O Fluminense precisa jogar futebol (por Aloisio Senra)

Tricolores de sangue grená, acabou a moleza. Acabaram-se os sonhos feéricos de G9, pois o Athletico do Paraná, no qual o Fluminense deveria se espelhar no que tange ao modelo de administração e de competência, conquistou a Copa Sul-Americana. Logo, só haverá G9 se os caras embalarem numa arrancada e galgarem posições na tabela a ponto de justificar que o nono colocado vá à pré-Libertadores. Isso quer dizer, essencialmente, que a oitava posição, a partir de agora, é o limite. E se não quiser passar vexame daqui a algumas semanas, o Fluminense precisará, no que resta da competição, deixar de ser o time sem vergonha que perdeu pro Juventude em Caxias do Sul e encarnar o time de guerreiros que bateu o Palmeiras no Maracanã. Não sei como, sinceramente, mas… time over. Acabou-se o momento para desculpas esfarrapadas, não há mais tempo para lamentar ou repetir discursos enfadonhos que envolvam as palavras “vestiário” e “grupo”. O Fluminense tem que jogar FUTEBOL.

O jogo contra o América-MG em casa, nesse domingo, é uma verdadeira “final dos medíocres”, pois ambos os times disputam uma colocação melhor no pelotão de frente que os mantenha na briga pela ida à Libertadores. Quis o destino que, também, o Fluminense enfrentasse o Internacional, outro que está no bolo, logo na sequência, na próxima quarta-feira, e também no Maracanã. Se o Fluminense perder qualquer uma dessas duas partidas, pode encerrar o ano, já dispensar a turma que tem que dispensar e subir Xerém pra pelo menos garantir a vitória contra a Chape na última rodada. E com o advento do não-G9, vai ter que sair pra buscar uma vitória fora de casa, seja contra o Galo (esperamos) já campeão ou contra o Bahia no desespero da luta pra não cair. Dureza. O grupo que veio de trás (e que já começou a emparelhar e nos passar) parece com mais vontade de brilhar na América do Sul em 2022 que o time de Marcão.

Entre protecionismo ao horroroso Lucca e a insistência com o não menos péssimo Caio Paulista, o Fluminense que vai a campo contra o Coelho é uma verdadeira incógnita. Essa gangorra de atuações não faz sentido. Podemos esperar uma vitória de virada contra o vice-líder ou derrota apresentando péssimo futebol para o vice-lanterna. Como confiar que os objetivos atuais da equipe serão alcançados? É difícil demais, cara. Nós, que escrevemos toda semana sobre o Fluminense, já não sabemos mais o que dizer sobre o time. Se é completamente aleatório, então vamos lá: vai empatar com o América-MG, vencer o Inter, vencer o Galo, perder pro Bahia e empatar com a Chapecoense. São oito pontos que nos levam a 53. É o suficiente? Não sei. Deixo pros matemáticos e estatísticos. Só sei que o que o Fluminense de hoje mais faz é subverter expectativas, tanto positivas quanto negativas, e não podemos continuar assim. Na temporada 2020, o trabalho de Marcão na reta final era estável e o time mereceu a vaga. Hoje a história é outra.

Enfim, ajudará se Marcão escalar um time em campo que não fique dando botinada ou chutando na lua. Das peças que tiver, que escale as menos piores, as que estiverem com a forma física e técnica boas (na medida do possível), e que tenha um armador. Se vai ser o Cazares, o Apis, o Ganso (onde estará ele?) ou o Luiz Henrique, só o treinador pode decidir, mas temos que jogar como fizemos no segundo tempo contra o Palmeiras. O América-MG precisa também da vitória se quiser ir à Libertadores, então dificilmente armarão um ferrolho. É preciso não apenas coragem para tentar ganhar o jogo, mas sagacidade para escalar o banco e ousadia na hora de mexer, dependendo das circunstâncias da partida. Se o que está rolando por aí é verdade e Marcão não será mantido como técnico para 2022, é a hora de ele voltar a ser o auxiliar técnico que resolvia. Ele não é um técnico de ponta, mas pode provar, de uma vez por todas, que seu trabalho como auxiliar não deve ser desprezado.

É muito melhor iniciar o ano de 2022 novamente em evidência. A Copa Sul-Americana está muito mais restrita que antes, e seu formato não é mais tão agradável para quem se classifica diretamente para ela. Por outro lado, aqueles que não conseguem sucesso na fase de grupos da Libertadores (mas que não são os lanternas também) já caem diretamente no mata-mata da competição, que é mais fraca e acessível. Se o Fluminense não se reforçar adequadamente para disputar a Libertadores do ano que vem, caso se classifique à fase de grupos, poderá novamente ter dois caminhos para uma conquista sul-americana. Óbvio que sempre vamos querer tentar o topo da América, mas é importante saber o que nos espera em todas as circunstâncias. Espero que a cúpula de futebol, ainda que não seja a mais competente, esteja ciente de tudo isso. Passar mais um ano como figurante é algo que o Fluminense e sua história não merecem, e sua torcida, muito menos.

Curtas:

– Estão falando de Abel ou Dorival. Acho que já é a hora de Dorival ter uma chance de treinar o Fluminense desde o início do ano, se ele estiver em condições pessoais e de saúde para isso, é claro.

– Com o empate do Ceará com o Atlético-GO, perdemos uma posição, caindo para nono. Porém, com a derrota do Inter, se ganhar do América-MG o Fluminense passa à sétima posição, com 48 pontos. Dependendo dos resultados da rodada, poderá ficar a até dois pontos do sexto colocado no momento, o Corinthians. Dá pra ficar numa boa situação, mas a vitória precisa vir.

– Palpites para as próximas partidas: Fluminense 4 x 3 América-MG; Fluminense 2 x 1 Internacional.