Lembro como se fosse ontem da temporada de 2009. Aquela via crucis que deixou 99% de certeza de que o Fluminense seria rebaixado (mas aquele 1%…) até aquele jogo contra o Cruzeiro, lá em Belo Horizonte. Reta final de um triste Brasileirão, até então. Que jogo! Que virada histórica! Que final de campeonato histórico!
Nessa época eu estava terminando o ensino médio, fazendo vestibulares e mais vestibulares. No auge de meus 16 para 17 anos eu já estava entrando nessa roda maluca de definir meu futuro profissional. O Fluminense sempre foi parte da minha vida, desde que nasci. Mas em 2009 houve algo especial que poucos são capazes de explicar. Eu não sei se sou.
O ano corria em seu ritmo normal (lê-se frenético) e o comum era ouvir que nós, tricolores, nos acostumamos mal com o título da Copa do Brasil em 2007 e a campanha da Libertadores em 2008. Que finalmente iríamos pagar a Série B, time de terceira divisão, clube pequeno e falido. A história de que tanto nos orgulhamos não valia mais como argumento, sempre suprimida pela última colocação na tabela e os 99% de certeza (sim, para todos era certeza) de que sucumbiríamos.
Mas o Fluminense, na ordem geral do mundo, está acima do que é esportivo. Existem os milagres do esporte e existem os milagres do Fluminense, sempre níveis acima.
Havia um tempo que eu só acompanhava o time por noticiário esportivo. Essa coisa de estudar para viver ou viver para estudar é uma espécie de buraco negro insano. Acabei me afastando de tudo, até do Fluminense. É uma rotina que se faz com certa empolgação no começo, depois vira obrigação e torna-se comum, pura e simplesmente. E é irônico como a rotina nos anula. Vale a reflexão.
Mas eu parei naquele Cruzeiro x Fluminense. Eu precisava parar e ver com meus próprios olhos que aquele time 99% rebaixado havia sucumbido. E o que vi foi uma das lembranças que guardo com mais carinho do Fluminense. Mais que alguns títulos, até.
Eu realmente não consigo imaginar o quão desastroso seria parar e ver o Fluminense quebrado, derrotado, pequeno e falido. Talvez fosse a terrível compreensão de que não se pode lutar contra a rotina. O Fluminense incapaz de sair da sua rotina de ser o pior time do campeonato disparado, eu de ter perdido tempo ao ter abandonado minha rotina para ver um desastre. Teria sido melhor ficar estudando.
Ao fim daquele 3 a 2 o Fluminense saiu da rotina de derrotas ao passo que eu havia saído da minha rotina de avestruz, sempre mergulhado em livros, cadernos e anotações. Ambas as rotinas eram maçantes. O resultado lavou a alma de ambos.
O afronte à deusa rotina por um Fluminense no-fundo-do-poço-mas-cheio-de-brio foi um daqueles pequenos milagres do cotidiano. Eu não esperava o que aconteceria após aquele Cruzeiro x Fluminense. Não havia necessidade de esperar. O Fluminense havia feito ali um milagre que transcende a esfera esportiva. Mais um.
São partidas como essa que nos fazem torcer, no sentido mais bonito da palavra, pelo Fluminense. Os pequenos milagres esportivos como essas viradas épicas em tempos de crise extrema ficam pequenos. Pois sobram exemplos de como o Fluminense faz parte da gente sem nem nos darmos conta.
Depois de ter negligenciado muita coisa em prol da rotina insana de vestibulares, foi através dessa virada histórica que eu vi o quão frágeis são as certezas quando se muda de atitude. Num domingo em que eu poderia estar perdendo meu tempo, eu vi que o Fluminense, quando se porta como Fluminense, é muito maior que o esporte. Para mim, para você que está lendo, para qualquer tricolor.
Nós somos a história por termos a capacidade de colocar em descrença muitas das certezas elaboradas por aí. Somos privilegiados por torcermos pelo Fluminense, que é maior que o esporte em si. Somos sortudos por escrevermos nossas histórias e a história do Fluminense de forma una. Somos felizes por sabermos que o Fluminense sempre estará ali. Por mais que os resultados e conquistas esportivas não venham, nós sabemos que sempre há algum milagre à vista. E sempre que preciso resgatar isso, me pego lembrando 2009…
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: cali
Sou muito sortuda mesmo. Depois de um plantão pesado numa Unidade de Vigilância Agropecuária no Porto do Pecém, antes de uma vitória inédita que se aproxima, leio um texto como este. Ser Fluminense, viver essa paixão, é extraordinário.
Pena que mais uma das infantilidades do Frederico jogou aquela SulAmericana fora.
Seria a coroação do Time de Guerreiros.
ST
Se ganhasse a Sulamericana, talvez perdesse o foco e rebaixasse na rodada final. E não teria o mesmo sabor.