Resumo de seis meses de crônicas no PANORAMA (por Paulo-Roberto Andel)

A seguir, trechos de minhas colunas publicadas neste PANORAMA entre fevereiro de 2021 e agosto presente.

25/02/2021

Depois de anos lutando contra sucessivas ameaças de rebaixamento, é certo que o fim desta temporada representa alívio, tranquilidade e até mesmo algum sucesso. Perto do que o Brasileiro parecia ser nas primeiras dez ou quinze rodadas, o Fluminense conseguiu bem mais do que se esperava e tranquilizou sua torcida. Cabe apenas a observação de que conseguir a vaga na Libertadores ou terminar em quarto/quinto lugar não é ser campeão, e esse deve ser o objetivo de todo jogador, membro da Comissão Técnica ou dirigente que vista a camisa do clube. O Fluminense não deve ser figurante nem coadjuvante, mas ator principal de todas as competições que disputa. Seus torcedores devem sentir conforto com boas colocações – a felicidade é com conquistas, com títulos.

09/03/2021

Mais uma vez: contratação não é necessariamente reforço. Nas últimas temporadas o Fluminense teve toneladas de contratações, mas os reforços não vieram a gosto.

Ainda sobre Wellington: parece ter sido um pedido de Roger. Seus entusiastas afirmam que a força do jogador virá da experiência, que teve um longo período de sucesso no São Paulo. Ok, mas futebol é momento e, neste, Wellington era banco de Richard no Athletico, aquele mesmo que salvou o Fluminense com seu gol de cabeça contra o America Mineiro em 2019. Será que um grupo que conta com Nenê, Fred, Ganso, Egídio, Matheus Ferraz, Muriel, Samuel Xavier, Luccas Claro, Danilo Barcelos e outros precisa priorizar a experiência? De toda forma, seguimos torcendo.

11/03/2021

A recontratação de Hudson é mais um exemplo típico de como funciona o entra e sai angiônico de jogadores do Fluminense, mesmo com o êxito da conquista da vaga à Copa Libertadores 2021.

Vindo do São Paulo, com mais de trinta anos (mera observação), o jogador não funcionou no Fluminense em 2020. Não conseguiu repetir a performance de temporadas mais distantes, especialmente pela marcação e lentidão.

Então Hudson retornou ao São Paulo. Apesar de certa crueldade de parte da torcida, comemorando a saída, a explicação era óbvia: a contratação não vingou.

Quinze dias depois, virou o “novo reforço” do Fluminense, que prioriza em 2021 uma competição que, em sua essência, costuma ser disputada em partidas de muito empenho físico e velocidade, especialmente se for o caso de jogos na altitude.

08/04/2021

Não esquecemos do caso Live Sorte porque não somos estúpidos.

Não esquecemos do deboche de Uram na saída de Evanílson porque não somos estúpidos.

O dirigente picocelebridade dizendo que a torcida não assina cheques, também não esquecemos porque não somos estúpidos.

Defendemos a verdadeira democracia do voto on line porque não somos estúpidos.

Vimos recentemente os prints dos funcionários mais humildes, não somos estúpidos.

Percebemos os bonecos plantados nas redes sociais para defender incondicionalmente a gestão nos fatos mais inacreditáveis. Não somos estúpidos. Crescimento súbito exponencial de picocelebridades pró-gestão? Sabemos. Não somos estúpidos, é claro. Nós não entramos nesse ônibus agora…

Vamos torcer como nunca porque somos tricolores, até mesmo nos cenários mais improváveis. Elogiar quando for justo e criticar idem. Aqui ninguém aluga opinião para dirigentes. Claro, não somos estúpidos, mas reconheço que nem todos podem dizer isso na turma do “apaga tuíte”.

25/05/2021

Acabou o campeonato carioca.

E mais uma vez o Fluminense fez papel de convidado para a festa, de figurante. Na hora H, limitou-se a servir a bola passivamente para que seu o adversário o amassasse feito paçoca.

Há quem não se importe com isso. Que acha que o campeonato não serve para nada, que é inútil, inclusive amigos que gosto e muito respeito intelectualmente, mas sinceramente não concordo em nada nesse tema.

