Não era preciso ser vidente ou paranormal para compreender a priori a derrota de ontem. Os deslumbrados, sempre eles, saíram do jogo contra o Palmeiras celebrando o pré-penta, com todo o ridículo desta sentença. Deu no que deu. Fluminense e fanfarronice não são do mesmo ventre.

Time para ser campeão o Tricolor tinha e não é de hoje. Em 2013 também. Craques, nomes, gente com “crédito” (no atual cenário, quem foi campeão ou fez gol – às vezes, nem isso – tem direito de xingar torcida, mandar calar a boca e bater na cara da mãe do guarda). Deu no que deu, só não sendo pior porque cada Portuguesa tem a Gávea que merece. Que diabo é esse negócio de crédito? Significa jogar com o nome e o passado? Ser intocável? Então que ponham Castilho no gol, Edinho na zaga, Assis com a 10 e Super Ézio com a 9  – quem me dera! Romerito, Denilson, Marcão, Ricardo, Tato.

O Cristóvão ganhou status de gênio e virou agora o monstro (também por “méritos” próprios). Não foi de hoje. Abel, Luxemburgo, Dorival e Renato foram gênios e monstros, saíram de fininho. Todos eram burros, com aspas. Os inteligentes, com mais aspas ainda, emudeceram em dezembro, março, meses.

Tem alguma coisa errada, não? Muita. A começar por regularmente o time fracassar nos jogos contra times da zona de rebaixamento na era dos pontos corridos. Não é de agora.

No futebol atual, os times são garrafas pet de refrigerantes. Recém abertas, aquele sabor. Dentro de algum tempo, sem gás, o gosto envelhece, deteriora. Não que o Flu esteja nas masmorras, mas o bom senso indica um longo e tenebroso inverno: times baratos, humildes, proletariado, o fim de uma era estelar com títulos sim, mas muita pose e pouca história com meio bilhão de reais gasto. Um dia o modelo ia se esgotar. Deu. Mas ainda se arrastará até 2015, da mesma maneira que Fred faz, exceto em seus momentos esparsos de reconhecido brilho técnico.

Conca tem sido o motor de arranque. Até quando vai mal, luta com tudo, mas não é um deus infalível capaz de resolver tudo sozinho sempre.

Falarei brevemente desse caos no Barradão. O time começou bem, belo gol do Cícero e, sabe-se lá porque, desmilinguiu em prestações. Bem antes do empate do Vitória dava pra sentir cheiro de eira. A virada foi justa, inquestionável, merecida. Fizeram o que o Palmeiras não fez no sábado. Ficou barato. O segundo tempo foi desastroso dentro de campo e à beira dele.

Não é impossível brigar pelo G4, mas a atuação do Fluminense ontem foi uma espécie de traição: você pode perdoar, mas realmente acredita que não acontecerá outra?

Perdemos duas vezes para o time que deixou a lanterna do Brasileiro. Eliminados pelo modesto Goiás na Sul-Americana. Preciso falar do América de Natal?

Uma pena que aqueles cinco ou seis jogos incríveis do começo tenham sido breve ilusão na qual romanticamente me entorpeci. Talvez desse certo com jogadores iniciantes, daqueles muitos times do Fluminense que fizeram história (sem crédito eterno) pela batalha, humildade, proletários da bola. Não daria com estrelas cadentes. Nenhuma ingratidão com os gigantes de 2009, nem com os grandes campeões de 2010 e 2012, mas tudo tem seu tempo.

Quando a solução passou a ser prioritariamente a torcida empurrar um time de cem milhões de reais por ano, foi aí que o Fluminense tropeçou em sua própria história.

O ano não está perdido, pode inclusive dar G4, mas vem aí um longo e tenebroso inverno, que pode nos ajudar a deixar de lado as megalomanias, a prepotência, a verborragia oca, a sapiência vazia, a genialidade quadrúpede dos pernósticos 140 caracteres – e a consciência crítica de volta. Apoiar o time sempre. Nomes passam. Passam.

Os que apostaram na divisão sectária da torcida tricolor estão condenados à indigência intelectual. É dela, unida, que pode vir a base para novos dias, de mais luta e menos “crédito” (imunidade por serviços prestados).

Pode até ganhar o Fla-Flu, duas ou três seguidas. Recobrar a plena confiança é outra coisa. O Fluminense não é para amadores, menos ainda para arrogantes boquirrotos.

O São Paulo, com seu timaço, caiu para o Coritiba. Mas já era tarde.

Panorama Tricolor

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