Se você nos acompanha, já sabe que somos diferentes por natureza. Por isso, devido à polêmica por conta do jogo do próximo domingo, envolvendo as questões de torcida no novo Maracanã, nossos colunistas Zeh Augusto Catalano e Paulo-Roberto Andel debatem no mesmo espaço, para que o leitor tenha duas visões da questão.
O meu lado do leitor (por Zeh Augusto Catalano)
Caro leitor tricolor, este texto é de um Vascaíno e fala sobre um problema Vasco-Flu. Ele com certeza não vai agradar, mas é o ponto de vista do outro lado da moeda. Então, peço que leia com a devida calma. Ou não leia. Eu não vou concordar com você dessa vez! 🙂
Minhas idas ao Maracanã começaram nos anos 70. Pegava-se um Camarista Méier – Passeio ou um Engenho de Dentro – Tiradentes, saltava (Soltar não, pelo amor de Deus. Solta-se puns. Ou não.) na Avenida Maracanã, comprava tranquilamente meu ingresso e entrava pela rampa do Bellini, craque histórico do meu Vasco. Jogo encerrado, longa corda dividia a descida das duas torcidas, que desciam se sacaneando sob o olhar de policiais prontos pra conter algum mais excitado que o normal. imagem 082 Cerca de dez, quinze anos atrás, inventou-se a maravilha de me impedir de entrar no estádio pelo lado de onde venho. Passei a ter de dar a volta no Maracanã inteiro para entrar e sentar-me no mesmo lugar de sempre, sob a alegação de “segurança”. Com isso, segregaram as torcidas rivais, criando no entorno do estádio bolsões de presença de uma torcida só. Dentro do estádio, as ocorrências caíram para próximo de zero. Fora, eu que me lixe para sair pela rampa da UERJ e dar a volta no estádio inteiro, cruzando com os torcedores do rival que são obrigados a fazerem o caminho oposto para voltarem para suas casas.
Mais ou menos na mesma época, construíram as famigeradas divisões físicas entre cadeiras amarelas, verdes e brancas, o que esquentou loucamente o estádio e condenou a torcida maior em qualquer jogo a ser esmagada no seu canto.
Quanto aos lados: nasci sabendo que o Vasco tinha lado cativo no Maracanã por causa do tamanho de sua torcida. Isso não mudou apesar do poderio econômico atual do Fluminense. A justificativa atual de que “teremos loja no lado do Vasco” não se sustenta com meio minuto de raciocínio: se cada clube tiver sua loja no Maraca, o que é muito possível de acontecer, não há matemática que faça com que todos sejam agradados em todos os jogos. Alguém vai ficar com a loja no lado oposto em algum momento. E aí, pra colocar a cereja no bolo, resolvem reinaugurar o estádio exatamente com o único jogo em que essa confusão se manifesta. Brilhante!
A Força Jovem lança manifesto falando, em três pontos distintos do texto, em mortes. Absurdo! Mas se a Força Jovem se manifesta, a culpa é da diretoria omissa, liderada por nosso ex-ídolo a caminho do ostracismo, Roberto Dinamite. Ao escolher o silêncio, ao se acovardar, se omitir quando de um momento desta envergadura, a torcida, que cansou de esperar que a verdadeira liderança se manifestasse, solta essa declaração lamentável, transformando uma batalha jurídica e política numa declaração completamente descabida de guerra ao co-irmão. Porém, convido-os ao exercício de imaginarem o Botafogo expulsando a favela de lado. Raça e Jovem sendo expulsas de seu lugar. Faixa de Gaza removida. Não sou a favor de ameaças, violência. Mas a forma como foi conduzida essa “mudança” só podia dar nisso. Avisar à torcida do Vasco, pela imprensa, que o que sempre foi não mais será. O que os cidadãos celebrantes do acordo esperavam? O que o senhor Peter esperava? Cordeirinhos seguindo seu pastor Dinamite quietinhos e risonhos para o outro lado?
Brasília deu domingo o seu inacreditável exemplo. Torcidas misturadas embaixo, com as organizadas em cima, quietas, cada qual no seu canto. Está mais do que na hora de se dar o exemplo e permitir que isso aconteça. Somos gente, não animais.
Tenho de ter o direito de assistir um jogo ao lado dos meus amigos tricolores, com minha camisa do Vasco, como fizemos num distante carnaval de 2008 (2007?), num 4 a 4 numa tarde ensolarada de blocos e cerveja. Resumindo o blablablá: Não concordo com a mudança – exatamente pelo único argumento pela qual tal divisão existe: tamanho das torcidas – e acho a alteração uma provocação desnecessária. Mesmo que concordasse, a maneira como foi conduzida e a ocasião para se por em prática são as piores possível.
Vai dar merda.
Já deu.
O pior disso tudo é que o futebol, a razão da coisa toda, ficou mais uma vez em segundo plano. Pra você, que chegou até aqui, muito obrigado. Não concordou? Contra-argumente. Terei prazer em discutir com você. Grande abraço!
Hora de paz (por Paulo-Roberto Andel)
Desde que o mundo é mundo, o Maracanã tinha seus sestros e suas dolências. Grandes clássicos, mais de cem mil pessoas com facilidade. Bons tempos. O padrão de dona Fifa encolheu estádios para privilegiar televisões e o maior da Terra agora é uma lembrança do coração.
De certo sobre o novo Maracanã, apenas a beleza do retrofit.
Muitos esperavam nem ver jogos por lá este ano, o dinheiro vazou pelo ladrão (sem trocadilhos – com trocadilhos sim, porra!), eu mesmo tive medo de nunca mais poder pisar lá – como saber que o que se passa na cabeça dos outros?
Então veio o campeonato brasileiro e o primeiro clássico depois de três anos: Fluminense x Vasco. O Tricolor saiu na frente de todos, foi o primeiro a fechar contrato e garantiu seus privilégios como qualquer parceiro comercial que saia na frente de um negócio. Ponto.
Então veio a história da troca de lado das torcidas, contrariando a história e “direitos adquiridos” pela parte cruzmaltina. Que direitos? É uma nova era, uma nova situação. Falar de direitos adquiridos no Maracanã urge refazer a geral e trazer de volta os torcedores menos abonados, por exemplo. O Fluminense contratou primeiro, acabou. Quem veio depois, tem que se encaixar.
Só que não há mais geral, queridos torcedores exóticos com suas carantonhas, vendedores de refrigerantes que pareciam astronautas, cachorro-quente Geneal. Estamos em 2013. Falei neste parágrafo de 1970, 1980, coisas assim.
Na era recente do futebol, o Vasco infelizmente – como grande clube que é – muitas vezes abriu mão do Maracanã para jogar em São Januário. A empáfia saltava aos olhos de seu ex-comandante: “Temos estádio”! Mas lugar de time grande do Rio é no Maracanã e a conta veio anos depois. Na campanha da segunda divisão, os cruzmaltinos finalmente voltaram para o estádio de onde nunca deveriam ter saído e lotaram jogos e jogos até a volta à série A. Depois da recuperação, abriram mão novamente e aí o estádio fechou. O Vasco tem campo onde é mandante: São Januário. Lá ele decide as coisas. Pra decidir no Maracanã tem que consultar o Fluminense, o Botafogo, o Flamengo e o consórcio. É diferente.
Em tempos de hoje em que o Rio nem tinha um estádio para clássicos – definitivamente o Engenhão não pegou e teve públicos pífios nos grandes confrontos locais – praticamente nenhum lotou – nem tem Engenhão agora -, poderia até ser humorístico pensar nessa celeuma ridícula que trata da “tradição” de se sentar num ou outro lado do Maracanã.
O Vasco tem a torcida bem maior do que a do Fluminense, mas o critério de deixar os cruzmaltinos à direita foi adotado quando se colocava 150 mil pessoas em jogo e não 35 ou 40 mil.
Não, não teve tom humorístico algum.
Pelo contrário, manifestação de torcida organizada sugerindo violência e mortes no próximo domingo, quando tudo deveria ser festa e retorno. Não entro aqui no mérito de quem gostou ou não gostou: apenas entendo que as regras estabelecidas devem ser respeitadas e que NADA justifica ameaças de morte a quem quer que seja, ainda mais por causa de futebol. O Fluminense é o mandante e acabou.
Pior ainda é a falta de profissionalismo em se tentar manobrar o adiamento da partida. Justamente na hora em que o futebol carioca tenta sair do limbo, com seus times vivendo uma era nômade.
Engana-se quem pensa que há desrespeito do Fluminense ao Vasco nesta questão. Pelo contrário: somos gratos aos adversários pela cessão de São Januário neste ano e em outras ocasiões. Não houve uma única confusão provocada pela torcida do Fluminense ao jogar na casa vascaína, mesmo com as péssimas condições para os torcedores – água, banheiros imundos, sujeira generalizada. O que fazemos por hora é respeitar um velho ditado: “Vale o que está escrito.”
Quem tem realmente desrespeitado o Vasco e sua imensa torcida – vide história contemporânea – é sua atual dirigência. Chancelando, ainda que indiretamente, as ameaças de morte – por escrito – protocoladas por parte de sua maior torcida organizada, aí sim o Vasco dá um senhor pontapé na história e uma escarrada nos direitos adquiridos pela Constituição Federal. Esperava mais de Roberto Dinamite, meu ídolo da infância. Bem mais. Como se vê, o problema não estava somente no nome de Eurico Miranda.
No mais, torço para que domingo seja um dia onde baixe o espírito dos anos 80 no Maracanã. Eu ia com meu amigo vascaíno Xuru, cada um ia para seu lado, às vezes nos falávamos no intervalo e depois nos abraçávamos ao fim, qualquer fosse o resultado. Agora não vai ser mais possível: desde 2005 o Xuru não está mais aqui. Felizmente ainda tenho meu amigo – e sócio – bacalhau Zeh Augusto Catalano, mas não poderemos falar pessoalmente no intervalo de jeito nenhum e nem sei se ao fim do jogo: depois que trocar de lado numa arquibancada pode significar ordem para assassinatos, entende-se porque os estádios estão cada vez mais vazios. E já que o poder público botou laço de fita no Maracanã e o deu de presente, que não faça o mesmo com um de seus itens mais importantes: a segurança do lado de fora, com responsabilidade da Polícia Militar.
Todos merecemos assistir um Fluminense x Vasco e voltarmos sãos e salvos para nossas casas, independentemente de cor, credo ou time de futebol.
Somos torcedores, não bandidos.
Hora de paz e não de quadrúpedes.
E que o Fluminense e o Vasco sejam o Fluminense e o Vasco que cada um de nós, em seu lugar nas arquibancadas, aprendeu a amar e respeitar desde os primórdios do século XX.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=1184&idProduto=1216
A história da divisão dos lados das torcidas cariocas:
http://globoesporte.globo.com/platb/memoriaec/2013/07/19/a-historia-dos-lados-das-torcidas-no-maracana/
Pelo amor de Deus, deixemos as diferenças para as grandes questões. De fato, se o Flu é sócio hoje do Maracanã e o Vasco não, é justo que a torcida do Flu escolha o lado em que deseja ficar. Mas, não deve faze-lo somente por pinimba, para demonstrar força ou coisa assim. É apenas lógico e questão de direito. Porém, isso não é o mais importante, pois mais parece aquela coisa de animal selvagem de marcar seu território urinando em árvores. E isso vale pros dois lados.
Se a torcida do Vasco se acha no direito de escolher o lado, a do Flu também. Imagina se alguém chega na sua casa e começa a mandar nas suas coisas? Voce certamente não gostaria, não é?
Mas, que é uma grande bobagem essa briga, ah isso é.
Quero o Flu ganhando à direita ou a esquerda. Perdendo, não interesse se ganhou oc abo de guerra para escolher o lado.
Andel: Pelo amor de Deus, que tal respeitar a pluralidade de opiniões?
Voce está certo, ams o que quis dizer é que se colocou muita carga nesse problema, não aqui no Panorama, mas nos clubes. Aqui é, creio, um espaço democrático em que as opiniões divergem e nos ajudam a entender melhor as notícias. O p”pelo amor de Deus”não foi absolutamente para as cronicas, acho que me fiz entender mal. Pelo contrário, vale os parabéns pela coragem de abordar o assunto dentro das visões diferenciadas. Abraços
Não há justificativa para essa defesa “de lado” de uma torcida! Até porque a gente bem sabe como esse lado foi conquistado: a base de muita violência e covardia!
O Fluminense hoje é âncora como clube no projeto Maracanã. O único, já que o Flamengo ainda não assinou em definitivo! No acordo o presidente pensou no conforto dos seus torcedores, umas vez que a maioria vem por metrô!
Zé Catalano, com todo respeito, mas não adianta tentar defender o indefensável. É como se eu quisesse defender que o Fluminense quando vistante em São Januário entrasse pelo lugar que quiséssemos. Inviável!
A solução é simples: Mando de campo do Fluminense, jogo no Maracanã, com 10% de ingressos pro Vasco. Mando de campo do Vasco, jogo em São Januário com 10% de mando de ingressos do Flu. Mas, a PM diz que não pode isso em São Januário.
É a falência do estado e do ser humano!
Vascaínos, o tempo das cavernas acabou! Enfiem o rabo entre as pernas e aceitem os novos tempos. O Maracanã é a casa do Fluminense agora, assim como São Januário sempre foi o estádio do Vasco!
O meu direito de emitir opinião é proporcional ao de qualquer um em discordar dela. Lamento profundamente a atitude da atual Diretoria do Vasco em levantar esta questão de localização de torcida no Estádio. Quando não se tem o que mostrar em campo, jogue alguma fumaça de fora dele, e é curioso como a atual administração, que ganhou uma eleição atacando o coronelato anterior, adota a a postura. Vivia-se a bradar que “temos estádio!”, mas o apequenou para não cumprir o que o Estatuto do Torcedor determinava. E hoje, esta postura retrato exatamente isso: não querer cumprir normas. O Vasco tem um estádio? O Fluminense, mesmo com “sócios” ou “parceiros”, também tem: o Maracanã. E se é meu, eu fico onde quiser, desde que respietando as normas pré-estabelecidas. É uma festa: aniversário do Fluminense – 111 anos!, é o retorno do Maracanã a seu público carioca (ou fluminense em dobro, como eu), e vocês, vascaínos, estão convidados a jogar conosco no nosso estádio, e seus torcedores podem vir também, basta comprar os ingressos que lhe forem destinados e se sentarem no local que lhes reservamos, se não quiserem, nã venham jogar e/ou não venham torcer.