Qual é o pó? (por Alva Benigno)

 

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ATENÇÃO: COLUNA IMPRÓPRIA PARA MENORES

BACK ON THE CHAIN GANG

Estava tudo nos trinques! Já havia separado toda a roupa desde a véspera, combinado de pegar o Baiano na Atlântica e seguir para o Parque Olímpico, como se o Uber lhe fosse um verdadeiro Papamóvel a protegê-lo da doença chamada pobreza das raças inferiores da Zona Oeste.

Argh! Jamais voltaria a ver um treino do seu time, relaxado da mesma maneira que fazia em Laranjeiras. Soweto ao redor do novo CT, na Gardênia, e perto demais das milícias, muito mais do que gostaria, lhe davam náuseas.

A noite tinha sido agitada. Chiquinho escutara algo que não lhe saía da mente. Esmeralda, a quem considerava uma gorda escrota otária, dizia, numa conversa muito tranquila, pelo Skype, massageando seu clitóris, a um misterioso interlocutor:

“No fundo, eu tenho é pena do Francisco, sabe?!? Muito inseguro, acha que ninguém percebe que ele finge ser macho, que usa fraldão por causa das pregas frouxas, de cu que faz tempo que não corta nem cocô mole. Fica indo lá naquele clube em que é proibido ser negro, qualquer coisa fora de homem hetero e branco com alguma herança ou sobrenome de pompa. Coisa de elite decadente, de playboyzinhos de merda, gente que não cresce, que faz do clube o papai dando mesadinha. Quer se fazer de importante, manjando piroca na sauna com aquele cabelo Acaju Rei do Cerrado ridículo. Triste tudo isso, ele insistir que me engana, que não percebo nada, me depreciando como se ele tivesse dado um golpe em mim. Desde Serra Pelada que a jagunçada do meu pai dizia que todo mundo ali, em fila, sodomizava o pobre do Chico, que ele era conhecido como Chiquinho Boca de Veludo. Contavam que ele gozava aquele gozo de bicha medíocre, não assumida, com essa coisa de viver uma vida dupla. Chegava de viagem com a boca toda ferida, cheia de doença estranha, afta, uma coisa horrível, degradante. Um poço de doença venérea, e eu, fugindo da pica seminova dele, pensando que ficava esperando chegar no Rio, que nem uma otária, rica, e escrota, o grande amor da vida. E ele se especializou nessas maracutaias de fazer lobby no futebol, enganando sei lá quem, andando com o Arcanjo e sendo protegido de ameaças de travestis decadentes que voltam da Europa viciados, e sem um puto no bolsa, cheio de neuras. Como falar disso me dá tesão, de olhar todos os dias na cara desse crápula e saborear o gosto do autoengano de quem se tem certeza de ser mais do que é. Fico molhada demais, e é por isso que não transo mais com ele, há muito tempo, mas também não me separo. Eu gozo muito pensando nisso com a vara grossa de quem gosta de trepar comigo”.

Zanzibar ficou paradinho, no mesmo lugar, golpeado em sua honra de anos de suposta esperteza, na certeza de que jamais seria descoberto. Para quem achava que Esmeralda era enganada, e, mentalmente, a ela se referia com uma série de impropérios, ouvir que ela sabia de tudo e ainda sentia pena dele era algo de fazer suas pernas ficarem bambas, de um modo que nem a imagem corpulenta e suada de Antonio havia conseguido. A suposta gorda otária gozava molhadíssima com sua vida desgraçada. Quando achou que aquilo seria o fim, Esmeralda disparou a última frase:

“Mas, escuta, repito, não vou separar dele, não. Ui! Agora, acho que até gozo, de levezinho, só de pensar e dizer isso! Seria um prêmio, com ele saindo por aí se fazendo de vítima. Ele andou passando dos limites. Depois de subornar o veterinário para interrogar Garrastazu, ele não perde por esperar. Mal sabia ele que o vet me fode gostoso depois de cada sessão com o papagaio. Vamos ver quem foi a otária nesses anos todos…”

Não havia alternativa além de injetar um potente Lexotan na veia, para capotar e ir pro Parque Olímpico. A esperança do reencontro com o pó de arroz ao lado de Baiano estava frustrada. Amava o advogado que fez disso sua batalha, apesar de ser um vermelho subversivo moralista de araque, querendo administração profissional e o escambau no clube, achando que tinha que ser algo grande, como se precisasse de milhões de desclassificados lhe enchendo o saco Brasil afora!

