Para ganhar um Brasileiro é preciso mais que um time, é necessário um elenco. Frases com esse conteúdo são mantras repetidos exaustivamente por comentaristas dos diversos meios de comunicação. Ao mesmo tempo, a toda hora são levantadas questões sobre se fulano é titular, se foi “barrado”, se o time que vai a campo é misto ou reserva, enfim: para vender o jornal não vale a máxima do elenco, mas dos onze iniciais.
Observando o futebol moderno, cabe perguntar se ainda há espaço para a noção de titularidade. O que é ser titular no futebol de hoje? Pegue a Alemanha campeã do mundo e veja como a formação mudou ao longo de curtos sete jogos. Por vezes, isso não significou uma simples troca de jogadores, mas mudança de função, de esquema de jogo.
Ser titular no atual futebol é saber desempenhar mais de uma função em campo, é entender o esquema de jogo e adaptar-se a ele, em sua dinâmica extrema dentro das partidas. O que deve importar é fazer a equipe impor seu jogo, dominar o território, criar oportunidade e conquistar as vitórias. Nessa compreensão é que se torna fundamental um elenco. Não para cobrir eventuais suspensões ou contusões, mas pela possibilidade de contar com diferentes papéis a desempenhar de acordo com a prancheta do treinador.
E a prancheta de Cristóvão é repleta de opções e variações. Daí a necessidade de explorar o elenco e fazê-lo render ao máximo. Sem titularidades. Sem vaidades. Ainda não é algo que esteja construído ou mesmo declarado abertamente. O banco de reservas incomoda e a imprensa, ávida por crises, ronda à espreita para colher a bombástica declaração de insatisfação.
Todo esse rodeio nos leva a Fred. Centroavante da seleção brasileira, tido como uma referência no futebol nacional; apesar disso, vítima de uma campanha covarde por sua atuação na Copa do Mundo. Não que ele tenha jogado bem, nenhum dos selecionados destacou-se positivamente na tragédia da copa em casa, mas a mídia fez dele o vilão quase único de um fiasco com tantos outros responsáveis.
O dilema de Borges reside em dar a Fred a condição de titular ou colocá-lo no banco de reservas pela supremacia tática. Nesses primeiros jogos após a volta do matador, as soluções foram simples, devido ao fator físico ou à ideia de poupar jogadores. Entretanto, haverá momento em que todos estarão na ponta dos cascos e o muro não será uma opção para nosso treinador estar.
De um lado, a pressão de um salário milionário, um nome estelar, uma relação de identidade com o clube e até o olhar de dirigentes e patrocinadores. De outro, o encaixe no esquema, a velocidade, a proposta tática insinuante de um futebol vistoso e eficiente. Particularmente, não há melhor hora para que o Fluminense dê um passo em direção à grandeza que sempre lhe caracterizou: como na Europa, não há titulares no Flu. Confio demais na prancheta de Cristóvão para que ele tenha tranquilidade: importante é continuar o belo trabalho, esse é o caminho para nossas conquistas.
Assim, não acho que Fred deva ser banco. Ou ser titular. Acho que Borges tem um conjunto de soluções táticas que podem ser aplicadas nas variações dos jogos e adversários. Ora mais velocidade, mais pegada ou mais referência. Por seu lado, Fred não é o cone que tentaram lhe fazer. Inteligente e talentoso, não demorará alguns poucos jogos para que se adapte às funções do esquema.
Desta forma, teremos a “briga pela titularidade” pautada pela diversidade de funções, pelas opções táticas. Ao fim e ao cabo, se todos entenderem essa lição, o Tricolor terá um grupo que objetiva conquistas para as três cores. E que reconhece a imensidão do Fluminense e o quanto de orgulho pode dar ajudar a escrever essa história. Titulares para o próximo jogo, conjunto de vencedores para o próximo título.
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Foto: abril.com.br