O que sobra do Fluminense por ora (por Claudia Barros)

Já é quase final de 2022. Pelo menos o primeiro semestre já passou e o segundo anda à galope.

Os sonhos ruem, um a um.

O sonho da Libertadores foi adiado. Covardemente adiado.

O sonho da Sul-americana, idem.

A Copa do Brasil fugiu pelas frestas dos dedos, tal como água.

O Brasileirão se tornou a única chance de dignidade nesse segundo semestre.

À essas alturas do ano, um time sobre o qual não quero falar – sequer o nome -, caminha para um possível título continental.

O Brasil vive um momento interessante, mas, também, estressante. As pessoas vão às urnas, em muito breve, escolher seus representantes para o parlamento e para o executivo.

Depois disso só se falará em Copa do Mundo.

Em meio a tudo, uma eleição para a presidência do Fluminense. Eu diria que em termos de importância, essa eleição só perde para a de Presidente da República. Afinal, que estresse…

O Fluminense, que é a minha verdadeira e genuína eleição, é também a minha verdadeira e castiça seleção.

Pequeno diante de todos os fatos que ocorrem no Brasil e no mundo e sou sã o suficiente para reconhecer isso, o Flu é o retrato escrito e talhado de parte da vida institucional brasileira.

Um grande clube, um inigualável histórico, um séquito de seguidores.

Um péssimo uso do dinheiro, negócios inexplicáveis, vilipêndio ao patrimônio, falta de transparência, salários exorbitantes, atletas afortunados, talentos mal aproveitados, contratações profissionais que só a cegueira pode explicar.

Aliás, José Saramago na sua estupenda obra, Ensaio sobre a Cegueira, diz que “Cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança”

O futebol vive sob um palco de egos, vaidades e muito, mas muito interesse privado. O Fluminense se ressente de um modelo arcaico e devastador que se instalou nas Laranjeiras há anos. Vive da inusitada situação de ter parte das suas rendas oriundas da venda de novos e talentosos jogadores, criados na base do clube. Vive também da arte de criar e vender ilusões. Para tanto, há sempre quem as compre.

A palavra culpa deve ser usada, sim. Culpa de quem gerencia, de quem contrata, de quem vende, de quem seduz com discurso do tipo “cortina de fumaça”. A antiga e funcional estratégia de desviar o foco de temas centrais se faz, muitas vezes, com espetáculos circenses e anúncios pirotécnicos. Afinal, o que foi essa semana a história que circulou sobre a possível volta de Thiago Neves? Amigas, amigos, é muita desfaçatez combinada com caiação de parede.

Não é possível jogar tudo pelo alto. Ainda gosto e admiro a forma de jogar que o time adotou com a chegada de Fernando Diniz, mas é cada dia mais insuportável ver esses medalhões e seus salários absurdos em campo, seja vociferando macheza murcha, seja desfilando infausto futebol.

Que não joguemos a criança fora, basta jogar a água suja. E como diria Nei Lopes: “não sou profissional das tintas pra viver de caiação”.

Sobre o Fla x Flu, pela 27ª rodada do Brasileiro de 2022, que vença o melhor.