Certa vez, chegou a pensar que a volta da nuvem da sacanagem, como chamava o pó de arroz, nos anos 1980, seria uma ótima oportunidade para patolar o blogueiro. E mais! O seu Robin, que faz o tal do scout achando que isso algum dia vai vingar no clube, ficaria anotando quantas estocadas Flupress daria nele, que a névoa branca do amor seria descortinada com a sacanagem tão desejada como forma de lhe agradecer. Enquanto o Batman das letras e dos tribunais lhe possuía em sua vara, julgando sua causa sem calça, Robin seguiria num, voyerismo total, analisando as posições e o seu nível de virilidade do Batman das letras tricolores. “Flupress, me faz mulher!” O grito jamais poderia ser ouvido, e seu élan de luxúria ensurdecido pelo Nense, Nense!

O Lex deu um barato danado! A noite foi de total delírio, sonhando com o Blogueiro de Ébano, seu cheiro forte de suor, sua voz grossa, roçando a barba nas suas nádegas e falando que a senzala iria invadir a casa grande com força! Zanzibar estava nu, amarrado a correntes negreiras em meio ao terreiro de café, diante da morada senhorial de sua família decadente vassourense. O corpulento discípulo de Fela Kuti dizia que lhe faria sentir a mais especial de suas esposas. E tomava surra de pica na cara, babava de prazer, os olhos ardiam com as gotas de mijo e de pré-gozada que respingavam, as bochechas vermelhas até sair sangue, e pedia para que fizesse do senhor sua escrava Isaura: “Mete esse tronco, logo, porra!”

No momento em que arrebita sua bundinha branca, esperando o bacalhau lhe surrar até explodir de tesão, escuta os tambores africanos tocarem firme, e se lembra de seu Sete da Lira, de quem era devoto, nos anos 1970, o que o levou a descobrir a Baixada. Virou mulher em seu terreiro, pela primeira vez. Certamente, a voltar a Edson Passos liberava seu inconsciente. Entra num transe muito louco, e acorda do sonho dentro do sonho.

Está no palco de uma taberna espanhola, vestido de Carmen, com um imenso leque. Aproxima-se dos clientes, e vê que o cheiro de macho o atrai de forma avassaladora, vindo do fundo do recinto. Nas sombras do prazer que não ousa dizer ao que veio, vai surgindo a figura de Antonio, vestido de toureiro, com sua espada em riste. A última cartada de Zanzibar era bater castanholas para conquistar aquele pau que cismava em lhe negar a metida das metidas. Aquelas bolas espanholas tinham que bater em suas nádegas escravocratas! Queria ser o toureiro a sentar no touro maluco que seu algoz se transformaria em seu delírio. Olha de forma sedutora, mas, na primeira batida nas mãos com os instrumentos sensuais, seu desejado homem dá um soco na mesa, quebrando-a ao meio. Zanzibar cai, entorpecido de mais tesão, tonto e um pouco desacordado. A espada do toureiro em riste mostra que há uma distância entre prazer e morte a esperar Chiquinho. Mas Antonio, piedosamente, volta pra mesa, dando de costas para a biba de Bizet. Agora, sim! A última chance de ser conquistado pelo Rei da Sauna! O melhor vinho espanhol está em suas mãos, e, traiçoeiramente, o derrama na careca lustrosa do homem que mais queria que conhecesse suas entranhas. E, logo na primeira linguada na careca banhada com a cor do encarnado, sente o potente punch que o derruba. Era um recado de seu inconsciente! Jamais aquele macho o possuiria, e nunca seria uma terra do Império Espanhol do sexo!

