O sanatório geral (por Marcus Vinicius Caldeira)

CALDEIRA VERDE

1.

Levir Culpi, assim que chegou ao Fluminense, pediu para que preparássemos nossos remedinhos porque iríamos precisar, por conta das fortes emoções que teríamos com ele no comando. Já era um meio de desarmar a galera, preparar o espírito para que todos entendêssemos que determinadas situações não se mudam da noite para o dia e, principalmente, porque como vimos na sua passagem recente pelo Atlético Mineiro, os times treinados por ele jogam no limite, atacando muito e se expondo constantemente.

Mas, o engraçado é que, ao contrário da recomendação dele, ele acabou sendo o remedinho. O time passou a não perder jogos (já são dez ao todo sem perder, oito sob seu comando). Somos finalistas da Primeira Liga, líderes do Campeonato Carioca e eliminamos o jogo de volta pela primeira fase da Copa do Brasil nessa semana.

Uma verdadeira loucura.

Loucura boa, claro.

2.

A verdade é que muitos tricolores estão precisando é de outro tipo de remedinho.

Esta semana, um grupo de tricolores, do qual faço parte, que tem o entendimento de que o momento político atual sugere um golpe de estado via judiciário e legislativo,  se intitulou “Tricolores pela Democracia” e resolveu lançar um manifesto contra esse golpe mequetrefe e pelo respeito à democracia e às urnas.

O manifesto foi publicado no Blog do Fagner Torres (membro do Panorama) na ESPN. E a repercussão foi imediata, para o bem e para o mal.

De cara, muitas adesões de tricolores, em consonância com o que estava escrito, querendo subscrever. Tivemos até a inclusão, a pedido do próprio, de Chico Buarque de Holanda.

Uma dádiva, a torcida que pode ter um Chico Buarque entre os seus.

Opa, menos para alguns mentecaptos que, por ideologia (ou falta de), resolvem desancar com um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira por conta de seus posicionamentos políticos.

Rivotril neles.

3.

Pois bem, logo que o manifesto foi para o ar, as reações contrárias foram instantâneas. Normal, num ambiente democrático (do qual eles não gostam, uma vez que preferem o ambiente de pensamento único, o deles). A questão é que, em vez de criticar o teor da nota, o que seria legítimo, já que ninguém é obrigado a concordar com tudo, resolveram criticar o método e inventar normas de conduta.

Muitos começaram a cagar regras em relação a tricolores se posicionarem e ao fato da camisa do clube aparecer no manifesto. Queriam o que? Que colocássemos a do Flamengo? Que não colocássemos nada? Se somos um grupo de tricolores com um pensamento afim, nada mais justo do que usarmos nossa linda camisa e escudo para tal.

Ou será que toda vez que algum tricolor falar de política e religião, terá que tirar a camisa? E quem tem tatuagem, faz o quê?

Surtaram de vez.

4.

No auge do surto coletivo, um membro do Conselho Diretor (que, independente disso, tem o meu respeito e minha admiração) resolveu solicitar à diretoria do Fluminense que desautorizasse o uso do escudo, da camisa e das cores em casos como esse.

Baseado em quê, cara pálida? O estatuto do clube só proíbe manifestação partidárias e religiosas de sócios dentro do clube. Fora dele, o Fluminense não tem alçada para dizer o que tricolores podem ou não fazer.

Qual artigo da constituição federal  proíbe manifestação política, religiosa ou cultural com camisas de clubes?

Na boa, enlouqueceram.

5.

Para completar o FEBEAPÁ (Festival de Besteiras que Assola o País), um blogueiro resolveu reunir uns tricolores e fazer uma carta aberta condenando o manifesto. Eu aceitaria na boa uma carta aberta rebatendo o teor e o posicionamento. Democracia é isso. Cada um pensa de um jeito e faz a disputa na sociedade. Mas, de novo, erraram na forma.

Pior, acusaram os assinantes do manifesto de “usurparem os símbolos tricolores”.

Uma aberração, uma vergonha. Onde está definida a forma, local e razões pelas quais tricolores podem usar os símbolos da paixão clubística que escolheram para a vida?

Em que mundo esses caras vivem?

Isso de “usurpar símbolos” me parece coisa daquelas seitas de fanáticos religiosos que normalmente acabam em suicídio coletivo.

