Bem feito, trouxa
Publicado em Click RBS por Diego Figueira, editor de Esportes do Diário Gaúcho desde 2002, em 10 de dezembro de 2009
O espertalhão aqui (junto com toda a imprensa esportiva do país) resolveu dizer, já em setembro, que o Brasileirão tinha campeão: o Palmeiras, que acabou sucumbindo às suas fraquezas. O campeão, tudo bem, todo mundo erra, mesmo. E os outros times que chegaram à frente do Verdão (o campeão Flamengo – e aqui vão abraços aos amigos Bruno Azevedo e Cristiano Mattos, o mestre Cabeleira –, o Internacional, o São Paulo e o Cruzeiro) têm camisas muito fortes e histórias gigantescas.
E duvidei de outro gigante. Era setembro e resolvi decretar que o Fluminense estava rebaixado, por mais que o gigante Nelson Rodrigues jamais tenha cansado de avisar que “o Fluminense tem a vocação da eternidade”.
Bem feito, trouxa.
Acompanhei, com a respiração suspensa, as improváveis recuperações do time e do treinador Cuca – tido por muitos (claro, por mim também) como sorumbático, azarado, até depressivo. Uma versão futebolística de Hardy Har-Har, a derrotista hiena que jamais ria e passava a eternidade e resmungar “Oh, vida… oh, azar…” nos inesquecíveis desenhos da Hanna-Barbera.
Espero ter aprendido. Não se duvida de um clube como o Fluminense. Poderia ser rebaixado? Claro. Tanto que chegou à última rodada precisando de um ponto. Jamais, porém, um clube desta magnitude cairia sem lutar.
E não se duvida de um centroavante. Ainda mais quando é craque, como Fred, que ainda não está no topo de sua forma, demonstrou ser.
Não vi ninguém falar disso, mas nos 11 jogos de invencibilidade na gloriosa luta contra a morte, o Fluminense igualou suas maiores seqüências de vitória em Campeonatos Brasileiros (seis jogos, em 1982, com Dino Sani e em 1988, com Sérgio Cosme).
Cuca foi o engenheiro desta obra que o Brasil julgava condenada. Acertou no cerne da questão ao afastar desinteressados jogadores como o zagueiro Luiz Alberto, os volantes Fabinho e Wellington Monteiro e outros que, apesar da garra, não davam mais resultado, como o goleiro Fernando Henrique. Apostou em talentos da casa, como Alan, Dalton, Digão, Dieguinho e Maicon. Recuperou o volante Diguinho, que não vinha jogando nada e foi um operário fundamental no reerguimento da fundação tricolor; chamou os talentos do time, Conca e Fred à responsabilidade e deu chance ao seguro goleiro Rafael.
Cuca mereceu, o Fluminense mereceu, a imensa nação tricolor mereceu. A Sul-Americana não veio, mas agora atletas, comissão técnica e torcida sabem o caminho. Espera-se que os dirigentes tenham aprendido.
Panorama Tricolor
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Imagem: organizadasbrasil.com