Há jogos que se tornam memoráveis mesmo que não sejam grandes decisões. Foi o caso de ontem: ficará para sempre. A noite em que o Tricolor demoliu o tricampeão do mundo no Maracanã monumental.
Veio bem menos gente do que das outras partidas recentes, donde se conclui que os ausentes foram tremendamente azarados: perderam a chance de ver ao vivo um dos grandes capítulos da história. O garotinho abraçado pelo pai à arquibancada nos grandes lances deste Fluminense x São Paulo nunca mais vai deixar de vir ao estádio: está condenado pelo amor e pela emoção por toda a vida.
Dois tempos bem distintos. No primeiro, o Flu enrolado, sem liga, passes errados, o São Paulo pintando e bordando com Pato e Ganso, cheios de espaço. Venceram com justiça. Tocavam com calma, aproveitavam as avenidas direita e esquerda da nossa defesa, Carlinhos em noite slow motion, desse tal de Wellington nem vou dizer nada. o goleirinho foi amigo, parecia nitidamente sem ritmo. Para piorar, lutamos muito para igualar placar, conseguimos e logo depois eles fizeram 2 x 1, Pato cabeceando livre e sozinho. Os amigos do Panorama do meu lado na arquibancada, houve quem dissesse estar tudo perdido – e estava mesmo – ou já queriam colocar a culpa no Catalano, nosso sócio vascaíno, pelo pé gelado na ocasião. Difícil pensar em como furar o bloqueio do Morumbi, típico do sr. Bola Pune.
ACONTECE que o craque ilumina, abre caminhos, acende a tocha da vitória. Foi a noite de Walter. Ele mudou o jogo quando acertou a espetacular bicicleta que Ceni defendeu no início da segunda etapa. O São Paulo, verdadeiro hexacampeão brasileiro sem ágio, tinha acabado de chinelar um deslumbrado no domingo, sentiu o golpe. Um escanteio, dois, o gol contra de empate numa bobeada, a defesa claramente nervosa com a pressão. Lances de categoria. Bolas de primeira. Até chute do meio de campo com Ceni preocupadíssimo voltando para a meta. Walter arrasou.
Depois das intervenções do craque, a partida virou de vez: o Fluminense pareceu ter vinte jogadores em campo, ocupou todos os espaços e Walter, sempre ele, marcou um golaço, batendo de três dedos, a bola na costura da rede, Ceni nem se mexeu. Era o nocaute definitivo. Em vinte minutos, uma suposta derrota virou uma goleada retumbante. Wagner, caindo, aumentou. Sobis com faro de artilheiro completou num toquinho. Uma noite de glórias novamente num 21 de maio.
Jogadores como Diguinho, Wagner e Sobis foram monstruosos. Marlon entrou muito bem. Impressionante o poder de reação: o pior primeiro tempo da Era Cristóvão se tornou o resultado mais expressivo e impactante da mesma. Todo mundo abraçado, é claro que o Catalano tornou-se o maior pé-quente de toda a história do futebol. Já o Cláudio Kote abriu um sorriso de duas orelhas a duas orelhas no mesmo rosto.
Naquele outro 21 de maio, em 2008, enquanto a torcida do Flu chorava e ria por uma das maiores vitórias de todos os tempos, a minha tristeza era de morte pela despedida de meu pai, cerca de uma hora antes do jogo. Seu último gesto por aqui foi me pagar uma grana emprestada. Voltou para o quarto e caiu morto. Coisas da ética, da dignidade, hoje em dia tão raras ao ponto de tanta gente falsa distribuir abraços a quem quer vitimar. Aquela partida eu vi depois, ela foi bela e inconfundível, mas eu sinto o cheiro da morte em cada imagem do VT. Bela do mesmo jeito. Seis anos depois, veio uma quarta-feira de novo 21 de maio. A saudade e a dor são as mesmas, intocáveis, mas desta vez eu vi o jogo in loco, eu vi uma grande vitória, uma noite inesquecível e tudo leva a crer que tenha sido a mais justa homenagem merecida por meu pai. Não era a morte, apenas o caminho da eternidade. Agora sim, eu vi o que tanto precisava. Os clássicos são eternos.
Se você tem dúvidas do que aconteceu ontem no Maracanã, é só pesquisar nos alfarrábios: quantas vezes o tricampeão do mundo levou cinco tomates na sacola? É por aí. Eis o Fluminense de hoje, incansável até mesmo nas derrotas, implacável fazendo de jogos normais a mais pura crônica do Olimpo. A noite sequer acabou até agora. A bola pune? E como pune.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: pra
Fala Grande Andel !
O Fluminense de Asprilla, em 2001 meteu 5×2 no Sao Paulo !
Foi num rio-sao paulo no Caio Martins !
Asprilla meteu 2, Agnight meteu 2 e Regis meteu 1 !
4×0 no segundo tempo tb !
Grande abraco !
Rodrigo
Eles cometeram um grande erro. Gritaram “segunda divisão” para a gente após o gol do Pato. Um erro letal.
Fala Andel,
A Bola Puniu As Duas Entregadas Contra Criciúma E Coritiba No Ano Passado.
No Primeiro Tempo Acho Que Talvez O Time Tenha Sentido A Falta Da Liderança De Fred.
Mas No Intervalo, Cristovão Com Mais Uma De Suas Bruxarias, Quebrou O Encanto.
O Time Voltou Outro, Muito Mais Confiante Principalmente.
Justíssima A Homenagem Da Torcida Ontem À Este Brilhante Profissional.
Sds Tricolores.
Bela homenagem a seu saudoso pai Andel! E sobre a vitória de ontem, é triste vivermos num país em que, para a imprensa esportiva, só interessam dois times! Fosse um daqueles o vencedor de ontem, certamente hoje as redações estariam alçando Walter ao posto de novo Romário, ou coisa que o valha! Mas não, apenas algumas menções, dando mais enfase aos erros do Sao Paulo do que ao BRILHANTE segundo tempo do FLU! Mas nós, legítimos e únicos TRICOLORES, já estamos acostumados! ST
Nossa Paulo que sensibilidade… se pai está ao seu lado sempre, e é assim que sinto o meu, sempre presente nos momentos mais difíceis.
Quanto ao jogo, depois de um primeiro tempo a meia luz, o segundo foi fantástico.
Ver o Gordinho rolar no Maraca não tem preço.
Gosto do FRED mas sometimes pergunto se o time joga à mercê dele e as vezes, complicamos, sem gol. Sem o FRED sometimes o time parece que joga um por um, o jogo é mais distribuído. É isso?
Paulo, tenho certeza que o seu pai estava ao seu lado ontem no Maracanã. Você que é o nosso Nelson Rodrigues contemporâneo sabe mais do que ninguém sobre as obrigações clubísticas de um tricolor, mesmo que ele não esteja no mundo material.