Cuidado para não cometerem “arakiri baiano”.

6.

Também teve conselheiro, que se acha síndico do clube e porta voz da moral e ética tricolor, querendo cagar regras.

Teve site de notícias, que em 2014, de forma desavergonhada, pediu voto para Aécio Neves, que publicou, há menos de um mês, foto do Fred com Jair Bolsonaro e agora resolveu publicar que é condenável divulgar posicionamentos políticos usando as cores do Fluminense. Uma hipocrisia total. Bem que me avisaram para não voltar a escrever lá, mas, como sou teimoso e não guardo rancor…

7.

Ainda bem que a diretoria não embarcou na canoa furada dessa loucura total e publicou uma nota oficial correta, dizendo que não era posicionamento do clube e que o mesmo está alheio a essas manifestações políticas e preocupado apenas com o futebol.

Perfeito.

O Fluminense é patrimônio de sua torcida. Sua torcida é composta por gente de esquerda, de direita, isentões, católicos, judeus, ateus, umbandistas, negros, brancos, índios, homens, mulheres, homossexuais e todos têm o direito de se expressar como queiram com a camisa do Fluminense.

Esse patrulhamento é ridículo, abominável e insano.

Aliás, muitos desses tricolores que repudiam o manifesto depreciam xingam o clube e fazem piadas  quando o seu futebol está mal. Aí, sim, em total desrespeito à instituição.

Fim

A verdade é que tudo isso vai passar.

Momentos de crise são bons por conta disso: máscaras caem e a hipocrisia vem à tona. Quem tenta demonstrar bom senso exibe a real insanidade. Um turbilhão de insensatez.

De minha parte, seguirei sempre defendendo meus posicionamentos e as cores verde, branco e grená.

Por enquanto, sigo cantando o maior de todos:

“Ai que vida boa olerê… Ai que vida boa, olará… O estandarte do sanatório geral vai passar”…

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @mvinicaldeira

Imagem: MVC / PRA

14 Comments

  1. Excelente texto, Caldeira. Postei no Blog Laranjeiras manifestando o meu desejo de subscrever o Manifesto, mas infelizmente até agora não tive o meu nome incluído.

  2. Que tal o blogueiro que nos acusa de usurpadores participar de um site “Tricolores de Direita” que tem o Tio Sam com escudo Fluminense? Hipocrisia pura.

  3. Noves fora minha democrática divergência política contigo, caro Caldeira, nesse ponto concordo plenamente! Cada que se posicione como quiser, e usando a camisa que quiser, ainda que do clube do coração! ST

  4. Assim que li o manifesto fiquei ainda mais orgulhosa de ser Tricolor.
    Eu tb gostaria de ter podido assinar.
    Parabéns pela clareza dos argumentos e pela beleza das palavras!

    Saudações Tricolores

  5. Assino embaixo, pois concordei com teus argumentos e assinaria embaixo do referido manisfesto, caso ainda fosse possível…

    Helvio xavier

    1. Vou pedir pro Fagner atualizar seu nome no manifesto.

  6. Meu pensamento político é diametralmente oposto ao seu e vejo, com tristeza, que no país, hoje, praticamente só existem políticos de esquerda ou a grande geléia desonesta que é a imensa maioria. Raramente aparece alguém com coragem para defender idéias de direita. Minha passagem por aqui é apenas para cumprimentá-lo pela maneira polida de defender seus pontos de vista. E vamos falar de FLUMINENSE que está vivendo um momento muito interessante. ST.

    1. Obrigado! Vamos com força e fé para o título da Primeira Liga. ST4.

  7. Excelente, Caldeira. Gostaria de ter escrito o texto todo.

    ST,
    João Leonardo

  8. Discordo de publicar tal manifestacao politica num espaço que seria para falar de futebol e do fluminense, o que nao minha opiniao, pode levar pessoas a associarem o exposto com a marca do clube e/ou de sua torcida. Tanto eh q o clube logo se apressou em emitir a nota, dizendo que nao apoiava. Nao acho que o Fluminense devesse se meter na politica do brasil. Flu eh futebol..e como tal, deveria eh se posicionar perante a vergonha do que acontece na cbf. Nisso sim o flu deveria se meter..

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