Desde moleque, quando comecei a frequentar o Maracanã com meu pai, nutri um sonho que julgava ser de difícil realização: dar a volta olímpica no gramado do estádio, ao lado dos jogadores do Fluminense, após a conquista de um título. E durante o exercício da profissão de repórter consegui transformar o anseio em realidade.
Sem hipocrisia: como dizia João Saldanha, ninguém é filho de chocadeira. Todo jornalista que trabalha no esporte tem o seu time de coração. Nunca escondi que era tricolor, até mesmo quando fui setorista de Flamengo e Vasco.
Muitos colegas de profissão tentam se esconder atrás de uma imagem de isenção. Cascata que as redes sociais, em boa parte, se incumbiram de desmentir. Mas há outros que, assim como eu, nunca esconderam a sua paixão. E nem por isso desrespeitavam as instituições nas quais tinham que exercer o seu trabalho. Ao contrário, firmávamos vínculos de amizade e de admiração com funcionários, jogadores, técnicos.
Mas voltando ao sonho da volta olímpica, tive o prazer de realizá-lo em 2005, quando o Fluminense foi campeão carioca com a vitória de 3 a 1 sobre o Volta Redonda. Trabalhava para a Agência Placar e estava na Tribuna de Imprensa do Maraca – formando dupla com o colega e amigo botafoguense Josué Linhares.
O Voltaço, que vencera o primeiro jogo da final por 4 a 3, saiu na frente. Para ser campeão, o Flu teria que triunfar por dois gols de diferença. No finalzinho da primeira etapa, Tuta empatou o jogo numa jogada aérea um tanto confusa e deu a entender que poderíamos virar.
Pois bem: no segundo tempo, a torcida tricolor jogou junto com o time. O Volta Redonda não poderia resistir. Pressão total até que o querido Marcão desviou de cabeça e colocou o Fluminense em vantagem no placar.
Aturdido, o time do interior se segurava como podia. Já quase nos acréscimos, Josué me falou: “Paulo, vamos descer para assistir a disputa de pênaltis (que parecia iminente) no gramado”. Respondi: “Calma Josué, já vi o Fluminense fazer coisas incríveis ao apagar das luzes”.
Quando nos levantamos para tomar o rumo da escada que dava acesso ao gramado, olhei para o campo lá de cima pela última vez: neste momento, o guerreiro Leandro (Como jogava!) levantou a bola na área e o zagueiro Antônio Carlos subiu mais que o goleiro Lugão para, de “cucuruto”, marcar o gol do título.
Desci as escadas vibrando e, quando chegamos ao gramado, o apito final já havia soado. Como uma criança que realiza um sonho – afinal, estava mesmo prestes a realizar um sonho de criança – pulei, corri, confraternizei com os colegas de imprensa tricolores e com os jogadores. Após a entrega da taça, pude concretizar a sonhada volta olímpica. Inesquecível.
Nestes tempos difíceis que vivemos, nos quais temos que enfrentar perigos de todas as espécies, seja um vírus mortal ou mesmo governantes despreparados e desprezíveis, essa lembrança de sonho realizado vem trazer alegria ao meu coração. E que bom poder narrar este sentimento a todos vocês. Saudações Tricolores.
Panorama Tricolor
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