Na história da humanidade, na história do pensamento humano, sempre houve a dicotomia entre o senso comum e o senso crítico, quase que uma luta entre esses dois lados tão opostos na busca pelo conhecimento, na busca de chegar a conclusões sobre algo. Sempre foi assim. Mesmo hoje, com o avanço da ciência e da tecnologia, em determinados setores da sociedade, o senso comum ainda se sobrepõe ao senso crítico.
Definimos senso comum como o modo de pensar da maioria das pessoas, noções comumente admitidas pelos indivíduos. Significa o conhecimento adquirido pelo homem a partir de experiências, vivências e observações do mundo. Esse saber não se baseia em investigações científicas que usem metodologias comprovadas para se concluir sobre algo. O senso comum se caracteriza por conhecimentos empíricos acumulados ao longo da vida e passados de geração em geração ou por “achismo”.
Por outro lado, enquanto o senso comum está associado ao conhecimento irrefletido, o senso crítico é baseado na crítica, na reflexão, na pesquisa e no pensamento.
No mundo da Internet, o senso comum é um oásis para que cheguemos a uma conclusão empírica, não científica. Este tipo de conclusão vai se propagando, se repetindo até que se torne uma verdade inquestionável. A economia brasileira vai mal? Culpa da presidente, claro. Não se analisa a economia global, os entes privados da economia, o mercado, nada. A China é comunista. É o que diz o senso comum. Aí eu pergunto como ela pode ser comunista se está dividida em classes, se há empresas que objetivam lucros, se há bolsa de valores, por exemplo. Você é louco, a bandeira é vermelha e tem a foice e o martelo, claro que é comunista, diz o senso comum. Por aí vai…
Mas não há em nenhum outro lugar nada mais profícuo para o senso comum que o meio do futebol. Qualquer jogador mais ou menos vira craque fazendo meia dúzia de jogadas bonitas. Técnico não precisa de tempo para armar o time, tem que sair ganhando tudo a toda hora e logo de cara. Caso contrário, é um bosta. Para o senso comum, técnico bom tem que ser técnico campeão. Por essa lógica, nunca teríamos técnicos bons, uma vez que a maioria deles não foi campeão no primeiro time que treinou.
Cuca, por exemplo, que ganha milhões na China, é hoje um dos melhores técnicos do país. Porém, demorou anos para ganhar títulos, era defenestrado, taxado como azarado. Hoje, a torcida do Fluminense clama por ele treinando o Flu, como se pudéssemos ter tudo o que queremos ou como se o Cuca custasse duas mariolas e uma jujuba. Aliás, o Cuca fez o que fez no Fluminense em 2009, livrando o Flu do rebaixamento numa campanha final épica, mas logo em 2010 pediram sua cabeça por derrotas no pífio Campeonato Carioca.
E o Abel? Durante toda a campanha do Flu no campeonato de 2012 foi chamado de burro e defenestrado por boa parte de nossa torcida. Quando perdeu cinco jogos seguidos no momento de reestruturação do time, após o tetracampeonato, foi mandado embora, pois a torcida praticamente exigia sua saída. Um horror.
Na década de oitenta, Nelsinho assumiu o Fluminense cheio de jogadores da base, tendo apenas trabalhado pela inexpressiva Desportiva Ferroviária. Foi campeão. Em 1983, Carbone veio do Goytacaz para treinar um Fluminense em formação. Tenho certeza que se fosse nos dias de hoje, ambos teriam sido fritados pela torcida que quer apenas técnico já campeão, top de linha que ou estão bem empregados ou são caros demais.
Estou fora do senso comum. Eduardo Baptista não é top e nem horroroso, como dizem 95% dos torcedores. Precisa de tempo. Todo técnico precisa de tempo para armar seu time. Fez o Sport jogar no Brasileiro e fez o Flu quase chegar a final da Copa do Brasil. Repito: se for para tirá-lo para trazer um dos cinco melhores do Brasil, estou dentro, caso contrário, será essa troca de técnicos sem fim.
Mas o senso comum já o vaticinou como um técnico ruim. Assim como o fez com Abel, Cristóvão, Enderson Moreira e até Cuca.
Uma tristeza.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @mvinicaldeira
Imagem: MVC / PRA
É Caldeira. Eles esquecem muito rápido. Pediram as cabeças do Cuca e Abel lá atrás. Agora os querem de volta.
Como se eles fossem baratinhos ou nós fossemos o Barcelona.