Nos últimos dias, recheados de preocupação e tensão por conta da situação mundial, a torcida tricolor teve bons momentos para se divertir: as TVs a cabo exibiram reprises de grandes jogos do Fluminense em épocas diferentes. Falarei com base em três deles: o imortal 3 a 2 com o gol de barriga em 1995, os 5 a 1 sobre o Cruzeiro em 2002 e o 1 a 0 em cima do Figueirense em 2007.
Sobre 1995, desnecessário dizer da façanha, digna do orgulho de qualquer tricolor vivo ou morto: ganhar um título sobre o maior rival, enfrentando o então maior jogador do mundo e terminando a partida com apenas oito jogadores em campo. Ali se encerrava um período de nove anos sem títulos, o maior da era profissional nas Laranjeiras – em 2010 estaríamos caminhando para o oitavo sem conquistas, não fosse o brilho da efêmera Primeira Liga em 2006. Mas o jejum tricolor daquela época não indicava um Fluminense figurante, pelo contrário: duas semifinais de Campeonato Brasileiro, respectivamente contra Bahia e Bragantino em 1988/89 e 1991; a garfadíssima final da Copa do Brasil de 1992 contra o Inter; as também garfadas finais dos Cariocas de 1991 e 1993, mais a disputa na última rodada pelo título do Carioca 1994. Mesmo contando com times muito baratos na época do jejum, o Flu não se apequenou e disputou seis títulos.
A goleada sobre o Cruzeiro em 2002 inaugurava uma nova era no Fluminense: a da contratação de jogadores de peso com salários pagos pela patrocinadora Unimed. Uma estreia arrasadora de Romário. O time chegaria à semifinal do Brasileirão, sendo eliminado pelo Corinthians no Morumbi. Tempos de respeito para o campeão carioca no ano de seu centenário.
Em 2007, viria o primeiro título nacional do Flu em 23 anos. Revertendo quatro mandos de campo na fase final, o Tricolor ganhou um campeonato muito diferente de todos os outros. Acostumado a decidir no final das partidas, daquela vez marcou 1 a 0 no comecinho da partida, aguentando firme na defesa e segurando o resultado, contando com a melhor partida da carreira do goleiro Fernando Henrique. Depois de bater na trave na final de 1995 e de cair na semifinal em 2006, o Fluminense finalmente conquistaria sua primeira Copa do Brasil. No dia seguinte foi uma festa tricolor por toda a cidade no feriado de Corpus Christi, com o Aeroporto Santos Dumont tomado pela nossa torcida em passeata até Laranjeiras. A conquista seria o primeiro passo do Fluminense até o vice-campeonato na Libertadores 2008. A seguir, viriam tempos difíceis, muita superação e o esplendor com dois títulos brasileiros em 2010 e 2012.
Nos três casos, o registro de times de luta, com atitude, capazes de empolgar a torcida. Nenhum deles era brilhante mas todos eram empolgantes. Tempos de Roger Flores, Magno Alves, Renato Gaúcho (presente nas três partidas como jogador ou treinador), Djair, Aílton, os jovens Carlos Alberto e Thiago Neves, o experiente Roger Machado, o valente Adriano Magrão. Quem se lembra do talento de Alex Dias? A luta de Marcão? O maravilhoso Super Ézio.. A dedicação do próprio Fernando Henrique. Joel Santana. Tudo isso e muito mais hospedado num Maracanã de verdade, popular, plural, cuja marquise de cobertura dava um eco tão grande no canto da torcida que chega a assustar.
O tempo não para. A luta é pelo futuro. Haja o que houver, o Fluminense não pode ter para si a pecha de time figurante, com cinco lutas contra o rebaixamento em sete anos. E aí talvez esteja a chave para a mudança de paradigma que tanto precisamos: queremos ser campeões sempre mas, na impossibilidade disso, devemos estar sempre perto, brigando, protagonizando em vez de se limitar à figuração ou escapar de desastres.
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