Um time, enfim. Cavalieri, Jonathan, Gum, Henrique, Wellington Silva, Pierre, Cícero, Gerson, Scarpa, Osvaldo, Fred. Há quanto tempo você não era capaz de dizer os 11 titulares do Fluminense? Veja só, não importa se você concorda ou não com as escolhas do treinador, mas é certo que ele achou um time. Parece pouco, mas, no nosso caso, é um imenso passo à frente.
Está sendo dito por muitos, mas vou repetir aqui: impressiona o resultado que o trabalho de Levir Culpi alcançou em menos de um mês no comando da equipe. Há méritos para todos os lados. Primeiro, é nítido que quem manda no time é ele. Isso ficou claríssimo no jogo de domingo, contra o Boavista. Entrevista com Fred: “Quero jogar os noventa minutos, mas tem de ver o que vai fazer o Levir”. Pois bem, Levir sacou o cara como havia orientado a preparação física. Pergunta para o Levir: “Fred pediu para sair?”. Resposta do treinador, meio à brinca, meio à vera: “Não, eu pedi para ele sair”. Para quem teve, até pouco tempo, Fred dando instruções na área técnica com o treinador sentado no banco, é ou não um grande avanço?
Em segundo lugar, o progresso na preparação física do time é incrível, perceptível à primeira vista. Peguemos Jonathan. O cara parecia, até 15 dias atrás, o Robocop com uniforme tricolor. Todo duro, com fôlego de asmático em crise, com um palmo de língua de fora no trote. Hoje, ainda não temos um jogador na ponta dos cascos, mas temos um jogador. Quem já jogou bola fora do peso, sabe: muda tudo, os movimentos, a habilidade, o discernimento do jogo. Ou seja, o cara passou de não-jogador para jogador de futebol. O mesmo pode ser dito de praticamente todo o elenco, mesmo dos magrelos, que pareciam carentes de força muscular.
Em terceiro lugar, Levir teve autonomia para mudar o esquema… e mudou. O que ele fez? O mesmo que a gente faz quando o celular dá problema: voltou para o formato de fábrica. No Brasil, o formato de fábrica é o 4-4-2, esquema que todo mundo joga nas peladas, na várzea, nos times em formação. Não é moderno? Quero que se dane, está dando certo. Dá certo. Firmado o esquema básico, reconquistada a confiança, dá para pensar em ousar. Mas uma coisa é certa para a gente: o esquema tem de ser montado para o time, porque não temos dinheiro para montar um time para o esquema. Não adianta montar o esquema para Messi, Neymar e Suárez e ter Osvaldo, Fred e Scarpa. A qualidade é diversa e o perfil de cada jogador idem.
Por fim, é inegável que as principais carências do time foram momentaneamente contidas com o que havia à disposição. Precisávamos de laterais e de um atacante de velocidade. De uma tacada, Levir recuperou Jonathan e fez um milagre com Osvaldo e Wellington Silva. No caso de Osvaldo, parece que a questão era posicionamento mesmo. Agora, no caso de Wellington Silva, está provado que era um lateral direito com dois pés esquerdos, razão pela qual a inversão deu certo. Mas precisou alguém apostar que o improviso de antes poderia ser definitivo, bancar a aposta. Hoje, ele é nosso lateral esquerdo titular e não há a menor chance de ser barrado pelos “especialistas” da posição que estão no elenco.
Tudo isso, quero enfatizar, foi alcançado com menos de um mês de trabalho. Fico pensando o que teria feito uma comissão técnica de respeito, como a atual, se tivesse montado o elenco e feito a pré-temporada com autonomia para trabalhar. Pelo menos, neste ano, o presidente do clube agiu com firmeza, antes da tragédia se consumar. Ainda há tempo para ajustar o elenco e fazer uma “intertemporada” para acertar o time para o Brasileiro. Ainda dá tempo para levar uma ou duas taças para casa no primeiro semestre. Ainda dá tempo para arrumar um estádio e trazer a torcida para junto do time. Ainda dá tempo para sepultar definitivamente o passado recente, um período sombrio em que o Flu fez tudo menos jogar futebol.
O que hoje é óbvio é que, pela primeira vez em muito tempo, temos esperança. A torcida, que estava amuada, ressentida, aos poucos está respirando novos ares e certamente mostrará sua cara. São bons os ventos de março, são promessa de vida em nosso coração.
P.S. Por que, em lugar de tentar a liberação do Maracanã, hoje enrolado com a Odebrecht, não se tenta a liberação do Engenhão?
Panorama tricolor
@PanoramaTri
Imagem: JLM / PRA
Gosto do Engenhão, até pq é perto de casa, dá pra ir a pé.
ST
Campeão Fluminense e da Liga, resta saber se vai ter Brasil no final do ano para termos o brasileiro e a Copa do Brasil.