Tricolores de sangue grená, tudo o que eu podia falar da ridícula atuação contra o Figueirense já foi falado no podcast que fiz para o Panorama Tricolor, que está disponível no Spotify, de modo que não vou perder mais tempo me debruçando sobre essa partida infeliz. Tudo o que podia dar errado, deu, e as contribuições de jogadores e técnico foram vastas para tal. Porém, não consegui deixar de me indignar com a entrevista coletiva do presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, que parece fazer o possível para irritar a torcida (exceto o seu fã-clube) cada vez que fala para o público. Além de até agora não ter anunciado o patrocínio máster que estava engatilhado (foi promessa de campanha), e ter repetido a velha cantilena dos valores que não são adequados, o dirigente tricolor, de uma só vez, fez questão de “garantir” o treinador Odair Hellmann no cargo, não importando o que aconteça na próxima quinta-feira na partida de volta da Copa do Brasil, como também bateu na torcida. Sim, na torcida!
De uma só tacada, o cara diz que mesmo que sejamos goleados impiedosamente pelo Figueirense em pleno Maracanã no jogo da volta e sejamos eliminados da Copa do Brasil, significando que o ano já acabou, já que o Maionese (apelido dado pela torcida) fez o favor de nos eliminar na primeira fase da Sula para um time inexpressivo, ainda assim ele será mantido no cargo, e critica a torcida por considerar o jogo em questão contra a equipe catarinense como o mais importante do ano, ao mesmo tempo exigindo que lotemos o estádio em todos os momentos, como se não fôssemos clientes ou consumidores, e sim trabalhadores, operários e funcionários do clube. Ou seja, não apenas ele fez questão de dizer que a vontade da torcida em manter o treinador não importa, como também inverteu a lógica da coisa, tornando obrigação nossa ir assistir ao time que ele montou, com o técnico que ele escolheu. Oi? Será que eu estou ficando maluco? Teve gente mesmo que achou normal isso?
Eu posso entender a questão da “manutenção do trabalho” de um técnico quando os resultados são razoáveis. Os de Diniz, noves fora os problemas no Brasileiro, muito por conta também do VAR, eram razoáveis. Estávamos vivos na Sula e caímos pro Cruzeiro na Copa do Brasil após jogo duríssimo onde poderíamos ter tido melhor sorte. No Brasileiro, as finalizações eram fartas, os gols não. Diniz também fez campanha razoável no Carioca. Agora, reparem os números de Odair: goleadas contra pequenos sem divisão e o Botafogo de Valentim, que não conta, sufoco contra times mais fortes. E só um pouquinho mais fortes, não estou falando nem nível de Série A. O Maionese conseguiu a proeza de nos eliminar na primeira fase da Copa Sul-Americana, a única competição do ano com chance real de título e aquela que a torcida realmente queria conquistar em 2020. Eu estou puto até agora. Imagino os demais. Na Copa do Brasil, estamos a perigo. Se repetirmos no Maracanã a atuação de quarta, estamos fora. E o ano acaba em março.
Dizer que o treinador está “privilegiado” quando o trabalho dele é ruim é um soco na cara da torcida. Não diga nada. Ou diga que todos estão sendo cobrados e cobre mesmo! Porra, ninguém ali está nos fazendo nenhum favor. Se faço o meu trabalho de maneira errada e os resultados não vêm, eu tenho mesmo que ser cobrado. Não obstante, vem o papo de “seja sócio” como se fosse o remédio para tudo. Nem todo mundo é abnegado. Eu sou sócio do clube e pouco consigo ir aos jogos por diversas razões. Mas contribuo todo mês. O mínimo que espero com isso é que a torcida continue sendo a razão de ser do clube. Aí eu ouço o presidente do Flu falando uma merda dessas e a minha vontade é de cancelar meu plano de sócio imediatamente. De que adianta eu me associar se não sou ouvido? Se ele vai fazer o que quiser mesmo, e não o que a torcida quer, por que eu tenho que concordar com isso e ainda dar o meu aval contribuindo financeiramente com uma gestão em que não acredito? Há tanta coisa errada no discurso dele que é difícil até começar a falar disso. Pelas palavras dele, se você não está inserido nos “onze mil de sempre” e não é sócio do clube, você não presta para ser torcedor do Fluminense.
