Não constitui novidade: mais uma rodada decisiva, ter que vencer um adversário difícil de ser batido em seus domínios, ter que superar as próprias – e visíveis – deficiências. Cenários para o jogo de logo mais contra o Sport.
Desnecessário falar da humilhante goleada sofrida frente à Chapecoense.
Já é fato público que o Fluminense tem possibilidades de classificação à Libertadores, ainda que isso seja tratado de forma superlativa como se fosse um título à parte, além de depender de resultados de terceiros. Evidente que, pelo menos sob a ótica financeira, ir é melhor do que não ir.
E o prestígio?
Depende das circunstâncias. Nunca é demais lembrar o caso do Botafogo em 2014. Foi para não ganhar, correu para não chegar e o resultado do desgoverno poderá ter seu desfecho final logo mais, da pior maneira possível.
Tradução de botequim: ir à Libertadores para ser figurante é mais ou menos um passeio sem dinheiro num shopping. No paraíso do consumo, não se pode consumir. Comemorar número de classificações no certame aí já soa a exagero dodecafônico, como pedir Carlinhos em campo para ter mais garra e velocidade.
Pela enésima vez: torcer para o Fluminense é uma coisa, encantar-se por seus equívocos em campo e nos bastidores é outra. Querer o bem do Flu não significa paternalismo para com milionários entediados da bola. Há o direito democrático de cada um escolher suas trilhas e respectivos resultados.
Esta coluna opta pela franqueza de reconhecer que hoje somos um time mais fraco do que éramos há dois anos.
Muito mais fraco. Mais velho. Mais entediado. Sem empolgação.
Sem ambição.
Os poucos que se salvam não conseguem levar a manada dos desmotivados nas costas.
Conseguimos a façanha recente de ganhar vários jogos seguidos com péssimas exibições.
Depois do ano passado, quando nossa torcida chegou a ser agredida nas ruas, por conta de estímulos inescrupulosos da imprensa esportiva, depois de uma pavorosa campanha, o mínimo que se esperava era uma temporada de 2014 onde cada jogo significasse um prato de comida para um faminto.
Ledo engano.
Os lampejos do Carioca não vingaram, o Brasileiro foi logro, a participação na Sulamericana e na Copa do Brasil desafiou definições de ridículo.
Fora de campo, chiliques, reclamações, estrelismos e maneirismos globais, devidamente postos por terra.
Dentro de campo, lentidão, chuveirinhos inúteis, substituições extraterrestres, manutenções surreais.
Preço da temporada? Trinta milhões de reais.
Time grande que é, pode jogar contra o Sport e vencer, mais no talento do que por qualquer improvável injeção de garra ou tática. No entanto, merecíamos mais, pelo menos os que tem a autoestima regulada nas CNTP.
Desculpem o ânimo modesto.
Sou do tempo em que jogador do Fluminense saía de campo envergonhado depois de sofrer uma goleada, em vez de dar lições de moral oca nos torcedores insatisfeitos. E que ídolo não era mero prospecto de marketing, mas símbolo de garra, luta, vontade, determinação, entrega.
Em suma, tudo o que não se viu nos 4 x 1 da Chapecoense mas que, teimosos que somos, voltaremos a desejar quando a bola rolar logo mais.
Sonhar é bom e não custa nada. Entretanto, o futebol, assim como a vida, é construído com a realidade. E a do time do Fluminense hoje é severa, mesmo com razoável pontuação.
Tomara que tudo dê certo.
Mas é melhor nem pensar em Olimpia, Peñarol, Boca Juniors e a maldita tríade de letras equatorianas como mandantes em 2015. Pode dar a impressão de que não ir é escapar de uma baixaria sem par.
Os outros correndo, o nosso meio time olhando para o infinito ou pensando na próxima balada de Ipanema.
O arranque das velhas barcas Rio-Niterói namorando as águas turvas da Baía de João Cândido, o Almirante Negro.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: pra/ pink floyd, “a momentary lapse of reason”, 1987
Andel, você fez uma síntese perfeita do que foi a nossa temporada. Torço, agora, pelo Fluminense, como torcerei sempre, mas sem esperanças. Esperança que eu já havia abandonado, mas que a série de vistorias consecutivas revivesceu em mim.