Pinheiro, Edinho e Ricardo Gomes (por Paulo-Roberto Andel)

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Tem horas que é preciso se afastar da pandemia de ódio das redes sociais, com legiões de recalcados e invejosos em busca de autopromoção. Sai pra lá! Pior ainda é disse-me-disse de possíveis contratações. E os imbecis que acreditam que podem definir quem é tricolor de verdade… AHAHAHAHAHAHA. Como essa gente é sem noção, meu Deus…

Eu quero é celebrar heróis do Flu, daqueles que fizeram grandes histórias, mas especialmente que o pessoal mais novo ainda não conheceu direito.

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Em 2011, tive a honra de entrevistar ninguém menos do que Seu Pinheiro, uma das legendas do clube. Xerife da zaga por uma década, campeão mundial pelo Flu, depois trabalhou por anos na base, revelando toneladas de craques.

Pois bem, estávamos eu, Raul Sussekind e Álvaro Doria no Tijuca Tênis Clube. Ficamos horas conversando com o mestre, famoso por suas bombas nas cobranças de pênalti – os goleiros nem viam a bola entrar. Rimos e choramos. E aí veio meu grande momento, perto do fim da entrevista, quando perguntei se podia chamá-lo de maior zagueiro da história do Fluminense, quando Pinheiro mostrou toda a sua humildade e lucidez. Respondeu: “Não, meu filho. O maior de todos foi o Edinho”.

Fiquei em silêncio, olhando para o velho mestre e pensando na minha infância e juventude. Sim, eu sempre soube que Edinho era monstruoso porque o vi jogar – ele foi meu primeiro ídolo, assim como de toda a minha geração. Mas uma coisa é o meu sentimento, outra é a realidade dos fatos. E quando Seu Pinheiro, história viva do Fluminense, sentencia sobre Edinho, o assunto está encerrado. Então pensei em todas aquelas jogadas fantásticas, arrancadas para o ataque, gols, passes, cruzamentos e cobranças de falta – é que Edinho fazia tudo e tudo muito bem. Seu Pinheiro eu não tinha idade para ver, mas sabia por causa do meu pai, que sempre contava histórias dele, e porque toda vez que saía um poster do maior Fluminense de todos os tempos, lá estavam Pinheiro e Edinho no miolo de zaga tricolor – muito diferente das sandices atuais, não é?

Quando dei um abraço em Seu Pinheiro, sabia que seria o último. Aproveitei para pensar em meu pai naqueles segundos – como ele gostaria de estar ali. Então nos despedimos, Raul foi para casa, eu fui jantar com Doria e ali vivemos uma tremenda noite tricolor.

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Com Edinho em campo, o Fluminense podia até perder, mas a derrota era cara demais. Ele foi o jogador que mais aliou garra e talento que vi. Era um monstro. Desarmava, tabelava e partia para o ataque, lembrando seu início no futebol de praia. Concluída a jogada, imediatamente já estava guardando posição na defesa. Em seu auge no Flu, Edinho combatia simplesmente Zico, Roberto Dinamite, Mendonça, Dé, Luisinho, Sócrates, Pita, Palhinha, Serginho, Reinaldo, Éder, Juari, Zé Sérgio e encarava de igual para igual.

Dos 360 jogos em que vestiu a camisa do Fluminense, Edinho conquistou 188 vitórias. Eis um estimador preciso do seu tamanho. Só para se ter uma ideia, o percentual de vitórias de Edinho supera o de Fred, maior ídolo do Fluminense no século XXI.

O maior zagueiro da história do clube.

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Agora, o que nenhum de nós, garotos em 1982 quando Edinho foi negociado com o futebol italiano, gerando grande protesto da torcida mas indiferença dos dirigentes, era que no ano seguinte o Fluminense ia ter outro cracaço na defesa, com um jeito diferente.

Assim como Edinho se destacou aos 18 anos de idade na Máquina, Ricardo se tornou uma das referências do Fluminense que seria campeão brasileiro e tricampeão carioca.

Jogador de estilo clássico e cadenciado, dificilmente usava faltas para desarmar adversários e nunca errava passes. Imbatível no jogo aéreo, não era daqueles que arrancava para o ataque mas mantinha a defesa em plena segurança. Fez grandes duplas com Duílio e, posteriormente, Vica. Todos os seus predicados como jogador podem ser resumidos em duas palavras: classe e elegância.

Por ironia do destino, quando deixou o Fluminense seu sucessor foi um velho conhecido: Edinho, por duas temporadas.

Muitas vezes, os novos posters do maior Fluminense de todos os tempos passaram a deslocar Ricardo para a zaga central, ao lado de Edinho. Isso não diminuiu em nada a importância de Seu Pinheiro, sempre muito citado como o maior de sua posição. Aconteceu que seria impossível barrar Edinho, então Ricardo trocava de lado, mas todos aqueles que conhecem a história do clube sabem que esses três nomes são imprescindíveis no Olimpo Tricolor.

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Sem Edinho e sem Ricardo, o Fluminense passaria um dobrado na zaga, mas por sua própria culpa. Depois teve uma dupla de zaga espetacular, que durou pouco tempo mas deixou imensa saudade: Valber e Torres, craques de padrão Seleção Brasileira.

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No século XXI, o Flu teve grandes zagueiros como Régis, Rodolfo e seu maior nome foi Thiago Silva, também um jogador espetacular. E mais recentemente com Nino.

Especialmente no caso destes dois últimos nomes, não há dúvidas de que foram peças muito importantes. Thiago ganhou a Copa do Brasil e foi vice-campeão carioca, Nino foi bicampeão no Rio e ganhou a Libertadores.

Todos merecem respeito. Agora, é fundamental compreender a fama e o prestígio de Pinheiro, Edinho e Ricardo, uma verdadeira Santíssima Trindade do Fluminense. Para sempre.