Fico muito feliz que a bonita festa tricolor com pó de arroz não tenha sido banida dos estádios. Sinceramente não li que maluquice levou a essa possibilidade. Chega uma hora em que cansa ficar lendo sandices e más notícias do futebol. É como se o próprio universo do jogo quisesse destruir nossos sonhos e nos mostrar sua verdadeira face e dissesse:
“Prezado, isso aqui é um negócio, feito pra se ganhar dinheiro (empresários, jogadores e dirigentes). Os clubes são o meio. E vocês, torcedores, os otários que financiam essa trapalhada toda.”
Voltando ao pó. Nunca estive dentro de uma nuvem daquelas. Pelo contrário, estive algumas vezes do outro lado do Maracanã. E era sensacional. Posso garantir. Já pensaram que pena que o Maracanã antigo não tenha vivido o período dos celulares? Teríamos vasto material de uma época que não volta mais.
Confesso que me assustei com uma ideia que escrevi semana passada, a de que hoje em dia não são os melhores jogadores que vestem a camisa de nossos times nos campeonatos. Garotos muito melhores podem ficar pelo caminho, preteridos por empresários mais habilitados e interesses outros nos clubes. Nessas horas, lembro do Andel e de suas reclamações quase diárias acerca da podridão do meio sobre o qual escrevemos. Dá vontade de jogar tudo pro alto. Mas se o fizermos, estaremos, ai sim, colaborando com um futebol pior.
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Semana passada, Neymar ganhou a Uefa Champions League com o Barcelona. Vitorioso, colocou uma faixa na cabeça: 100% Jesus. Fábio, goleiro do Corinthians, ao vencer a disputa de pênaltis contra o São Paulo, glorificou o Senhor. Tudo em nome Dele.
Semaninhas depois, levou um pau do River Plate em pleno Mineirão. Lastimou a atuação. Não houve menção a nada Superior.
Que raio de religião é essa na qual só se glorifica nas vitórias? O pobre coitado do derrotado perde em nome de quem? Será que o futebol é uma competição de graças alcançadas?
Parece deboche, mas é sério. O atleta profissional está afirmando que a vitória veio por razões religiosas. Não por treino, dedicação, esforço. Isso transforma o outro numa espécie de herege numa guerra santa. Algo parecido com a velha piadinha sobre o campeonato baiano acabar empatado porque macumba não ganha jogo. Sem falar nos bandidos que habitam nossos campos, descendo o cacete nos adversários pra depois louvar a Deus na vitória.
Nosso povo perde todo dia para a falta de segurança, para o transporte humilhantemente cheio, para os salários congelados na inflação. E agradece a Deus por mais um dia. Que espécie de mensagem está sendo passada pro torcedor? Vencer em quaisquer circunstâncias? Agradecer em caso de vitórias apenas?
Esse tipo de comportamento explica a razão de termos legiões de torcedores do Chelsea e afins pelo Brasil. O bacana é ganhar. As pessoas não gostam de futebol, mas de vitórias, em todos os momentos da vida.
Quem perde não glorifica.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri