“A culpa foi da Portuguesa, da diretoria anterior da Portuguesa, o Fluminense apenas usou o regulamento. Não tem mais nada além (disso)…”. Foi, em síntese, o teor do que o ex-presidente do clube paulista veio ao Fluminense dizer em entrevista coletiva na tarde dessa última terça-feira.
O senhor Ilídio Lico tem todo o direito de se arrepender. Todos nós temos. Chega um momento em que a consciência pesa demais e o arrependimento público pode ser a válvula de escape para que a falta cometida não seja tão penosa para quem a carrega consigo.
É bem verdade, também, que a ação judicial que lhe foi movida pelo Fluminense visando à reparação civil por danos morais, em virtude de ter concedido entrevista a portal jornalístico de ampla repercussão onde afirmara, levianamente, que o Tricolor e o seu ex-patrocinador estariam envolvidos em suposto pagamento de suborno para a escalação irregular do jogador Héverton, da Lusa, na última rodada do campeonato brasileiro de 2013, pode ter tido influência na decisão do senhor Ilídio.
O que me causa estranheza, e por isso esperei algum tempo até me pronunciar sobre o caso, é que o sobredito arrependimento do senhor Lico poderia ter ocorrido logo após o término do efeito entorpecente do vinho que afirma ter degustado em almoço, e que, de tão forte, teria tido o efeito de embaralhar momentaneamente as suas faculdades mentais a ponto de vociferar tamanhas leviandades.
Mas se o vinho fosse daqueles, porém, cujo efeito durasse um pouco mais, poderia o arrependimento ter se manifestado quando do ajuizamento da ação indenizatória. Aliás, o senhor Ilídio não precisaria ter esperado tanto tempo, uma simples petição atravessada nos autos demonstrando que suas palavras foram mal interpretadas, acompanhada de um sincero pedido de desculpas, enaltecendo a grandeza do Fluminense, poderia constituir meio hábil de conciliação judicial entre as partes.
O efeito longevo do vinho do senhor Lico, contudo, durou até ontem, alguns meses após as suas bravatas e o ajuizamento da ação em que é réu. Por que tanto tempo? Que vinho é este, cujos efeitos perduram no tempo ao bel prazer de quem o degusta? Por que, o senhor Ilídio compareceu pessoalmente ao Fluminense e fez questão de dizer algo que já poderia ter dito há muito tempo, ou mesmo nunca ter dito?
Vale lembrar que, logo após a sua entrevista, Ilídio afirmou que suas palavras teriam sido mal interpretadas, mas nunca desmentiu o que disse.
Coincidentemente, a farsa perpetrada pelo ex-dirigente da lusa ocorreu no dia seguinte à notícia da decisão do TAS que indeferiu, em último grau na Justiça Desportiva, recurso impetrado pelo Flamengo que visava à recuperação dos pontos perdidos pela escalação irregular do jogador André Santos também na última rodada do campeonato brasileiro de 2013.
Ora, o que isso quer dizer? Não sou leviano, não tenho provas – até porque quem as têm, não as apresenta – mas ainda é me dado o direito de argumentar.
O pedido de desculpas de Ilídio Lico teve um objetivo bem claro, e ele ficou evidenciado nas palavras “não tem mais nada além disso”. O que poderia haver “além disso”? O que poderia haver além de Fluminense, autor da ação judicial e Ilídico Lico, réu?
Não foi a possibilidade de ser condenado e pagar alguma quantia em dinheiro, execução esta que poderia ser procrastinada por anos, dependendo do advogado contratado, que motivou o senhor Ilídio Lico, até porque se fosse realmente apenas dinheiro, como já disse, poderia ter se retratado bem antes.
Então o que foi? A resposta está no “no nada mais além disso”. A ênfase do dirigente da Lusa em apontar a responsabilidade da diretoria anterior, excluir a do Fluminense e encerrar o assunto levanta fundadas suspeitas de que um terceiro sujeito está sendo providencialmente oculto. Afinal de contas, encerrar a ação com um pedido de desculpas, estardalhaço da imprensa, na sede do Fluminense, interessaria a quem?
