Vivenciamos o segundo turno da eleição para presidente do Brasil. Desde sempre, sabia com exatidão em quem votaria.
Votei em quem me representa dentro de um modelo mental onde cabem todos. Cabem o multiculturalismo, o respeito à diversidade, a exaltação ao amor, a distribuição de renda, a universalização de direitos básicos, a educação.
E hoje o Brasil acordou mais colorido e feliz, com a graça divina. Viva!
Por coincidência, aproxima-se, também, mais uma eleição: para presidente do Fluminense.
Nessa, sei com exatidão em quem não votar.
Não votarei em quem não age com transparência nas negociações da instituição, em quem não cumpre o que promete, em quem utiliza o dinheiro da instituição com péssimas, eu disse, péssimas contratações. Não votarei em quem cerceou o direito que os inúmeros sócios tinham de votar para presidente do clube.
Embora eu ache um número subdimensionado, estima-se que haja 5 milhões de torcedores tricolores em todo o Brasil.
Quantos moram no Estado do Rio de Janeiro? Quantos moram na bela cidade maravilhosa? Ora, se a população da capital fluminense está em torno de 6 milhões de habitantes e o Estado do Rio de Janeiro tem pouco mais de 16 milhões de habitantes, onde estará a maioria dos torcedores tricolores? Certamente não é nos limites territoriais cariocas.
Meu boss Andel, estatístico de primeira linha, certamente vai averiguar eventuais falhas que eu cometer ao falar sobre população e voto. O craque Alexandre Berwanger, que já pesquisou sobre o tamanho das torcidas no Rio de Janeiro, também deve auditar meus dados.
Mas, se é verdade que o Fluminense possui 5 milhões de torcedores e se é verdade que a torcida do tricolor corresponde a 12% da população do Estado do Rio de Janeiro, estamos falando que deve existir algo em torno de 2 milhões de torcedores tricolores no Rio? Isso se consideramos que todos os cariocas têm time de futebol de preferência.
Se assim for, onde estão os outros 3 milhões de torcedores? Só há uma resposta: espalhados pelas demais 26 Unidades da Federação.
Só mais uma conta, de padaria como dizem, mas vale mesmo assim. O Fluminense comemora o feito de alcançar 60 mil sócios-torcedores no ano de 2022. De fato, é um grande feito. Parabenizo pela estratégia. Mas, quantos desses sócios residem fora do Rio de Janeiro? A julgar pelo número de tricolores distribuídos pelo país, certamente, por silogismo, há um número considerável de sócios não residentes no Rio.
Eu sou uma delas, e meu plano nem é da categoria Toda Terra! Meu plano é bem anterior e pago como se no Rio de Janeiro morasse. Pago porque faz parte do meu conceito participativo ser sócia do clube, colaborar com sua renda e conseguir, quem sabe, a proeza de bancar parte das contas e a manutenção das “pratas da casa” por muito mais tempo em Laranjeiras. Pago com o orgulho de estampar na minha carteira que sou parceira, membro, afiliada e corresponsável pelo Fluminense.
Como sócia, diferente da eleição para presidente do meu país, talvez eu não consiga votar para presidência do Fluminense. Sabe por quê? Porque pela falta do voto online, ou do voto em trânsito, como preferirem, eu não sei se conseguirei ir ao Rio de Janeiro exercer o meu direito.
Uma simples e eficiente solução tecnológica, feita por muitos clubes no Brasil, teria garantido nosso direito. O Sport Club Internacional, importante instituição futebolística brasileira, tem opções de voto à distância e virtual desde 2018, salvo engano.
No ano de 2018, os sócios do Inter puderam votar para presidente de forma presencial, por aplicativo de celular e por e-mail. Imaginem!
Nessa semana, ao anunciar a candidatura à reeleição para presidente, o mandatário do Fluminense tentou, mais uma vez, justificar a não implementação do voto online, sob o pretexto de que para que isso acontecesse deveria haver mudanças no Estatuto do Clube. E por que não o fez nos últimos anos, já que isso havia sido uma promessa do candidato na última eleição?
Porque não há o menor interesse de ampliar a massa de votantes. Porque é mais difícil controlar eleitores no Brasil inteiro. Ao contrário do que o mandatário disse, que o Fluminense é o clube mais democrático do Rio de Janeiro, sinto-me encarcerada no meu poder de fala mais legítimo, que é o voto.
Ah, mas caso eu consiga passagem a preço acessível, caso eu consiga hospedagem a valores que caibam no meu poder de aquisição, eu irei votar. E, com toda a convicção do meu ser, não votarei em quem cerceou o meu direito se utilizando de argumentos legais e administrativos, quando o motivo da não ação foi totalmente político.
Em quem eu votarei para presidente do Fluminense? Não sei ainda. Mas quem sabe na próxima eleição uma mulher se candidate, quebrando a hegemonia masculina na direção do clube e ampliando o poder da diversidade em todos os campos políticos.
Só uma pergunta..Fez esse tipo de comentário ou cobrança as gestões anteriores?
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