A grande verdade é que, nesse momento, nessa terça-feira, há milhares de pequenos tricolores com a cara no chão por conta da situação ridícula que o Fluminense apresentou na final, o que pode piorar ainda mais caso não venha a classificação na Libertadores logo mais.

Para mim, onde o Fluminense pisa é lugar de decisão e de conquista. Não pode existir brincadeira, descaso ou deboche, não interessa o adversário nem a competição. Entendo que muitos tenham como foco único a Libertadores ou a Sul-americana, que é a sua segunda divisão, sejamos honestos, mas isso não pode servir de justificativa para uma situação tão ridícula, tão constrangedora, tão sem vontade de vencer, de disputar, caso do último sábado.

02/06/2021

“Você pode ter dinheiro, pode ter fama e poder, pode decidir muita coisa mas, em alguma hora, o espelho te alertará que nada daquilo importa se você for um medíocre”.

“Muitos medíocres ficaram famosos às custas do Fluminense, mas quando o tempo passou só lhes restou a mediocridade”.

07/06/2021

Não se trata de não valorizar certa evolução visível em partidas mais recentes, mas sim de saber que um quilo não é uma tonelada. E que algumas deficiências também visíveis podem cobrar o preço mais cedo ou mais tarde, caso de Egídio, que já ia entregando a paçoca mais uma vez, assim como a entregou contra o São Paulo fazendo mais um de seus pênaltis ridículos – só não perdemos porque o árbitro não viu.

17/06/2021

O senso crítico, ou melhor, a falta dele, associado a uma tremenda máquina midiática, leva muitos tricolores a ver ouro em latão. Assim, jogadores medianos ou medíocres, geralmente de idade mais avançada, são tratados como super craques mas os resultados, é claro, ficam sempre abaixo das expectativas. Não é coincidência. Para muitos, o Fluminense já entra como favorito a títulos que jamais conquistou, tudo é belo e perfeito, os adversários não são grande coisa, vamos passar o trator e até o Bragantino, força emergente do futebol brasileiro com capital transnacional, depois de décadas no ostracismo, vira um Real Madrid a ser batido. Em tempo: nos dois jogos lá, eles nos amassaram mesmo.

Ao primeiro grande resultado, a torcida naturalmente carente enlouquece e vive de migalhas: oh, nós vencemos o River Plate, também já vencemos o Penarol, o Boca Juniors e outros. Pergunta-se: e daí? Isso deu um sonhado título continental ao Fluminense? Não. Pode ser que dê neste 2021? Tomara, ainda que as escalações e substituições extraterrestres de um treinador que, a cada dia que passa, parece decepcionante como profissional e como pessoa, sejam a dura realidade.

O mais estranho dessa história toda é que a função da crítica, do cronista, do jornalista, do comentarista, fica deturpada. Os que apontam problemas e até sugerem soluções “não são tricolores”, “são traidores”, “querem boquinha”, “nunca deram dois treinos”, não leram direito o que foi escrito ou dito, como se fosse obrigação servir de claque para a repetição de mentiras e sandices, baseando informação na cópia da cópia dos clippings – patético. Enquanto isso, o panfletarismo chapa-branca come solto por sites, blogs e perfis que, do nada, compram likes, tornam-se “campeões de audiência” e passam a formar um cinturão de apoio ao maior presidente de clubes na história do futebol brasileiro, bem como sua troupe, algo que pode ser útil a esse cast mas não ao clube.

Quem é a verdadeira boquinha?

24/06/2021

Mesmo com tudo isso, que acontece com muitos clubes e no Fluminense parece “apenas” pior, a campanha poderia ser menos desagradável em termos visuais. Hoje o Flu chega a ofender seu torcedor com o futebol apresentado. Qualquer equipe, das modestas do Carioquinha aos emergentes do Brasileirão, coloca o Tricolor nas cordas no segundo tempo. Qualquer equipe. Parece um time pequeno, uma equipe sem maiores pretensões esportivas. O pior é se achar que está tudo bem, que é normal. Sinceramente, diante deste cenário, é sério que tem alguém surpreso com o Fluminense?

A poucos meses de completar nove anos sem títulos expressivos, a maior seca de toda a sua história profissional, o clube precisa se reinventar. Estamos piores do que estávamos há três ou seis meses. Bem piores.

