Amigos, amigas, eu não sou muito de represar minhas impressões. Quando eu digo que esse Fluminense vai bagunçar a festa, não é por ufanismo ou fanatismo. Já apontei o Fluminense como virtual campeão brasileiro em 2012, faltando um mês para o início da competição, quando sequer vencêramos o Estadual.
Da mesma forma, apontei o Corinthians de 2017, do Carille, como sério candidato ao título brasileiro, quando todos apontavam o time paulista como patinho feio. No mesmo ano, quando o Inter liderava o Brasileiro, eu apontava os colorados como sérios candidatos ao rebaixamento. É só ver o resultado. Também vi a exaltação do “ramonismo” em 2020 e denunciei um verdadeiro delírio coletivo. Acabou o Vasco rebaixado.
Não quero dizer aqui que eu sou o oráculo do futebol. Há outros muito mais qualificados. Eu apenas não analiso futebol com base em preconceitos e lugares comuns. Não fosse assim, Nélson Rodrigues não teria dito que toda unanimidade é burra. Basta, aliás, ver a insuportável cobertura da imprensa do Ocidente da guerra da Ucrânia, que tira o nosso sono, mas não foi capaz, ainda, de fazer com que as pessoas tenham capacidade de driblar o senso comum e formar opiniões sadias.
Abel Braga e sua comissão técnica fazem algo, desde que eu assisto futebol, inédito. O Fluminense de 2022 tem dois times que adotam conceitos de futebol muito diferentes. A gente pode se aprofundar mais nisso nas próximas crônicas ou nas próximas lives aqui do Panorama, mas eu acho sensato acreditar que qualquer um que acompanhe o Fluminense já tenha percebido isso. Não é essa idiossincrasia que se faz digna de análise, mas como é possível produzi-la com atletas que treinam juntos e sob o mesmo comando.
Acho que isso é assunto para a imprensa esportiva não só debater, mas também perguntar ao Abel. Como é que vocês fazem isso? Qual o objetivo?
O fato é que, com time A ou time B, nós continuamos acumulando vitórias, mas o que não se pode negar é que esse time B faz a gente se emocionar e torcer para o jogo não acabar nunca. E essa coisa de torcer para o jogo não acabar, amigas, amigos, é o indicador de estarmos diante de grandes equipes, que são aquelas que forjam vitórias exalando arte. Arte deve ser apreciada e vitórias comemoradas. Quando unimos as duas coisas, a sensação é de êxtase, que é o que eu sinto vendo esse time B do Fluminense jogar.
É impossível negar a Abel os méritos, muito embora seja improvável entendermos o significado. Não vi quem se aventurasse para além das críticas. Não vi quem tentasse explicar, mas isso já é produto de uma sociedade binária, cuja visão estreita de mundo influencia a análise futebolística.
Já vi quem dissesse, dentro daquela bolha de segurança, que não, que o Fluminense não pode ser comparado com os três protagonistas atuais do futebol brasileiro. E aí eu pergunto quais são os parâmetros, e as respostas virão eivadas de lugares comuns e preconceitos. Mas não é assim, amigos, amigas, que se explica as coisas, tampouco com ufanismo.
O Fluminense não é campeão da Taça Guanabara por acaso. Da mesma forma, em que pese o risco de entregarmos nossa vaga na fase de grupos da Libertadores por teimosia, não devemos atribuir ao acaso nossa sequência de onze vitórias consecutivas. O que está por trás disso é o fato de termos um elenco que está na mais alta prateleira do futebol americano, queiram ou não aceitar isso.
Não é produto de investimentos muito acima da média, mas de acertos inegáveis na formação de um elenco poderoso, que se vale, sim, da força de Xerém, que está, sim, eivado de erros, mas que encaixou formidavelmente. Você olha para o Fluminense em campo, mesmo com o Time A, que não é lá essas coisas, mas não nos nega luta, determinação e qualidade, e vê um time campeão. Parece haver um Fluminense preparado para cada tipo de desafio que teremos pela frente.
Esse Fluminense precisou de cinco minutos para fazer 2 a 0 num Resende atônito. Um Resende que está longe de ser uma das babas desse campeonato, que gosta de jogar e que arrancou um empate da Dissidência. Valorizou o espetáculo desse inspirador time B, pelo qual aguardamos ansiosos desde horas antes do jogo começar. Um time que proporciona prazer, porque é para isso que existe o futebol. O prazer do espetáculo e o prazer da vitória.
Eu não vou me estender ou me aprofundar em críticas aqui. Acho que todos estamos mais a fim de curtir esse momento de um Fluminense que se comporta como Fluminense. Um Fluminense que é protagonista. Nós merecemos muito isso.
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Sobre o Ganso, já chegou a hora de pararmos de pensar aquilo que estabeleceram que devemos pensar e formar nossas opiniões com base naquilo que estamos vendo com nossos próprios olhos, que me desculpem a redundância.
O exercício de casa para todos os tricolores: treinem gritos de campeão, levantamento de taças e voltas olímpicas.
Saudações Tricolores!