Interessaria apenas àquele que poderia ser efetivamente prejudicado com o prosseguimento da ação judicial: o Flamengo.
Já se viu que Ilídio Lico pouco se importava com a demanda judicial. Para o Fluminense, o seu prosseguimento significaria a possibilidade de se buscar novas provas e fatos que pudessem levar à verdadeira autoria de quem pagou para que a escalação de Heverton, mesmo irregular, acarretasse a perda de pontos da lusa. Portanto, para o Tricolor, não havia interesse em encerrar a ação judicial, como costuma acontecer aos inocentes, que desejam um julgamento que lhes declare a ausência de responsabilidade sobre os fatos que lhes são imputados.
Nesse sentido, e o raciocínio não é complexo, apenas um sujeito desse imbróglio tinha interesse no deslinde efetivo do processo judicial: aquele que detém a culpa. A culpa insofismável que a mídia faz questão de esconder e que poderia ser revelada se o processo tivesse um termo favorável ao Fluminense. No mínimo, seria um risco a se correr.
Assim, nenhum torcedor lúcido deve aceitar que um porre dure tanto tempo, que bravatas sejam tidas por verdades e que dirigentes acatem simploriamente um pedido formal de desculpas de um títere de uma organização muito maior do que aquela que aparenta ser.
A maior fraude desportiva dos últimos anos continua produzindo seus efeitos. Só não vê quem não quer.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @FFleury
Imagem: va/uol
– A irresponsabilidade das declarações mentirosas deste sr. poderia ter causado uma tragédia já que torcedores tricolores foram agredidos e até uma criança foi atacada por estar com a camisa do clube. E se algum torcedor tricolor é morto por causa disso? Sinceramente um pedido de desculpas é muito mas muito pouco porque o dano ao Flu já esta feito. Mas a frapress nunca irá confessar o que todos sabem, que o clube de regatas empáfia&soberba fez.
Caro Felipe,
Pelo teu raciocínio, em breve o peninha vai alegar ter tomado outro vinho forte para dizer que o Flu é mau caráter, e pedirá desculpas também. Ele faria isso para que as ações do fla/globo não sejam reveladas. Como eu não acredito que o peninha vai voltar atrás, pelo teu raciocínio haverá busca pelo fatos reais da compra da lusa.
Entretanto, não creio que a verdade será revelada (aparentemente o Ministério Público de São Paulo já sabe, mas não fala).
João Carlos
Bom dia Fleury!. Pelo que sei, a ação é de indenização por danos morais contra o ‘mico’ Ilidio. Essa Ação não levaria a descobrir se o FRA/GROBO, estão envolvidos no problema, pois é uma ação do Flu contra o Ilidio, que poderia, na audiência, se retratar e o juiz poderia aplicar uma pena de pagamento de cestas básicas para alguma insituição pública.
Sim, José Roberto. Pelo que sei é uma ação de responsabilidade por danos morais contra Ilídio Lico. Entretanto, eventual retratação do réu somente teria eficácia se o Fluminense a aceitasse, como fez agora. Caso contrário, a ação deveria seguir até o seu final, onde provas deveriam ser produzidas. E é a produção dessas provas que não interessa ao Flamengo. Outro ponto: o pagamento de cestas básicas é medida alternativa que pode ser proposta nos casos de crimes de menor potencial ofensivo…
…(cont.)ou seja, na esfera criminal. No caso, estamos falando de uma ação civel de indenização por danos morais, searas distintas, portanto. Um abraço e ST
E a defesa da instituição continua em nossas mãos…a cada rebatimento que fazemos, seja aqui e em outros portais, seja nas ruas quando a torcida arco íris vocifera essa sandices contra nós Tricolores e nosso FLU.
ST
Excelente! Basta dizer que, para a imprensa, o caso se chama Héverton e não há mais nenhuma menção ao nome de André Santos.