Falta um mês para o Tricolor jogar sua sorte na Libertadores e na Copa do Brasil. Se pretende avançar nas competições, o time vai precisar melhorar muito. Não temos uma triangulação, uma jogada ensaiada, uma saída em bloco, nada.

No fim, as desculpas se repetem: falta de tempo para treinar (o quê?), viagens, cansaço, desgaste, várias competições simultâneas e tudo aquilo que qualquer time brasileiro precisa encarar, desde que se proponha a conquistar títulos – e deve, ou ao menos deveria ser o caso do Fluminense.

09/08/2021

Só os idiotas resolvem escolher quem é “tricolor de verdade” e quem não é. Uma estupidez sem tamanho. Todos os tricolores torcem pelo Fluminense. O que diferencia uns de outros é a noção de grandeza do clube, de sua história e vocação, de sua capacidade. É a diferença de quem já viu o Fluminense gigantesco e de quem comemora quinto lugar – isso dava porrada em 1982. É entender que o Fluminense não pode ser ridículo, porque sua obrigação é a grandiosidade. É entender que o Fluminense não pode ser coadjuvante nem figurante de competição alguma: basta estudar a história do clube minimamente. É entender que camisa, tradição e Ai-Jesus não jogam mais sozinhos, que o tempo passou e que ficamos para trás.

20/08/2021

Podia ter dado se a nossa eficiência não fosse uma mentira deslavada. A gente quer ganhar, mas sabe que nenhum time do mundo vence a Libertadores contratando cinco jogadores reservas a dois dias do fim das inscrições. A gente torce. Torce. Até pelo que desconfia que não vai rolar.

Fred cobra bem, empata o jogo, chega a 25 gols na Libertadores e o Fluminense… não ganha absolutamente nada.

O grande objetivo do pavonismo, sucessor do flusocismo, essa doença maldita que infecta o Fluminense há dez anos, cai por terra mais uma vez. No fundo, no fundo, precisamos reconhecer que não causa surpresa alguma. Se não torcêssemos, muito, talvez até desconfiássemos de que o objetivo é correr para não chegar. Vender a ideia de que o Fluminense é pequeno, enquanto a garotada é rifada por qualquer mariola e, numa decisão, a gente troca 40 anos de dois garotos por 70 anos de dois “reforços”.

Sem mágoa nem esperança, aqui termina a crônica de um fracasso anunciado.

Valeu pela teimosia de querer ver o Fluminense grande e minimizar os fatos, mas sabemos que esse negócio de negacionismo não dá liga nem futuro.

Não deu. Vida que segue.

Os medíocres vão passar. Têm que passar.

22/08/2021

Vamos parar de tapar o sol com a peneira! Embora esperada por conta de todos os desacertos cometidos nos últimos meses, que vão da supervalorização de um time mediano a contratações muito contestáveis, passando por um treinador com conceitos extraterrestres, a eliminação do Fluminense foi um desastre sim e não há por que se aliviar isso. Desastre esportivo, financeiro e institucional, consolidado diante de um adversário limitado que tem sete vezes menos investimento do que o Tricolor.

Durante anos, injetou-se em parte da torcida do Fluminense o conceito medíocre de que “só a Libertadores interessa, o resto não vale nada”. Assim, 119 anos de história foram postos no lixo em nome do “sonho” da Libertadores que, por sinal, nunca esteve próximo da realidade prática se avaliarmos as partidas e a campanha. Salvo a grande vitória sobre o River Plate, obtida contra um time que vinha de 15 jogadores em recuperação de covid19, em que momento o Fluminense brilhou na Libertadores? NENHUM. Da mesma forma quando, na temporada passada, conquistou a vaga para a competição continental mas JAMAIS esteve na luta pelo título brasileiro, por uma rodada que fosse.

26/08/2021

O Fluminense de Roger era uma coisa tão devastada e pré-derrotada que bastou um empate razoável contra o Atlético, esse mesmo de logo mais e líder do Brasileirão, para que parte da torcida suspirasse como se tudo tivesse mudado para o paraíso.

Longe disso, longe mesmo.

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