Não é necessário passar por uma hecatombe para reformular. Grandes sistemas organizacionais possuem um intrincado sistema de avaliação de diretrizes e marcadores funcionando a todo vapor com avaliações constantes de rendimentos, resultados e princípios institucionais, aqueles que vêm com a visão e a missão da organização. Grandes guias espirituais, em busca da pureza e elevação completas da alma cultivam desde cedo o hábito da auto avaliação constante. Grandes artistas tem a capacidade quase ridícula de se reinventar, lançar trabalhos completamente fora do padrão e, da reunião de inúmeros fatores, sai um trabalho novo e espetacular.
O que esses três casos – grandes organizações, guias espirituais e ícones da arte -, têm em comum é que dentro de todo o sucesso de seus trabalhos e das inúmeras transformações e reformulações que precisaram ser feitas ao longo do tempo, nenhum desses três exemplos perde sua identidade, independente das decisões e dos rendimentos que venham a tomar.
O Fluminense nas últimas três décadas tem esperado verdadeiras hecatombes para passar por reformulações. Digo hecatombes, pois por vezes estivemos muito próximos a um colapso total, mas aos 45 do segundo tempo o Fluminense praticava algum milagre.
Entre ciclos viciosos, colapsos e terra arrasada, a mentalidade da torcida tem mudado. Já não nos deslumbramos tanto com os medalhões, com as vinte contratações do meio pra frente e o “chegou da série B” lá na cozinha, com os lampejos de um time extremamente talentoso, mas que não tem entrosamento, bom toque de bola e um futebol rápido e moderno.
Todos nós sabemos que para ter um bom futebol, desde as categorias de base, leva tempo, trabalho, dedicação e investimento. Todos nós sabemos que para isso acontecer no Fluminense (que no passado o bom futebol era prática comum e obrigatória, diga-se de passagem) muitas barreiras terão de ser quebradas.
Eis que a principal barreira para uma reformulação aconteceu: Fred decidiu sair do Fluminense! Fred, ídolo e artilheiro, fará muita falta. Foram sete anos com a camisa 9, incontestável. Fred, contundido e mimado, não fará falta. Nos últimos três anos acumulou mais escândalos que bom futebol. Isso mostra que: ou estamos num limbo, ou que somos uma torcida bipolar. Em ambos os casos o diagnóstico é um só: sentimos falta de identidade.
Engraçado que a saída da grande referência do time, atacante de Copa do Mundo, não representou o apocalipse do Fluminense. Tampouco um choque de gestão por não suportarmos mais um atleta com comportamento de criança mimada e ganhando uma fortuna ao mês sem ter um rendimento que justifique seus vencimentos completamente fora dos padrões da atual realidade econômica do clube.
O Fluminense continua, com todas as suas limitações financeiras, de elenco e de bom futebol. Sem um posicionamento, continuaremos no marasmo. Um time de meio de tabela (mesmo com Fred) que venderá suas principais joias e abandonará as conquistas esportivas por um tempo? Talvez.
Vejo que os tempos de hoje propiciam o resgate de um Fluminense que há muito não se vê. O momento é de crise, os investimentos não podem ser abusivos. Sanar os débitos e manter certa liquidez é fundamental. Então porque não reformular? Porque não acreditar que dentro desse cenário insosso, mas aparentemente estável, o Fluminense possa implantar uma nova linha de raciocínio econômico, institucional e de resgate das tradições esportivas que nos fazem ter orgulho em ser Fluminense?
A torcida anseia por isso e está mais paciente do que nunca. O CT está quase pronto, Xerém voltou a ser um bom celeiro de jogadores e os olheiros do Fluminense estão acertando nas contratações baratas e muito eficientes. Temos um bom técnico, que entende de futebol e gosta de jogar para frente, de futebol bem jogado.
Os rumores de Nilmar e outros medalhões assustam. É a volta de uma prática que não aceitamos mais como torcedores. Outro jogador na descendente, com um histórico de contusões enorme, um salário exorbitante e vindo de um mercado que não é nada competitivo. Algumas outras imposturas me despertam medo.
A hora é de reformulação, uma transição tranquila e muito menos dolorosa que os calvários pelos quais passamos. Não precisaremos passar por rebaixamentos, derrotas históricas em clássicos e pelo oportunismo de quem insiste em nos acusar com as seguidas histórias de tapetão. Mas o Fluminense não sai do limbo e isso me desperta pavor. É hora de reformular e assumir uma identidade.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: cali
Conheça e ajude o Lar Maria de Lourdes – CLIQUE AQUI.
Oremos e aguardemos os debates, fim do ano tem eleição e precisamos conhecer as propostas, para depois podermos cobrar.
ST
Com certeza, Carlos!
Esse período de eleições que se aproxima me assusta um pouco, mas temos de estar atentos às propostas.
ST.
Excelente abordagem.
Essas contratações de medalhões que não davam restado precisam ficar no passado em que a a Unimed bancava e muitas vezes de forma errada, pois também queriam nome é não resultados.
Que venha um novo tempo em haja um Gestão eficiente de FUTEBOL. Afinal, somos o Fluminense FUTEBOL Clube.
Obrigado! 🙂
Com certeza! Está na hora do Fluminense rever conceitos e arrumar a casa após anos.
Há espaço e condições para que isso aconteça. Torçamos para que os dirigentes captem essa visão que nós, torcedores, temos!