Tricolores de sangue grená, o Fluminense venceu o Botafogo pelo magro placar de 1 a 0 neste sábado e garantiu sua classificação para as semifinais do Ferjão quase uma semana antes da estreia na Libertadores contra o River Plate, que se dará nesta quinta-feira. Como o Carioca é uma bagunça, o jogo, que estava marcado para domingo, foi adiantado para sábado, e por essa razão não dei o palpite em minha última coluna. Para quem viu a partida, dois cenários poderiam ser possíveis. Poderíamos ter saído com uns 3 a 0, vide os dois pênaltis ignorados, ou ficado no 0 x 0 mesmo, tamanha a ineficiência do nosso ataque. Por sorte, a bola parada ainda é letal, e mesmo que Nenê fique tempo demasiado em campo sem fazer nada, quando ele resolve fazer, ainda decide contra times pequenos. Nino mostrou seu faro artilheiro mais uma vez e resolveu a parada. Tudo parece estar às mil maravilhas fora de campo também. Salários em dia finalmente, algo que não acontecia desde 2018, inclusive para os funcionários, que estavam há 60 dias sem receber, reforços continuando a chegar… eu deveria exaltar a gestão, certo?
Mas a verdade é que já existem muitos para fazê-lo em meu lugar. Posso reconhecer alguns dos méritos – que não passam de obrigações, a meu ver, já que foram promessas de campanha (salários em dia e time competitivo) –, mas há muitas outras ainda que não foram cumpridas e que não possuem previsão para sê-lo. Uma delas é a reforma de Laranjeiras, que já caiu no reino da falácia, e a outra, que vou abordar nessa coluna, é o voto online. Um dos principais pilares da campanha eleitoral de Mário Bittencourt e Celso Barros foi a promessa da implementação do voto online nas eleições de 2022. Além de demonstrar respeito aos sócios que moram longe da sede, principalmente os de outros estados, o voto online agilizaria o processo, democratizaria de fato o Fluminense, atrairia a participação de ainda mais sócios no processo e, é claro, seria um incentivo a mais para o Fluminense arrebanhar sócios no Brasil inteiro, sem precisar depender de eventos como o “Tricolor em Toda Terra” para transmitir uma verdadeira sensação de pertencimento ao clube. É algo que vários torcedores sempre cobram nas lives do PANORAMA.
Só que tem um problema… Mário ganhou a última eleição por capote. Se foi ou não com os votos do Celso, isso pouco importa para a situação no momento. É aquela história… “em time que está ganhando não se mexe”, certo? Quando questionei alguns apoiadores da gestão, apesar de ter encontrado eco em meu discurso com alguns deles, outros jogaram a batata quente para o Conselho Deliberativo, dizendo que o presidente poderia no máximo encaminhar a sugestão ao CDEL, mas restaria a eles aprovarem essa medida. Ora, se a maioria do CDEL é de apoiadores do Mário, só não aprovarão a medida se ele for contra. O resto é puro jogo de cena. Outro entrave levantado foi o estatuto, que impediria esse tipo de votação. Mas o estatuto não pode ser mudado em determinadas épocas? E, pelo que sei, o início de 2021 seria uma delas… por que não foi feito, afinal? Um terceiro aventou a hipótese de fraude, de que alguém poderia simplesmente fraudar as associações para direcionar votos, e que com tempo e dinheiro isso seria possível. Questionei o que alguém ganharia gastando tempo e dinheiro para ocupar um cargo não-remunerado no Fluminense, a menos que houvesse algum ganho pessoal em vista que não estivesse óbvio à primeira vista ou que fosse escuso. Quanto foi mesmo que o Mário gastou na campanha?
Enfim, eu poderia encerrar a coluna enumerando as razões para estabelecer o voto online e os mecanismos possíveis para que isso ocorra, mas prefiro deixar para a leitura de vocês alguns prints do website do grupo político Tricolor de Coração, base de apoio da gestão à época da votação. Acredito que os argumentos aqui presentes não deveriam ser esquecidos pelos próprios que os formularam, e nem por nós. Se queremos um Fluminense democrático de verdade, aberto a todos os seus torcedores, e não apenas um feudo de alguns poucos donos, temos o dever de preservar muito bem a memória do que acontece e aconteceu no clube, para evitarmos repetir tragédias e manter indefinidamente modelos claramente danosos à nossa história e à nossa preservação perene.
Curtas:
– Raúl Bobadilla, Manoel, Cazares, Abel Hernández e David Braz são reforços, no geral, razoáveis. O paraguaio me parece ser ótima aquisição. Manoel quase sempre teve bom nível, já foi selecionável. Os dois são ótimos reservas, e Raúl é a opção imediata a Fred que tanto queríamos. Cazares pode ser titular, mas vai depender de como estiver fisicamente, e também se as panelas no Flu vão dar um tempo. Abel Hernández dividiu opiniões no Inter, assim como David Braz no Grêmio. Esses dois têm mais caráter de aposta, mas podem ser importantes.
– Considerando que todos eles – ou quase todos – foram o “plano B” do scout, a impressão que dá é de que poderia ser pior. Porém, não dá pra entender mesmo algumas coisas no Fluminense. Temos Yuri, Caio Paulista e Lucca que não têm nível para continuar como opções no Fluminense. Aí o Fluminense quer emprestar André, empresta Michel Araújo e vai negociar também Pacheco de algum modo, mas ficará com as três barangas supracitadas. Tá foda.
– Contratou meio mundo, mas para a lateral-esquerda… nada. Continuaremos aturando Egídio e Danilo Barcelos. Ou Roger entende que precisa testar Marcos Pedro, que Jefté não pode passar um ano no sub-23 sendo o melhor da posição no elenco, ou até que talvez valha a pena improvisar algum jogador na posição (como o Luiz Henrique, sugerido pelo Savioli), ou cada jogo da Libertadores vai ser extremamente tenso, principalmente se os adversários descobrirem a Avenida Egídio/Barcelos.
– Roger está perdendo tempo demais tentando criar um esquema que gire em torno da dupla Fred/Nenê. Está escalando jogadores nas posições erradas, ou com características que não batem. Por exemplo, Kayky não é jogador para tabelar, é jogador para o mano-a-mano, para abrir espaços, para atrair a marcação adversária e tentar passar por ela. Não adianta colocar Wellington na cabeça de área e prescindir de outros volantes de qualidade para fazer a transição – o certo seria a dupla Martinelli/Calegari ali, com Yago fazendo a proteção à zaga. Como temos Egídio infelizmente, escala o Samuel Xavier, segura a linha de quatro defensiva, abre Cazares de um lado, Gabriel Teixeira/ Luiz Henrique/ Miguel/ algum outro do outro lado, com Fred e Kayky no ataque. Teremos uma transição pelo meio que pode ser aprofundada pelos flancos quando necessário, com o deslocamento dos volantes e dos meias, que teriam a qualidade necessária para isso. Só que vai precisar sacar o Nenê, e não sei se ele tem colhões para isso.
– Ia falar da estreia na Libertadores, mas vou deixar para uma coluna extra dessa semana. Aguardem.
Seria plenamente possível implantarem o voto pela internet. O que não falta no Brasil são bons profissionais para viabilizar isso, e o Fluminense não teria nenhum prejuízo nem haveria fraudes, ao contrário do temor principal. Ora, a base de sócios não registra o CPF de todos os cadastrados? Bastaria cruzar os dados num sistema que impediria até mesmo mais de um voto por CPF, como acontece no Prêmio Comunique-se, por exemplo. A própria gestão empaca sobre uma ‘dificuldade’ que não existe.