Para quem você trabalha, afinal, Mário? Será que algum bilionário comprou o Fluminense e não estamos sabendo, e você agora responde apenas a ele? Quem diabos você acha que é para falar assim com o torcedor, porra? Sua obrigação, como gestor do clube, é fazer a torcida feliz. O Fluminense vive para o futebol, é parte indelével da história do esporte bretão no Brasil e no mundo. Não é o seu parquinho, a sua piscina, a sua sauna, que você administra para meia dúzia de pessoas. Tenha postura! A torcida é a sua patroa, Bittencourt. Quando pisa nas Laranjeiras, você sai do seu escritório de advocacia e entra em outra realidade. Está insatisfeito com os públicos? Faça um trabalho decente de pesquisa para entender a baixa assistência. Acabe com a burocracia ridícula para que idosos e crianças possam ver o seu time do coração nos estádios. Crie opções para o torcedor comum, não apenas para o sócio. Ninguém, eu disse ninguém, tem que ser obrigado a se associar ao clube. O desejo de se associar precisa ser despertado, não exigido.
Agora, com os portões fechados por conta do surto de COVID-19, o Fluminense obrigatoriamente jogará sem público. Isso quebrará o ritmo da assistência de torcedores. Tenho certeza que teríamos uma boa quantidade de torcedores na próxima quinta contra o Figueirense, mesmo após a decepção do jogo de ida. O Figueirense está na Série B, quase caiu para C ano passado, sofre uma crise institucional talvez sem precedentes. E conseguimos perder para eles. Quando as coisas voltarem ao normal, repense as suas palavras. Você não vai conseguir uma média de público apenas com esporros inúteis. Faça realmente algo digno de um gestor do Fluminense, de alguém que ocupa um cargo tão importante. Leve sua bronca ao marketing, ao jurídico, à comissão técnica, ao inferno, menos à torcida. Nós estamos desde 2013 sofrendo, Mário. São quase 8 anos na fila por um título relevante. É tempo demais. Se você conhece bem a história do Flu, também sabe disso. Fale menos, faça mais. É o que os seus reais patrões desejam.
Curtas:
– Por sorte, Abel não caiu após a derrota para o Goiás. Isso quer dizer que a chance de derrotarmos o Vasco é grande. Já passou da hora de voltar a ser normal ganharmos esse clássico, e um revés poderia minar a confiança da equipe para o compromisso na Copa do Brasil. Já será difícil jogar essas partidas sem público, então pelo menos que as vitórias venham.
– O problema principal no Orlando Scarpelli foi que o time entrou pilhado. A arbitragem não ajudou, mas eu nem a citei em meus comentários no podcast porque a atuação da equipe foi tão pavorosa que acabou ofuscando o resto. Odair quis inventar moda também, colocando Evanílson na ponta, além de demorar a mexer no que estava obviamente errado. Vai na conta dele a derrota. Não conseguiu acalmar a equipe e não fez as mexidas que deveria. Entrou para empatar e perdeu.
– Apesar da equipe ideal ter sido escalada logo na partida que perdemos para o Figueirense, nem sempre o esquema tático favorecerá todos os jogos. Sem treinar variações no 3-5-2 (recuando Hudson para fazer o terceiro zagueiro e liberando Gilberto e Egídio para serem alas) e no 4-4-2 (espetando dois meias em vez de apenas um, talvez com Ganso e Nenê, Miguel e Ganso, Miguel e Nenê, ou algo que o valha, ou até recuando Marcos Paulo para ser um desses meias, que talvez seja o ideal), o time fica refém desse 4-3-3 maluco que não vai funcionar sempre, como vimos em Santa Catarina.
– Palpite para o jogo da Copa do Brasil: Fluminense 2 x 0 Figueirense.
Panorama Tricolor
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