O X da questão (por Paulo-Roberto Andel)

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Em momentos de conturbação, dúvida e questionamentos, volta à tona o papel dos torcedores do Fluminense em relação ao fortalecimento econômico e político do clube. Defensores e vociferadores, cada um de um jeito.

Quando Nelson Rodrigues escreveu as letras imortais sobre o torcedor do Fluminense comparecer ao Maracanã nos momentos cruciais, abanando-se com a Revista do Rádio em situações de rotina, o Brasil e o mundo eram diferentes demais: o futebol custava uma ninharia para ser feito, os jogadores atuavam por amor à camisa e assinavam contratos em branco, o uniforme do Fluminense era encomendado na lojinha do Largo do Machado (e a Seleção Brasileira entrava em campo na Suécia com camisas de números costurados pela comissão técnica).

Nos anos 70, os da inesquecível Máquina, o lema era “Compre que a torcida garante”. Com cem mil pagantes em muitos jogos, foi possível manter um supertime – não havia televisão, nem patrocinadores, empresários de jogadores, direitos federativos e o escambau. Dinheiro era arquibancada lotada ou vender o passe de um craque.

Depois, a televisão virou poço de petróleo, passaram a tratar o torcedor como mero acessório facultativo, vieram os salários astronômicos, as superdívidas e o caos. Hoje, a Globo é um banco onde os clubes, pendurados até o pescoço, são clientes no cheque especial virado.

Antigamente ter uma grande torcida dava prêmios no Jornal dos Sports, a Taça Salutaris, o Rei da Voz que virou Rock ‘n Rio (Lisboa). E só. Cinco clássicos cheios garantiam seis meses de folha de pagamento. Os outros seis com amistosos no Brasil e no exterior, o calendário permitia.

Rivellino custou o equivalente a um milhão de reais em 1975. Agora, qualquer jogadorzinho sai por dez ou quinze vezes mais.

O futebol mudou. Procure na Inglaterra, Itália, Alemanha, Espanha. Diante da Europa arrasada economicamente, os grandes clubes que estão sobrevivendo bem contam com estádios lotados, sócios ativos e participação. O torcedor deixou de ser uma alegoria ocasional, passando a ser parte decisiva no processo. Aqui mesmo no Brasil alguns times fazem o mesmo, com resultados visíveis.

A linda torcida do Fluminense, que até agora não conseguiu colocar lotação máxima no novo Maracanã, reaberto em 2013, está longe dos 90 mil que prestigiavam o modesto time nas semifinais contra o Bragantino, no já distante 1991. Alguém vai falar da época do Time de Guerreiros. Embora eu seja crítico do Sr. Horcades, não fosse a loucura corajosa (e até desesperada) de rasgar o Sócio Futebol da época e colocar os ingressos a cinco reais, a coisa teria ficado feia. Bem feia.

Não há dúvidas de que o SF tem diversos problemas, que não são exclusivos das Laranjeiras. Contudo, é melhor tentar buscar as soluções com participação efetiva ou reclamar eletronicamente como forma de enrustir a omissão?

O X da questão desfila diante de todos os olhares. Consiga os patrocinadores que conseguir, avance no que avançar, o Fluminense precisa mais do que nunca de sua torcida, hoje sem a Revista do Rádio mas abanando-se com as redes sociais. E não adianta mais conseguir apenas cinco jogos rentáveis por temporada.

Longe de culpar a torcida pelos problemas, o caso é trazê-la para otimizar as soluções, além de consagrar o Tricolor como o que sempre foi: um time popular. A diferença é que os apaixonados e dedicados também sejam responsáveis pelas decisões, não apenas como claque dos grandes jogos e da festa.

Sócio: ser ou não ser? Fluminense: crescer ou não crescer?

A matemática não pode se resumir à questão de ter mais sócios para manter ocasionalmente um Conca, sendo bem mais abrangente – neutralizar mecenatos, nepotismos, governos de culto à personalidade e o principal: fazer com que o Flu possa decidir seu destino em vez de franqueá-lo a eventuais vontades individuais.

Para quem acha pouco, que tal refletir o que o clube lucraria com a participação de 3 ou 5% de seus torcedores? Quanto seria? Talvez 100 ou 150 mil sócios? Qual é o número exato? Certo é que, seja qual for, será muito maior do que o atual. Para quem considera utopia, não custa lembrar: não fosse o empenho coletivo tricolor, o Fluminense teria morrido em 1912 e 1998.

Tornar-se sócio no mínimo ajuda a evitar que o clube sofra prejuízos, tudo por conta do casuísmo de investidores guiados pela empáfia boquirrota.

Tomara que a volta do mar branco da Young Flu seja mais um bom presságio para o futuro.

Tudo indica que sim, mesmo que as grades do Maracanã sugiram um indesejado aparte.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

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1 Comments

  1. Ótimo texto e o parelo que você faz da época em que a torcida era quem patrocinava o clube ,lotando o Maracanã e hoje,com cotas de tv,patrocinio na camisa entre outros.Para ter um time competitivo dependemos de patrocinio.Hoje,os torcedores preferem ficar reclamando nas redes sociais tanto do time,treinador e politica do clube,evidente que todos tem direito a opinião e respeito este direito.Temos um intrumento tanto de mudança politica no clube e um time melhor,que é ser sócio do clube.
    Abs e…

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