Nessa época de “barata voa”, a defesa do Fluminense é, sem dúvida, o setor que mais preocupa. Com exceção do Fábio, mais ninguém oferece tanta segurança e estabilidade.
Relembro os zagueiros que vi jogar e que marcaram época no clube. Já falei por aqui do lendário Pinheiro (que conheci pelas histórias do meu pai), e Edinho (que acompanhei das arquibancadas com a Máquina). E agora vem o repatriamento do Thiago Silva, cria de Xerém, mas que ficou muito tempo afastado das origens.
Destes mais recentes, sempre tive profunda admiração pelo Ricardo Gomes. Me lembro de jogos fantásticos dele, sempre elogiado inclusive pelos seus adversários por sua postura em campo. Posso afirmar que foi o melhor zagueiro que vi atuar com a camisa tricolor. O mais completo. Uma vez conversando com Carlos Alberto Parreira, o mestre citou um detalhe importante que poucos sabiam sobre o jogador: Ricardo tinha uma visão periférica privilegiada. Ele não precisava virar o pescoço e o tronco para articular a jogada. Dominava a área de cabeça erguida, justamente por saber o que se passava ao seu redor. Com isso ganhava tempo e levava vantagem.
Acho até que ele teria uma certa dificuldade de jogar no Fluminense do Fernando Diniz, que toca eternamente a bola de um lado para o outro. Com objetividade, Ricardo já partia com a bola dominada, sabendo o que fazer. Não inventava nunca. Era segurança e precisão.
Numa partida contra o América, se não me engano em 1985, o lateral Polaco driblou uns três, ia destroçado nossa defesa, Ricardo deixou o cara passar e, estrategicamente, só escorou a bola que vinha com certa velocidade. Deu um pequeno drible, como se fosse fácil. Para ele era mesmo. Que categoria!
Alguns anos depois, já como treinador, tivemos uma coincidência muito peculiar. Em julho de 2011 tive um AVC, sem sequelas motoras. No mês seguinte, assistindo em casa a um Vasco x Flamengo, vivi uma angústia que parecia interminável. Foi quando Ricardo colocou as mãos na cabeça, ficou pálido e transtornado. O repórter correu com o médico Fernando Mattar, chamaram a ambulância e atestaram alguns sintomas de AVC. Foi a minha primeira crise de ansiedade, pouco mais de um mês de eu ter escapado do que ele estaria passando naquele momento.
Não tinha sentido. Um ídolo, ex atleta, cheio de energia e saúde. Mas foi sim. Meses depois enviei uma mensagem de pronto restabelecimento, respondida com extrema delicadeza, depois de um bom tempo. Fiquei feliz em vê-lo ao lado da família, em plena recuperação.
Quase 13 anos se passaram e estamos aqui, Ricardo. Sobrevivemos! Hoje você está na CBF, espero que bem. Enquanto se fala em milhões de euros por zagueiros mais ou menos, craques apenas em mídias sociais, minha memória (que não é mais a mesma), não me deixa falhar: você foi o melhor, disparado.
Ricardo Gomes também o vi jogar. Imponente na zaga, saída de bola impecável eu o colocaria em um nível de igualdade a Franco Baresi, sendo ele um pouco melhor pois claro é Fluzão