Os papagaios (por Zeh Augusto Catalano)

downloadO brasileiro é profundo entendedor de qualquer coisa. Qualquer assunto que esteja em voga é discutido por pessoas de qualquer idade e sexo com desenvoltura.
.
E o assunto da moda é a “virada de mesa”. É o Fluminense.
.
As pessoas falam disso – vi mulheres (mães com crianças de quatro anos) e senhoras em grupo debatendo o tema, pelo menos duas vezes esses dias – sem ter a menor noção do que estão dizendo. Sendo assim, de onde vem esse “conhecimento”? Quem pauta essa conversa?
.
Não vem de jornais ou revistas, pois não é a leitura usual. Também não vem da internet, por duas razões: o que elas dizem é o conteúdo pasteurizado que conhecemos de antemão. Aquele disco arranhado de sempre. Se fosse lido na web, haveria o contraponto, a opinião divergente. E ela não existe. Sendo assim, de duas uma: ou as vovós e mamães frequentam sites de esportes ou não vem de lá o que repetem.
.
Tampouco vem de canais esportivos. Não são o perfil.
.

Sobra a tv. É dali que tiram toda a sabedoria para os debates em público.

E é aí que reside o mal: ouvem e assimilam como se verdade absoluta fosse e reproduzem aos quatro ventos.

Essa é a verdadeira massa de manobra. Tais pessoas não têm a menor capacidade crítica para avaliar a informação que estão bebendo. São ignorantes no sentido mais literal da palavra. Grande parte da nossa população pertence a essa classe, que independe de raça, credo ou poder aquisitivo. Com esta grande ajuda, as inverdades, acidentais ou intencionais, se propagam qual fogo em palha. Isso explica as enormes distorções que vemos, com a verdade mudando de lado aos sabor dos desejos de quem pilota as transmissões.

Curiosamente, em época de eleições, uma parte desse público desperta e passa momentaneamente a ter noção da existência e a recusar a manipulação que sofre, sem se dar conta de que este é um mecanismo diário, que alimenta preferências, suaviza problemas de interesse da classe política e que se manifesta no esporte, na música, nos costumes e regras sociais.

Somos doutrinados todos os dias, subliminarmente, nos pequenos detalhes do que vemos. Os que percebem são os teóricos da conspiração. Loucos que inventam desculpas.

Como exemplo futebolístico disso, semana passada, Jornal Nacional, reportagem sobre ingressos para a Copa. A reportagem foi feita com cerca de meia dúzia de torcedores, todos vestindo uniformes de um mesmo time. Uma Bala Juquinha pra quem adivinhar o time. Pois é, você acertou…

********************************************************************************

O Vasco foi, por anos a fio, a instituição mais odiada deste país. Muito graças ao mecanismo que expliquei acima. Gente que ignora futebol, que não sabe nem o que é um tiro de meta, detestava o Vasco. Mas por quê? Cansei de perguntar. Por causa do Eurico, era a resposta padrão. Mas o que o Eurico fez para que você o deteste tanto? Evasivas. Uma raiva quase gratuita fomentada por algo que não se entende.

O Fluminense ocupa agora esse posto. Agora é com vocês, tricolores. O massacre está em pleno curso. A intolerância disfarçada de indignação. Uma guerra santa por causa dos quatro pontos usurpados da coitada da Portuguesa de Desportos.

Uma sugestão: não batam de frente. Meu Vasco paga há quase 15 anos por uma tarde de vitórias. E o preço é caríssimo. Cobrado a cada pequeno problema. Reajam. Mas sejam inteligentes.

Panorama Tricolor

Fluminense de verdade

@PanoramaTri @zecatal

Imagem: scratchbomb.com

Prezado (a) leitor (a), é sempre uma honra a tua presença aqui, bem como os comentários que podem ser tanto elogiosos quanto críticos ou divergentes – tudo altamente salutar. Contudo, atendendo aos procedimentos estabelecidos no PANORAMA em prol da excelência literária que marca este sítio, não serão publicados comentários ofensivos ou lesivos à imagem de terceiros sob qualquer espécie. O mesmo vale para comentários em caixa-alta. Os cronistas respondem juridicamente por suas publicações. Divergência nada tem a ver com estupidez e grosseria. Muito obrigado. 

6 Comments

  1. Zeh,

    Aqui é, como dizem os nordestinos, “Renato de Márcia”…

    Ótimo seu post.

    E o pior é que não o é só aquela ampla parcela da humanidade sujeita permanentemente ao senso comum.

    Um velho amigo meu, torcedor do “menor dos maiores” e professor de Ciências Políticas da UFRJ (!!!!), me enviou msgs espumando de ódio em relação ao Flu, vergonha nacional e o cacete…

    Vamos tocando e esperando o Conquinha.

    Abcs.

    Renato

    *** Service disabled. Check access key in CleanTalk…

  2. Prezado Catalano,

    excelente post.

    e a ignorancia nao se observa apenas na camada menos escolarizada da população, em tese mais suscetiveis aa influencia pela tv…

    talvez sejam os verdadeiros ‘filhos da revolução’ (e do maldito p.renato) os milhares de diplomados subletrados e sem qualquer espirito critico prontos a reproduzir o que ’emana da marginal e da lagoa’.

    espero que consigamos um dia lutar lado a lado, cada qual com seu manto, contra o grande inimigo comum.

    forte…

  3. Qualquer semelhança com o ódio, que alguns, não pensantes, tem ao PT, não é mera coincidência.

    Acho que após o julgamento dos recursos, esta campanha anti-Flu abrandará.

    Saudações Cruzmaltinas.

    Ave Flu.

Comments are closed.