Chiquinho acorda suado, todo urinado e cagado, com caroços de feijão e milho, do jantar de boteco da Adega Pérola, do dia anterior. Lençóis rasgados, travesseiros mordidos com as fronhas babadas e esburacadas de suas dentadas. Misturou o sonho com a realidade, com o toque do despertador, na cama vazia da manhã de domingo. Antonio havia derrubado todas as suas esperanças no chão, e, junto com o Paraguaio farsante, mijado em todo o seu corpo, no meio da taberna. O cheiro de xixi e merda que transbordava de sua fralda ardiam seu ânus ralado da depilação, estilo Copacabana Beach, no dia anterior. Não saía da mente de Zanzibar que todos haviam comentado, após o baile de gala do club, que Antonio era o Rei do Banheiro. Ah, meu deus! Teria dado tudo para ser o Paraguaio ingrato! Dias e dias gastando grana do próprio bolso para difamar quem até em sonho lhe rejeitava, provocando-o pelo Twiter, mandando demitir quem ficasse de convescotes com ele no mundo virtual. Não adianta, Deus não dá asa à cobra! E que cobra deveria ser a que o Guarani não aproveitou?!? Sempre foi um babaca nos vestiários mesmo… Ah! Era só um sonho, que lhe mostrava a realidade mais do que qualquer pirocada pudesse ter feito.

O telefone toca, e a voz fina é logo identificada:

“Fala, maravilhoso! Não tive uma noite agradável, então, não me venha com suas mentirinhas de merda. Se você estourou o orçamento, não vou falar com a cúpula para bancar suas meninices, não. Vai pra Disney com seu dinheiro, vai, que não quero saber de você até a próxima leitura do Minha Luta, tá? Escuta, a apresentação do capítulo é sua, e não vou te dar cola nenhuma! Ah! Vou te humilhar na próxima, porque comprei num antiquário arianérrimo, bofe das antiguas, uma Cruz de Ferro, tá? Vou mostrar pro grupo todo que só eu tenho essa relíquia, e vou usar de chaveirinho, só pra ostentar.”

“Mas, Zanzi, estou ligando pra confirmar o esquema dos cambistas. É preciso embranquecer a Baixada, ao menos para as câmeras de televisão e para nós, dentro daquele estádio. Tá de pé?”

“Claaaaarrroooooo, meus olhos de luz! Eu não quero holofotes, quero meu levadinho. Não sou que nem você, que quer aparecer mais do que a Piná com o Príncipe Charles. Vamos fingir que a Baixada é o Upper East Side! Quero me sentir na 5ª. Avenida! Deixa eu ir pra ver gente gostosa e bonita, hoje, lá no Parque Olímpico, na porrrrrrra da terra que você cismou em levar nosso time pra treinar, seu verme.”

DE NIRO

Bateu o telefone na cara do boyzinho petulante, com cara de James Bond de araque. Mandou um zap zap para Baiano, que já estava de pé, depois da corridinha na areia, douradinho de Banana Boat, raspadinho delícia, tomando seu suculento açaí completo. Recebeu do bofe do Pelô a seguinte mensagem:

“Vamos aquecendo, padinho, no caminho do Parque, com uma coisa que trouxe da minha última ida à Pernambuco… Separa uma gratificação pro motorista do Uber, meu rei, e venha logo”.

Zanzibar passou a pomada nas suas feridas, depois de tomar um banho cuidadoso para que as fezes não infeccionassem seu ânus rachado da depil total. Colocou a camisa que havia roubado do tripezudo lateral sulista, o lenço no pescoço pra esconder os chupões da semana agitada, e seguir para reboca o bofe.

Escolheu um carro bem grande, sabendo que a coisa podia pegar. Baiano entra no carro, e ele já chega segurando a raiz grossa em riste. Chiquinho tava doidão, ainda, do Lex. O bofe tira um estojo cheio de cigarrinhos do diabo, e diz:

“Fuma, Zanzi, porque essa é lá do Polígono! Fuma e arrepia o brioco como você nunca fez…”

Chiquinho não fumava um baseado de tanta qualidade fazia tempo, ainda mais com cheiro de sacanagem pintando para breve. Queria sentir o gosto da boca caliente do caralhudo do Ilê, e disse que fumaria em seguida. Sugou gostoso a erva da sedução, e foi aos céus:

“Que delícia… Desembainha a peixeira e tira as escamas da minha língua, seu tesudo”.

Depois de uns minutos, todo lambuzado, Zanzibar diz:

“Assim, sim, é gostoso ir pra Gardênia e seguir para Jacarepaguá. Meu amiguinho, o Adevogado Happybath, outro dia visitou o lugar e fez carinha de nojo fora da foto. O banho da alegria, que já faz tempo que não ocorre, ficou mais longe. Disse pra ele que o negócio é ir se distraindo no caminho. Agora, sei como…”

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Panorama Tricolor

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Imagem: olho grande

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