Faz muito tempo. Quarenta e sete anos. Contudo, o futebol tem uma força tão grande que os acontecimentos superam a passagem dos anos e das décadas.
Roberto Rivellino tinha acabado de fazer 29 anos – hoje faz 76 -, e embora estivesse deixando o Corinthians de forma ruidosa, era simplesmente o maior camisa 10 do futebol brasileiro na ocasião e, consequentemente, do mundo. Em toda a Terra, somente o maravilhoso holandês Cruijff teria como lhe fazer frente, sendo que Rivellino era muito mais mortífero em chutes e bolas paradas.
O Flu, que vinha de uma jornada virtuosa em 1969/70/71 e 73, mas claudicante em 1974, começava a montar o time mais emblemático de sua história – a Máquina Tricolor. Certamente não foi o mais vencedor, posto do supertime da segunda metade dos anos 1930, mas com certeza foi o mais emblemático, deslumbrante e apaixonante time que o Fluminense já teve em campo, responsável pela formação de uma geração inteira de torcedores, além de detentor da melhor média de público do Tricolor em sua história.
A força da Máquina é tão avassaladora que, ao ver um poster do time, nenhum torcedor se refere a ele como “o time do Félix” ou “do Doval” ou do “Paulo Cezar”, mas simplesmente A Máquina. E o mais incrível: com o maior jogador do mundo em 1975 e 1976 vestindo sua camisa 10. Por sua vez, ninguém fala “A Máquina de Rivellino” e isso quer dizer sobre unidade, conjunto, equipe. Time de sonhos e delírios. A Máquina é a Máquina. Ponto.
Por outro lado, Rivellino garantiu seu lugar como um dos maiores ídolos da história do Fluminense. Em menos de quatro temporadas, ele fez chover e ensolarar o Maracanã com seus gols e jogadas celestiais, em muitos jogos e diversas goleadas. Liderou a conquista de dois campeonatos cariocas quando a competição era a mais importante do país, e só bateu na trave em dois brasileiros porque numa vez enfrentou o Inter – que tinha um dos maiores times do mundo – e noutra perdeu para a tempestade quando enfrentou o Corinthians, num jogo que dá um livro inteiro e os próprios corintianos admitem a total superioridade tricolor. O Fluminense perdeu dois campeonatos brasileiros? Azar dos campeonatos… Éramos a Seleção Brasileira vestida de grená, branco e verde, fato que nunca mais se repetiu mesmo quando ganhamos grandes títulos a seguir.
O que posso falar de Rivellino? Adulto, ao lado de Raul Sussekind e outros colegas, entrevistei dezenas de personalidades tricolores vindas de diversas gerações, entre os anos de 2005 e 2012. Entre os maiores de 40 anos, dois nomes eram unanimidade de paixão na amostra de entrevistados: Castilho, claro, e Rivellino. Ao falar do eterno camisa 10, muitas vezes vi depoimentos com olhos marejados, prestes a desabar em lágrimas de alegria por terem visto um dos maiores craques de todos os tempos com a camisa tricolor. Na pequena parte que me cabe, a lembrança é invariavelmente ser levantado para cima e navegar em braços de torcedores risonhos – eu tinha seis para sete anos de idade e, pequenininho, vi a Máquina do alto muitas vezes, enquanto meu pai ria com grandes gols.
Rivellino faz 76 anos neste 01 de janeiro, mas já está condenado à imortalidade há quase meio século. O camisa 10 das Laranjeiras não foi apenas gênio ou craque, nem apenas o maior do mundo comandando nosso time. Na verdade Rivellino foi cinema, o que as câmeras do Canal 100 não deixam mentir, mesmo com o rubro-negro Carlinhos Niemeyer comandando as lentes. O Fluminense avançou pelo neo realismo italiano, chegou à Nouvelle Vague e desembarcou no Cinema Novo.
Entre 1975 e 1976, o Tricolor foi o time mais admirado e invejado do planeta, e muito disso se deve ao talento implacável e faiscante de Roberto Rivellino, que se tivesse nascido na Inglaterra já seria Sir há muito tempo.
Um monstro do futebol, monstro!
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Aqui se escreve a história do Fluminense. Aqui se vive o Fluminensismo.
Feliz 2022.