Rodrigues Neto (por Paulo-Roberto Andel)

Faleceu o craque da lateral. Seu menos ano no Fluminense valeu por oito no rival. Claro, ele era um expoente da Máquina e consequentemente condenado à eternidade. Mais um que vai embora antes da hora do time mais emblemático que o Tricolor já teve.

No campo, lembro dele em trechos. Quando comecei a ver todos os jogos RN tinha se mandado. Cheguei a vê-lo no Inter e li na revista Placar que, quando jogava no Ferrocarril Oeste da Argentina, falava “ensalada de legucha”. Foi meu botão no time colorado, numa coleção feita com o enorme sacrifício profissional da minha amada mãe, acompanhado por outros próceres como Abel, Edinho e até o Tita (que jogava muito na mesa).

São raras as entrevistas de Rodrigues Neto. Salvo alguns pontos eventuais, ao encerrar a carreira no campo ele praticamente desapareceu da mídia. Discrição. Recolhimento. Tudo diferente de hoje. Pouco se sabe do craque depois dos gramados.

Em 1983, o querido São Cristóvão montou a sua cooperativa de jogadores para disputar o Campeonato Carioca. E estreou na Taça Guanabara apanhando do Fluminense, quando dávamos o primeiro passo de uma época de glórias, iniciado numa tarde/noite de sábado em São Januário. O São Cricri não pagava salário aos jogadores, mas repassava a eles 80% da renda líquida das partidas. Junto a Rodrigues Neto – que era jogador e também treinador -, estavam feras como Edu (ex-Santos), Gil (da Máquina), Rui Rei (ex-Corinthians), o goleiro Nielsen (também do Flu), Orlando Lelé (ex-Vasco), Jaime de Almeida (zagueiro e futuro treinador campeão pelo Flamengo) e Nílson Dias (ex-Botafogo). Um timaço no papel, mas formado por veteranos que não seguraram a onda na competição.

Naquele tempo, Rodrigues Neto vivia no meu prédio. Várias e várias vezes subimos juntos no elevador, sempre depois da meia-noite. Eu era um garoto e sonhava com o Fluminense, a libertação do Brasil, tinha meu Maracanã todo fim de semana. Ele era o craque consagrado, já no final de carreira, um monstro. Ia para o décimo-terceiro andar, acho. Foram tantas e tantas vezes que eu achei que ele morasse lá, mas o tempo me ensinou que ninguém tem certeza de quem realmente mora em Copacabana, seja lá qual for a situação. Além do mais, o ator Walmor Chagas, o compositor Edson Trindade e os cantores Cauby Peixoto e Toni Tornado também eram habituês do prédio.

Lembro mesmo é do meu pai dizendo “Aquele ali é o Rodrigues Neto, que foi do Fluminense e da Seleção”. Eu reverenciava calado. Eram tempos em que você via um craque famoso na mesma calçada ou viagem de elevador. Eram seres humanos de carne, osso e talento. Mais de uma vez o vi nos Supermercados Leão, bem em frente ao prédio, comprando acepipes e drinques.

Foi outro dia mesmo e lá se foram 36 anos. A vida não espera, a saudade só aperta.

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