 2013. Traduzindo: uma boa partidinha já alivia. É o Flu em campo.
Com uma vitória convincente, dá até para se lembrar daquelas primeiras rodadas de 1983, ou antes. O time era cheio de desconhecidos, ninguém sabia no que ia dar. Os garotos de Copacabana pegavam o ônibus 435, que passava em frente ao clube, descia o Santa Bárbara, ladeava o Catumbi e logo se via os blocos de concreto, substituindo as estruturas metálicas que ficavam ali alugadas o ano inteiro – mamata de João Mendes liquidada por Brizola. Estava nascendo de vez o Sambódromo, ao lado de um Fluminense com gana de vencedor. Agora, três décadas depois, a Apoteose é uma franca realidade. Vamos ver o que dá com as nossas cores neste ano, sempre com esperança mas sem abrir mão da lucidez.
Se o caso é acompanhar, torçamos como sempre. Vai, Fluzão.
Panorama Tricolor
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