Roniquito, chamado Ronald Russel Wallace de Chevalier, foi um dos boêmios mais amados e odiados da clássica Ipanema nos anos 1960 e 1970. Intelectual afável, economista de respeito, simpático e talentoso, transformava-se ao primeiro copo de uísque e virava um dos bebuns mais terríveis do Rio em termos de incorreção política, o que invariavelmente o levava a apanhar muito. Suas histórias foram transformadas em livro por sua irmã, a espetacular e saudosa Scarlet Moon de Chevalier.
Uma das melhores tiradas de Roniquito foi quando, ao entrar num convescote cheio de anônimos e deslumbrados numa famosa boate carioca, sentenciou: “Porra, esta festa está cheia de ninguém”. Definitivo.
Infelizmente, a máxima de Roniquito serve para definir o Fluminense atual em todos os seus cenários: elenco, direção, conselho, clube, “formadores de opinião” (isso é patético) e até mesmo parte da torcida. O Fluminense está cheio de ninguém, salvo honrosas exceções.
Não quer dizer desrespeito ou desvalorização das pessoas, mas sim a triste constatação de um fato. No caso, a expressão “ninguém” se refere a perdermos nossos expoentes e passarmos a contar com nomes comuns, medíocres (ainda que autoproclamados importantes), que explicam essa quase década de faquirismo de títulos, de anemia da vitória. O velho Fluminense, que causava calafrios após dois anos sem conquistas, agora precisa transformar a respeitosa – mas humílima – Primeira Liga num título continental para disfarçar sua condição atual.
Às vésperas de um Fla x Flu, a constatação acima causa enorme tristeza. Em condições normais do passado, este clássico significaria para o Fluminense uma possível arrancada para o título. Hoje, o que nos resta é a tal campanha digna para ir à Libertadores 2022 (sem nenhuma perspectiva de título), isso enquanto o grande rival disputa a final da Libertadores atual, sonha com o tricampeonato brasileiro (que não vencemos há nove anos) e está a um passo de decidir a Copa do Brasil (que não vencemos há catorze temporadas). Entendo quem odeia eventuais comparações com o rival, cuja excelência atual não se resume a competência; contudo, não é negando fatos, nem tapando o sol com a peneira, que vamos conseguir transformar o Fluminense de modo a resgatar seu berço esplêndido. Nesta última década, em especial nos últimos cinco anos, a transformação do rival ajuda – e muito – a entender como nos apequenamos tanto.
Por isso não temos como vencer o Fla x Flu? É claro que podemos. Cada jogo é uma história e neste sábado não será diferente. Agora, uma eventual vitória não pode servir para nos enganar, para empurrar uma tonelada de sujeira para debaixo do tapete tricolor, para dizer que está tudo bem no Fluminense porque evidentemente não está. Nosso lugar não é o quinto ou o sétimo ou nono, mas sim brigando pelo primeiro – e quem discorda disso não entende patavina de Fluminense.
Tomara que neste sábado possamos rever em campo momentos do grande Fluminense do passado, que escreveu grandes histórias do maior clássico do futebol brasileiro, que não se limitava a figurações e discursos pernósticos. Assim que a bola rolar, a gente se desliga temporariamente dos problemas e torce com tudo pela vitória no Fla X Flu. Depois, retomamos as discussões necessárias para que o clube retome o curso natural de sua história, a começar pelas eleições tricolores em 2022.
Roniquito era genial, mas sua máxima não serve para as Laranjeiras. Não precisamos do protagonismo pueril de picocelebridades, humoristas, parajornalistas, tuiteiros deslumbrados, verborrágicos ocos e outras criaturas exóticas, mas sim de colocar os melhores nomes nas melhores posições para voltarmos a ser os favoritos em vez de figurantes.
E quem seria este nome ?
Só possuimos em nosso quadro social ANÔNIMOS !!
Abs. STR4 !